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Em 1968, Paul McCartney comentou faixas do "White Album", clássico dos Beatles

Por André Garcia
Postado em 26 de janeiro de 2023

O ano de 1968 foi um divisor de águas na trajetória dos Beatles. Após revolucionarem a música como os psicodélicos e super produzidos "Revolver", "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" e "Magical Mystery Tour", com seu álbum duplo autointitulado, eles deram uma inesperada guinada para um retorno à sonoridade orgânica.

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Foto: Capa Coletânea 1967-1970
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Conforme publicado pela Far Out Magazine, em 28 de novembro de 1968, apenas uma semana após o lançamento do "White Album" (como ficou conhecido), Paul McCartney deu uma entrevista para Tony Macurthur, da Radio Luxemboug. Entre outras coisas, o baixista comentou uma seleção de faixas daquele trabalho.

Back in the U.S.S.R.

É uma faixa que meio que simplesmente surgiu. Chuck Berry uma vez fez uma música chamada "Back in USA" — bem americana, bem Chuck Berry. Era, tipo, "Estou servindo ao exército, quando voltar para casa vou beijar o chão, mal posso esperar para voltar aos Estados Unidos. Já essa música, na minha cabeça, é sobre um espião [soviético] que passou tempo demais nos Estados Unidos, e ficou muito americano. Quando voltou para a União Soviética, ele ficou, tipo "Deixa para lá, tira o telefone do gancho"

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Happiness is a Warm Gun

A ideia veio de um anúncio em um jornal americano, que dizia "Felicidade é uma arma fumegante", meio que sugerindo um longo e quente verão com um rifle novo — venha comprar! Era um anúncio em uma revista de armas, aquilo foi tão doentio, a ideia de "Venha comprar sua máquina de matar!" acabou sendo um grande verso, John pegou aquilo e usou como base. E o restante da letra eu acho ótimo, sabe, é um poema que se desenvolve e vai dar em "Felicidade é uma arma fumegante" John não estava falando aquilo literalmente, eram apenas palavras. Se perguntar se ele estaria disposto a morrer por essas palavras, estou certo de que não. Não foi sério. É apenas uma boa poesia.

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Martha My Dear

Eu simplesmente comecei a cantar umas palavras com a melodia. Eu nunca escrevo uma música pensando em fazer isso. Às vezes até faço, mas geralmente não, apenas arrumo uma melodia e algumas palavras surgem na minha cabeça. Essas se tornaram "Martha My Dear", que é sobre minha cachorra.

Blackbird

É simples, em conceito, porque não conseguimos pensar em nada para botar nela. Isso que eu estava falando sobre o "Sgt. Pepper's...": provavelmente lá teríamos trabalhado nela até dar um jeito de botar violinos, trompetes e tal. Eu não acho que ela precisasse, é uma daquelas canções de pegar e cantar. A única parte que colocamos alguma coisa foi no final, que ela pára e volta. Mas ao invés de colocar um instrumento, pusemos um Melro-preto cantando.

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Rocky Racoon

Eu estava sentado na lage, na Índia, John e eu estávamos sentados tocando violão com Donovan, aí comecei a tocar aqueles acordes de "Rocky Racoon", de brincadeira. Aí começamos a jogar palavras, todos os três. Saiu bem rápido. Esse tipo de coisa nem dá para dizer de onde saiu, porque simplesmente surge na sua cabeça. Eu não sei nada de montanhas, caubóis e índios, só inventei.

Birthday

[O filme] The Girl Can't Help It ia passar na televisão, um antigo filme de rock n roll com Little Richard, Fats Domino, Eddie Cochran, Gene Vincent... A gente queria assistir, então começamos a gravar às 5 horas dizendo "Vamos só gravar a base, vamos manter bem simples, tipo um blues de 12 compassos". Gravamos uns trechos sem saber o que seria a música, o que colocaríamos por cima. Quando vimos, não tínhamos mais tempo para nada, então só gravamos aquilo e fomos para minha casa assistir The Girl Can't Help It. Depois voltamos para o estúdio e fizemos a letra. Aquela música foi feita em uma noite, e é uma das minhas favoritas por isso. Para mim, ela funciona. É uma das melhores para dançar, por causa

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Helter Skelter

Eu li uma review de uma música, não lembro a banda, dizendo que ela era selvagem, cheia de eco, e que eles berravam... Eu lembro de ter pensado "Teria sido ótimo fazer isso, pena que já fizeram". Quando ouvi a música, foi estranho porque era muito sofisticada, não era agressiva, berrada e com eco de fita. Aí eu pensei "Bem, vamos fazer aquilo então!" Eu tinha essa música chamada Helter Skelter, que era ridícula. Fizemos aquilo porque eu curto barulho.

Honey Pie

Meu pai sempre tocava velhas canções como aquela, e eu curtia as melodias das antigas canções. A letra também, sabe, antigamente era uma mulher cantando sobre um homem. Só coisas positivas, o que não se vê muito hoje em dia. Eu meio que adoraria ter sido um escritor nos anos 20, porque curto aquela coisa de cartola e vestidos de cauda. Essa música sou eu fazendo isso, fingindo estar em 1925.

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Good Night

John que escreveu ela, basicamente. O que é surpreendente, porque ele não costuma escrever esse tipo de coisa. Ela é uma doce canção. O arranjo foi feito por George Martin [o produtor], porque ele é muito bom naquele tipo de coisa. Ela é muito doce e, de fato, uma despedida.

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Sobre André Garcia

Sou redator e tradutor freelancer e escritor, autor do livro de contos Liber IMP. Ouço rock desde pequeno, leio coisas sobre bandas desde sempre e escrevo sobre ela já tem anos. Cresci como fã de Iron Maiden e paladino do rock, mas já me tratei. Hoje sou fã de nomes como Beatles, David Bowie, The Cure, Kraftwerk e Velvet Underground, e de cenas como a Londres psicodélica, a Nova Iorque proto-punk e a Manchester pós-punk. Escrevo notas e notícias rápidas para o Whiplash.Net visando compartilhar conteúdo relevante sobre música e cultura pop.
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