AC/DC: A explicação de Bon Scott para não gostar de gravar singles
Por André Garcia
Postado em 30 de dezembro de 2022
Nos anos 40 e 50, o mercado fonográfico era dominado pelos singles, que representavam a maior parte das vendas. Álbuns eram vistos como desnecessários: como continham apenas alguns poucos hits e o resto era enrolação, então era melhor comprar apenas os hits.
Essa cultura mudou a partir dos anos 60, com o surgimento dos Beatles. De repente, tínhamos álbuns onde todas as faixas eram hits, então cada música era importante na composição do álbum como uma obra maior que a soma de suas faixas.
No começo de novembro de 1977, o AC/DC estava a poucas semanas de partir para uma turnê nos Estados Unidos ao lado do Rush abrindo show para o Kiss.
Em passagem por Londres, no dia primeiro seu vocalista Bon Scott gravou uma entrevista para o programa musical australiano Countdown — um dos grandes apoiadores da banda em sua terra natal desde o começo de sua trajetória. Entre outras coisas, Bon foi perguntado sobre a falta de esforço da banda para o lançamento de singles.
Countdown: Vocês sempre foram uma banda de rock bem coesa, mas, por algum motivo, focam mais em performances ao vivo — principalmente na Inglaterra. Nunca houve um single definitivo lançado no mercado inglês. Tem havido uma certa confusão com a identidade da banda. Por que isso?
Bon Scott: As bandas por aqui que emplacam singles sem antes terem estabelecido uma base de seguidores vão sofrer o mesmo que o Sherbet [uma das bandas australianas de maior sucesso nos anos 70]. Eles tiveram uma música de sucesso aqui, mas a turnê britânica foi só um show, sabe [risos]? Não quero desmerecer eles, mas era uma banda de gravação e não tinha seguidores, então ninguém ia ver os shows deles. Nós temos seguidores. Se lançássemos um single agora, ele iria muito bem.
Countdown: Por que vocês não lançam um single, então?
Bon Scott: A gente não escreve singles…
Countdown: Claro que escrevem!
Bon Scott: Já fizemos isso no passado, mas a gente não escreve alguma coisa especificamente pensada como single. De jeito nenhum.
Countdown: É que é uma coisa comum para uma banda, lançar single.
Bon Scott: Nós somos uma banda de álbum — de estrada e de álbum. Singles não significam nada para ninguém. Não faz sentido. Pode ser que alguma rádio como a BBC toque (o que provavelmente nunca vai acontecer), pode até entrar nas paradas, mas não fazemos [músicas] com a intenção de ser um single.
Countdown: O mesmo vale para a Austrália?
Bon Scott: Não. Austrália é um outro mercado, totalmente diferente, sabe? [Lá] se sair alguma música que tenha a cara da banda em um álbum, ela é lançada como single. Mas aqui álbuns são o foco. Se as rádios quiserem, é só pegar uma faixa e tocar bastante, vai promover o álbum tanto quanto um single.
AC/DC
O AC/DC foi formado no começo dos anos 70 na Austrália pelos fanáticos por rock e blues irmãos Young — Angus e Malcolm formavam a dupla de guitarra, enquanto George, o mais velho, fazia papel de produtor e mentor. Com a entrada do icônico e carismático vocalista Bon Scott, a banda gravou seus primeiros álbuns, soberbas demonstrações de rock pauleira e sem frescuras.
Após anos de ralação emendando turnês e gravações sem parar, a banda iniciou sua ascensão internacional com "Let There Be Rock" (1977), chegando ao mainstream com "Highway to Hell" (1979). Por outro lado, recebeu um baque enorme com a trágica e inesperada morte de Bon Scott, superada em grande estilo com "Back in Black" (1980). Estreia de Brian Johnson no vocal, o sucesso foi tanto que o álbum está entre os mais vendidos de todos os tempos com dezenas de milhões de cópias vendidas.
Com o passar do tempo, a banda se manteve na primeira prateleira do rock com constantes lançamentos e turnês. O legado que construiu, até hoje é mencionado por quase tudo que é banda de rock pesado e heavy metal como uma das principais influências. Nos últimos anos sofreu duas grandes baixas entre 2016 a 2018 que colocaram a banda em cheque: a morte de Malcolm Young e o afastamento de Brian Johnson, substituído temporariamente por Axl Rose.
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