Literatura: livro surpreende ao aliar 100 anos de pop/rock com eventos históricos
Por Mário Pescada
Postado em 25 de junho de 2021
Nota: 9
Um único livro se dispor a contar quase 100 anos da música do século XX é algo ambicioso. Agora, imagine esse mesmo livro associar 20 desses marcos musicais aos contextos culturais (cinema, televisão, literatura, artes em geral) e sociais (costumes, cultura, economia, política, comportamento) de cada época? O que à primeira vista parece loucura (e talvez tenha sido mesmo), se mostrou, ao final, uma grande sacada.
"Leia No Volume Máximo - Uma História da Música Pop do Século XX em 20 Canções", livro do jornalista mineiro Felipe Senra, relata em cada um dos seus 20 capítulos, um artista/canção que se tornou popular (daí o "pop" do título, podendo ser rock, eletrônica, metal, etc.) ao ponto de influenciar aquele período. Ao seu redor vão surgindo outros artistas/canções, curiosidades, fatos, bastidores e o que era vivenciado naquela época. A quantidade de informação de cada capítulo é enorme: para cada citação, é como se abrisse uma estrada lateral por onde Felipe segue para sua explicação, detalha o ocorrido, volta para a pista e segue em frente!
O livro começa, claro, detalhando o jazz/blues até chegar em CHUCK BERRY, o primeiro rock star: brigão, causador de problemas, mulherengo, estiloso, etc. Um cara que Lemmy Kilmister (MOTORHEAD) ficou impressionado quando viu pela primeira vez, que Keith Richards (ROLLING STONES) imita seus trejeitos na guitarra e que fez Angus Young (AC/DC) "seguir seus passos" (se você me entende...).
Depois, temos a fase ELVIS PRESLEY: branco, boa pinta, bom moço, carismático. Com seu talento e rebolado, ele colocou o rock dentro dos lares norte-americanos, mudando o estilo de vida, comportamento, moda, etc. dos jovens da época, causando um embate entre gerações. Porém, logo veio o consumo em massa de uma juventude filha da Segunda Guerra Mundial e acabou acontecendo o de sempre: o rock foi incorporou e virou um produto.
Felipe passa (obrigatoriamente) pelos BEATLES que, ao contrário do que muitos acham, no começo não tinham nada dos ingênuos moços que ficaram famosos. O quarteto mudaria para sempre o rock, pop, figurinos, apresentações ao vivo, produções de discos, equipamentos, etc. Havia um show business antes e outro surgiu depois deles.
Avança para o movimento hippie (BOB DYLAN, JEFFERSON AIRPLANE, JANIS JOPLIN, a guerra do Vietnã, flower power, etc.), o caos social do Verão de 68 que segue até os ROLLING STONES fechando os anos 60 no catastrófico show de Altamont, que teria como saldo três mortos, quebradeira, espancamentos, etc. Tanta loucura, excessos, drogas e mais drogas, acabaram formando um caldo grosso e perigoso: DEEP PURPLE, LED ZEPPELIN e o mais perigoso de todos, o BLACK SABBATH - a partir daqui, o rock seria elevado a outro nível, parindo o heavy, thrash, death, black metal e mais uma penca de estilos malditos.
A Inglaterra não ia bem das pernas nos anos 80 e medidas liberais foram introduzidas na sociedade (sim, nesse sentido mesmo que você pensou). O chato e maçante progressivo, o glam rock com suas plumas e paetês, o QUEEN e sua grandiosidade estavam distantes demais dos pobres mortais, até que o punk surge para acabar com toda essa pompa e fazer o rock ser perigoso de novo com SEX PISTOLS, RAMONES, CLASH, VIBRATORS, STOOGES, etc.
Como o tempo não para, o livro segue em frente abordando o reggae com seu eterno símbolo BOB MARLEY, a música eletrônica criada pelo KRAFTWERK, a discoteca batendo de frente com o rock, o fim da Guerra Fria, da União Soviética, a queda do muro de Berlim, a ditadura militar descendo o cacete no Brasil, etc.
Há ainda o surgimento da MTv que obrigou artistas/gravadoras a se adaptarem a era do video clip, os fenômenos pop (de estilo musical e de popularidade) MICHAEL JACKSON e MADONNA, um grupo de jovens drogados, falidos e selvagens chamado GUNS N´ ROSES vindo direto dos inferninhos de Los Angeles, o vinil sendo atropelado pelo CD, o glam metal/hair metal sendo enterrado vivo pelo grunge de NIRVANA, PEARL JAM, SOUNDGARDEN, etc., o britpop dos rivais OASIS e BLUR, o rap/hip hop comendo pelas beiradas até tomar conta das paradas e muito mais dos anos 90.
Achou que escrevi muito? Acredite, isso foi só um pouco do que está no livro - compre e descubra o resto!
A forma com que Felipe conta essa linha do tempo é direta, divertida, cativante. Ainda bem, senão o livro teria a frieza de um livro de história, um amontado de informações sem vida. Você vai lendo, vai lembrando dos fatos, conhecendo outros e isso faz com que vá mergulhando cada vez mais no livro e continue lendo cada vez mais para saber o que vai vir a seguir. Viciante!
Claro, você acaba sentindo falta de uma banda/disco aqui e ali, mas é impossível cobrir tudo - e olha que suas 400 páginas cumpriram muito bem seu papel. Há sim uma carência de falar mais do Brasil, dos nossos artistas e discos - fica aqui minha sugestão para uma versão tupiniquim do livro.
Interessados em obter uma cópia do livro basta enviar um e-mail para o autor em [email protected] ou através deste link.
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