Garotas do Rock - 36 novidades no Metal
Por João Petrucci
Postado em 28 de abril de 2022
As garotas já tomaram os lugares dos caras no Metal - para a tristeza dos tiozões conservadores fãs do estilo. E, para quem acha que o Rock já era, elas estão aqui para refutar - e com direito a temas atuais: anti-'novo fascismo', liberdades individuais, homofobia, cristianismo, censura e posição da mulher na sociedade. Ah: até mesmo nos vocais guturais, elas já fazem o trabalho em uma forma muito melhor que vários marmanjos de bandas consagradas! Selecionamos, em dois videos, 36 bandas com garotas que estão chutando tudo!
Quatro dessas bandas terão um sucinto review sobre os respectivos lançamentos que aconteceram nesses primeiros meses de 2022. Não obstante, gostaria de citar outras quatro que estão na iminência de lançarem novos albuns: Future Palace, The Big Deal, Volturian e Walk in Darkness (em breve, falaremos individualmente de cada lançamento!). Focamos em algo além de Jinjer, The Pretty Reckless, Nervosa ou outras bandas que já figuram o bastante no site.
Temos em mãos outros quatro albuns recém lançados (quais não pulam fora de nosso player): Os maravilhosos "Unfinished" (Shield of Wings), "Erebos" (Venom Prison), "Eternal Blue" (Spiritbox) e "Nightfall" (SETYØURSAILS).
Shield of Wings é uma banda americana de metal sinfônico. Sim: também me assustei quando soube que são americanos! Segundo os próprios me disseram em mensagens trocadas, a banda iniciou suas atividades em meados de 2000, entrando por um hiato de 2012 a 2020. A partir da entrada das talentosas Aliya Daye (teclado e segunda voz) e Lara Mordian (vocal principal), a banda texana liderada pelo guitarrista James Gregor se reinventou. O vocal de Mordian é excelente, contrastando muito bem com a versatilidade vocal de Daye (ela canta como soprano a um potente gutural). O primeiro album, Unfinished (um belíssimo trocadilho pela vicissitude que os acometeu), traz muitos elementos do sinfônico, folk e Gothic Doom Metal, numa "mistureba" perfeita. O meu destaque vai para as excelentes faixas Wetland, Mind of Myth, Cedar e Sunfire Shower (esta última, a melhor faixa do disco).
"Erebos" é quarto album de estúdio da banda britânica Venom Prison. Sua frontwoman, Larissa Stupar (de ascendência russa), é um exemplo a ser seguido por todas garotas do Rock - além de excelente vocalista gutural (que deixaria muitos marmanjos com dor de cotovelo), ela é uma militante das causas femininas no Rock. Em recente artigo assinado à Kerrang! (publicada no dia Internacional da Mulher), ela fez excelentes observações sobre as condições das mulheres no cenário do Rock. Mamãe pela primeira vez há poucas semanas, ela conta sobre as dificuldades e falta de apoio às mulheres - pois há gravidez e maternidade, algo que indústria da música parece não dar muita atenção (lamentavelmente). Inicia falando sobre a hodierna morosidade na conquista da igualdade dos gêneros no trabalho - o que, infelizmente, é um fato que vemos até no maior canal de televisão deste nosso país. Em seguida, mostra um estudo no qual a desigualdade é refletida até na música (onde a representatividade feminina, em Streamings, chega a ser menos de um quarto do total!). Cirurgicamente, Stupar comenta sobre as dificuldades para artistas puérperas - segundo ela, sendo uma plausível razão para que o meio do Metal seja tanto dominado pelos homens (já que gravidez e responsabilidades de mãe afastam as mulheres do Rock). Esta falta de representatividade pode ser o motivo pelo qual as artistas se sentem tão preocupadas em se sacrificarem para seguirem seus desígnios musicais, pois também precisam cuidar de filhos e de si mesmas. Ela mesma se sentiu assim: muitas perguntas, mas às quais ninguém parece ligar (para estas preocupações importantes que as mulheres têm). O artigo assinado por ela pode ser visto neste link (em inglês).
Sobre o album, não há muito a dizer: é o melhor lançamento de Death Metal deste ano (até então!). Conta com as maravilhosas faixas "Judges Of The Underworld", "Pain Of Oizys", "Nemesis" e "Technologies Of Death". O Venom Prison é uma banda que leva muito a sério o tema social, constantemente protestando contra novos flertes com o Fascismo que vemos na sociedade atualmente. Stupar é a grande responsável pelo sucesso do Venom Prison, com seu estilo raivoso e pesado de cantar. Ela, com toda certeza, cantaria como substituta de QUALQUER HOMEM em bandas com vocais guturais! É a melhor do estilo neste momento. Impressiona muito como ela consegue fazer um vocal "podreira" com tamanha competência (para quem acha Alissa White-Gluz e Angela Gossow impecáveis, escutem a Stupar ao vivo!)...
"Eternal Blue" é o aguardado debut dos canadenses do Spiritbox. A banda, formada pelo casal Courtney LaPlante (vocais) e Mike Stringer (guitarra), há pelo menos três anos tem soltado singles no Youtube, mostrando cada vez maiores qualidades. O sucesso do (já) Hit "Holy Roller" (música com conteúdo que fala fortemente do cristianismo) foi imediato - uma faixa maravilhosa, pesada e moderna (ainda assim, incorpora toques inigualáveis, como a influência do estilo Drum'n'Bass). LaPlante e o marido, Mike, vieram juntos da banda Iwrestledabearonce. O disco conta com faixas incríveis (além da supracitada 'Holy Roller'): "Circles With Me", "Blessed Be", "Secret Garden" e "Constance". LaPlante é, sem dúvidas, uma das melhores cantoras de Metal da atualidade - sua habilidade vocal, alternando da voz alta ao gutural, é incomensurável. A banda flerta com o Nu Metal e Death Metal em seu instrumental - enquanto as letras versam muitos sobre o lado pessoal de LaPlante (uma mulher cristã, casada e, como não podia deixar de ser, defensora das boas causas).
O album "Nightfall" é o debut dos alemães do SETYØURSAILS - conforme o release diz, é uma banda que destina toda sua raiva contra o "racismo, sexismo e homofobia" (tão atual...) - em um ótimo Post Hard Core melódico! A excelente cantora da banda, Jules Mitch, é abertamente lésbica, mas não se adequa a discursos oportunistas de pessoas que querem, no bom português, "lacrar" em cima de uma causa tão importante. A banda faz um excelente (e moderno) Melodic Death Metalcore, trazendo a nós a um disco muito bem recheado com quatorze faixa (levando-se em conta a bônus), algo raro em tempos de streamings digitais. Vamos falar do poder vocal desta "baixinha": Jules Mitch, como todo fenômeno que surge nesse mundo a cada década, consegue ir do gutural perfeito às altíssimas notas em milésimos de segundo! Uma vocalista moderna, técnica e muito competente! Temos alguns singles com bom destaque no Youtube. O album, em si, é muito linear e coerente. Vale cada segundo de seu tempo - afinal, é uma ótima diversão! Recomendo uma ouvida nas seguintes faixas: "Ghosts", "Nightfall" (título), "Reason" e "Secrets".
Gostaríamos de falar mais sobre o tema - afinal, essas garotas estão realmente no topo da qualidade musical. Que tal olharem com carinho para o nosso Hatomic (quarteto de Caxias do Sul, com quatro garotas de muito talento)?
E, então, "tiozões conserva" que nos lêem: Qual dessas bandas vale a pena seguir em plataformas digitais (ou vale rechear a fatura do cartão por uma loja de discos)? Será mesmo que o Rock já era? Eu acho que o (pré)conceito já se foi...
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