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Nightwish & Epica: no Dia da Mulher as vocalistas falam como é ser uma mulher no metal

Por Emanuel Seagal
Postado em 08 de março de 2021

Floor Jansen, vocalista do NIGHTWISH, tem uma série de entrevistas em seu canal no YouTube chamada "Floor Finds", e hoje no Dia Internacional da Mulher, ela convidou Simone Simmons, vocalista do EPICA, para bater um papo sobre como é ser uma mulher em uma banda de metal, confira abaixo.

Floor: É o dia Internacional da Mulher e, claro, somos mulheres no mundo de homens, como eles sempre dizem e estamos por aqui há alguns anos e queria saber sua perspectiva por ser uma mulher no mundo masculino do metal e se você acha que alguma coisa mudou entre hoje e, digamos, 15 a 20 anos atrás.

Simone: É mesmo um longo tempo. Eu andei com homens por mais da metade da minha vida, e acho que me levou um tempo para ficar acostumada com a forma que ele sse comunicam e que eu me comunico, como meu cérebro funciona como mulher, como os deles funcionam, e isso algumas vezes causou discussões desnecessárias ou algum mal-entendido. Mas eu cresci com muitos homens, e meus colegas de banda brincam que eu sou pior que eles em "piadas sujas" e sabe, meu senso de humor, não tenho medo de falar, não me sinto parte de uma minoria, mas gosto quando estamos em turnê e tem outras garotas na estrada pois tem algumas coisas que você não pode ter uma troca com os caras, ou que você pode falar a respeito, como ser a única mulher na banda, não podes pedir aos seus colegas se eles podem te dar um absorvente ou algo desse tipo, é claro. Alguns vão fazer compras comigo, mas isso é algo que faço sozinha na maior parte do tempo. Eu tenho muitos irmãos e prefiro assim do que o inverso, se tivesse só mulheres comigo eu enlouqueceria. Acho que fiquei tão acostumada de andar com homens que eu me sinto segura e conheço a banda, a equipe e todo mundo que trabalha junto conosco. Há muito respeito e eu tive pouquíssimas experiências negativas, e as que tive não foram com as pessoas próximas, mas diria que foram mais com fãs.

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Floor: Isso é maravilhoso e acho que ser capaz de falar o que pensa é um fator importante para manter a comunicação e acho que é algo chave, independentemente de ser homem ou mulher, é algo que acho muito importante, você pode manter a comunicação aberta e abordar coisas, seja algo relacionado a, hmm, diferenças entre homem e mulher ou qualquer assunto, mas você já se sentiu assim, "me sinto ameaçada pela presença de homens, como se me enxergassem como um acessório, eu não sou um membro de verdade, eu não tenho a mesma importância, estou mais ali para o entretenimento deles, e não, eu sou uma musicista também e sou o mesmo que você". Você já teve alguma experiência assim?

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Simone: Com meus próprios colegas de banda não, talvez com a resposta vindo da plateia, apenas gritando nomes de partes do corpo e não levo isso muito a sério, a maior parte deles está bêbada mesmo, isso não me afeta. Eu já tive uma vez a experiência de um fã se aproximar e dar uma palmada na minha bunda e me virei e quase dei um soco nele, pois isso foi tão desrespeitoso, mas ele viu minha reação quando me olhou e acho que ele quase cagou nas calças após isso, isso é simplesmente algo inaceitável pra mim, e acho que o maior, e obviamente apenas poucas pessoas podem fazer isso mas a experiência de ser uma mulher ou apenas vocalista, independentemente de ser mulher ou um cara, se você é vocalista da banda todo mundo quer sua atenção e todos querem se aproximar de você, eles querem ver se você é de verdade, te tocar, beijar, abraçar e eu falo se não gosto de algo, é meu direito de me impor, não meus colegas de banda, mas é que a privacidade e, sabe, a sua bolha segura as vezes é desrespeitada, eu acho. Talvez não intencionalmente, mas já tive essa experiência.

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Floor: Sim, eu entendo o que você está falando e acho que isso ocorre independente de ser homem ou mulher, você não quer sua privacidade invadida. Meu espaço aqui, seu espaço aí, eu penso assim também e eu sou muito alta, o que me ajuda a aparecer um pouco, o que é ótimo pois consigo ter mais espaço em volta ao meu rosto mas isso também significa que está todo mundo próximo do resto do meu corpo e se as pessoas se aproximam demais eu acho isso invasivo também mas acho que isso é algo cultural, eu já percebi que em partes diferentes do mundo as pessoas enxergam esse espaço de forma diferente, mas sem dúvida parece que nós mulheres recebemos mais atenção no que diz respeito a encontrar pessoas de perto, mas se pensarmos na nova geração que está começando agora, as jovens garotas que querem fazer parte de uma banda, seja como vocalista, na bateria ou o que for há algum conselho que você poderia dar a elas?

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Simone: Eu só posso dizer "acredite em si mesma, defina seu objetivo e não seja distraída pela opinião de outras pessoas, escute o que seu instinto te diz. Eu sou uma pessoa que não gosta de ferir o sentimento dos outros ao falar o que penso, e já fiz isso para não ofender outros, mas no fim você é a pessoa que está sendo ferida e você tem que se impor, falar o que pensa e esquecer isso, pois se você não defender a si mesma, seus objetivos, suas necessidades, quem vai? Você tem que ser forte e na Holanda dizemos "você tem que ser forte em seus sapatos", você tem que saber o que quer e ter seu objetivo em mente e não ser distraída pelos 2% que discordam de você, focar no positivo, manter seu objetivo em mente, e saber que aparecerão dificuldades e não será uma linha reta pra cima, e a vida é assim de um modo geral, é, tente ser forte fisicamente e mentalmente e vá em frente.

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Floor: Concordo totalmente, e acho que o foco em ser diferente não ajuda muito. Sim, sou uma mulher, mas me sinto a mesma e sempre senti que eu sou um dos caras, com todas óbvias diferenças mas enfatizando as diferenças você acaba aumentando as coisas mas as aceitando, e como você disse tem algumas coisas que não podes fazer com os caras, então simplesmente não faça, mas talvez haja alguém com quem você possa, e isso talvez te isole um pouco mas se esse é o preço para fazer o que fazemos eu pessoalmente acho okay também e não acho que me daria bem num ambiente só com mulheres (risos) então eu reconheço isso e acho que independentemente de você ser um jovem rapaz ou garota começando, tocando metal ou tentando colocar seu pé na porta, é uma questão do seu foco e acho que hoje em dia é mais fácil começar do que talvez fosse 20 anos atrás, pois não é uma novidade, e nos anos 80 tivemos algumas mulheres abrindo as portas para nós mas quando chegou o fim dos anos 90 ainda era algo bem novo dizer "sou uma vocalista numa banda de metal", era algo como "você não se encaixa ali", e o sentimento mudou agora que é muito mais aceito, mas como dito os 2% das maçãs podres da cesta vão reagir à partes do corpo e agir como você estivesse ali apenas para seu entretenimento pessoal, são eles que estão perdendo e se você se arriscar a falar o que pensa e impor seu espaço, acho que o metal tem uma das mais maravilhosas cenas para fazer parte se comparado a música pop, rap, há muitos estilos diferentes e tantas pessoas diferentes e acho que a sociedade do metal é bastante agradável, mas novamente, há sempre as maçãs ao redor, mas a imagem é ótima e acho que comparada com outras cenas e diferentes partes do mundo se você pensar em igualdade e onde o dia da mulher diz respeito aos direitos da mulher em todo lugar, nós realmente progredimos bastante, eu realmente desejo que nós possamos fazer uma entrevista com uma mulher no meio da Índia e ter o mesmo tipo de conversa mas acho que isso vai levar mais alguns anos, espero que em breve possamos.

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Simone: Acho que ambas somos sortudas, ambas viemos da Holanda, um país bastante liberal onde mulheres tem direitos iguais aos homens ou homens tem direitos iguais aos das mulheres, vamos colocar dessa forma...

Floor: Mas não financeiramente

Simone: É, isso está acontecendo mas no cenário musical, o cenário do metal não é um ambiente hostil, me sinto segura na comunidade do metal, há muitos mal-entendidos sobre fãs de metal em geral, e acho que eles são os que mais amam a natureza, pessoas muito educadas, mas para nós mulheres, no cenário musical acho que o que você vê na indústria do cinema onde atrizes são igualmente boas e populares como seus oponentes masculinos, eles ganham muito menos dinheiro e isso é algo que acho que sou sortuda de não ter essa experiência, mas o lado negativo de ser uma mulher é que somos mais avaliadas pelos nossos colegas pela nossa aparência do que os caras. Os caras estão ficando com cabelos grisalhos, tendo rugas, estão envelhecendo, o que é ótimo, estamos envelhecendo também, não tenho mais 17 anos, mas as pessoas ainda gostam de focar no fato de que você deveria dormir no freezer para não envelhecer, sabe, é um processo natural, mas com as mulheres nós devíamos não crescer mais e ficar como nossas versões de 17 anos para sempre.

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Floor: É, esse é um estigma que seria adorável nos livrarmos e eu acabei de fazer 40 anos e definitivamente não estou mais sem rugas e tenho alguns fios grisalhos...

Simone: Estou ganhando alguns também (risos). É o corona (risos).

Floor: Eu gosto, e aprecio muito ver fotos de outras mulheres, também em filmes, para enfatizar o processo natural de envelhecimento das mulheres pois tem sido glorificado quando você não é, quando você é muito bonita com 50 anos mas parecendo ter 30 anos e as pessoas ficam "nossa, olha a idade dela de verdade", sim, ela é uma das sortudas que deu sorte com seus genes, mas a maioria de nós está ganhando rugas, um novo formato de corpo e isso deveria ser algo normal, é um estigma horrível que eu posso me sentir as vezes quando coloco minha maquiagem e vejo meu rosto e percebo "é, não consigo mais esconder isso" (risos) com qualquer tipo de maquiagem mas percebo que isso é normal, pois tenho vivido, chorado e usado meu rosto em todos tipos de formas e isso é uma aceitação pois não sou imune de pensar "que tal botox?", ou um filtro extra nas minhas fotos, e percebo que está ali e se você me encontrar vai ver e se me ver num palco talvez saiba que estou distante mas ainda está ali e não tenho 17 anos, e melhor, tenho 40 então tenho a experiência de vida de 40 anos e isso é muito legal, estou muito feliz em não ser mais uma adolescente.

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(...)

Simone: Nós temos uma grande plataforma para nos comunicarmos e parte disso é usada para divulgar a banda mas podemos ser mais abertas sobre nossos desafios para que outras pessoas possam se identificar e aprender, apoiar elas e sou bastante ativa nas mídias sociais mas compartilho apenas uma fração da minha vida por proteção da minha própria privacidade, meu filho, mas acho que talvez possamos ajudar mais, e eu posso ajudar mais com isso também e tentar ser um exemplo mesmo que nós mesmas somos apenas humanas e temos falhas e acho que pessoas que são exemplos deveriam mostrar suas falhas ou serem abertas sobre isso também. Definitivamente há algumas coisas que podem mudar quando se fala sobre o dia da mulher e desigualdade mas eu na cena do metal tenho pouquíssimas experiências ruins.

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Floor: Eu também

Simone: Mas de outras colegas, eu já ouví casos e me considero sortuda, já conhecí alguns caras não tão legais no cenário de divulgação eu acho, mas nós sabemos, nós provavelmente conhecemos ele, mas de um modo geral talvez pelo status de ser a vocalista de uma banda as pessoas se sentem menos inclinadas a te ameaçar ou colocar numa posição desconfortável, mas nunca tive medo de falar ou "ser uma mulher", não quero falar "ser homem", e dizer o que penso. Eu posso parecer inocente e adorável, mas eu posso me defender e encorajo mais mulheres a fazerem isso.

Nota relacionada:

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Floor: Isso é bom e espero que isso inspire as pessoas que nos viram hoje e gostaria de agradecer a você por fazer parte dessa série de entrevistas e desejo a você e a todas um grande dia internacional da mulher e que sua família esteja segura e seria ótimo se pudéssemos nos encontrar na estrada logo.

Simone: Seria ótimo, podemos tomar um chá com uma fatia de bolo de novo na Inglaterra (risos) como muitos anos atrás.

Floor: Exatamente! Muitos, muitos anos atrás, parece ótimo. Obrigado, ótimo te ver.

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Sobre Emanuel Seagal

Descobriu o metal com Iron Maiden e Black Sabbath até chegar ao metal extremo e se apaixonar pelo doom metal. Considera Empyrium e X Japan as melhores bandas do mundo, Foi um dos coordenadores do finado SkyHell Webzine, escreveu para outros veículos no Brasil e exterior, e sempre esteve envolvido com metal, seja com eventos, bandas, gravadoras ou imprensa. Escreve para o Whiplash! desde 2005 mas ainda não entendeu a birra dos leitores com as notícias do Metallica. @emanuel_seagal no Instagram.
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