Roger Waters abre a turnê sul-americana em Brasília com apresentação memorável.
Por Lelo Nirvana (a.k.a Marcus Lopes)
Postado em 27 de outubro de 2023
O artista Roger Waters sempre externou, dentro e fora do palco, o seu posicionamento político progressista. Em 2018, quando esteve em Brasília, o cantor britânico tentou visitar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em prisão declarada injusta pelo STF, mas esse encontro só foi possível agora. Naquele ano, o clima tumultuado da eleição no Brasil e a plateia dividida, não impediu que o cantor britânico defendesse os direitos humanos, criticasse o ressurgimento do neofascismo no mundo e se posicionasse contra o candidato Jair Bolsonaro sob uma atmosfera antagonista entre o público presente que aplaudia e vaiava o músico.
Para os fãs desavisados que achavam que, em 2023, poderia ser diferente, a mensagem veio antes mesmo do show começar e foi curta e direta: "Se você é um daqueles que diz que ama o Pink Floyd, mas não suporta o posicionamento político do Roger Waters, você pode se retirar e ir o bar agora". O recado, dessa vez, recebeu muitos aplausos e também faz alusão a uma de suas novas músicas chamada "The Bar" que como o próprio músico explicou, é um lugar para discutir pontos de vista e, quem sabe, mudar de opinião.
Assim teve início, em Brasília, o braço sul-americano da turnê de despedida dos palcos desse grande ícone e ativista do Rock, This is Not A Drill. A primeira música já foi "Comfortably Numb" (1979) com a nova roupagem feita em 2022, especialmente para a abertura dessa nova turnê, os quatro telões gigantes passavam o clipe que pode ser conferido no YouTube.
Na sequência, sem pausa para respirar, sons de helicópteros que remetem o álbum "The Wall" para a introdução de "Another Brick in The Wall" e delírio dos presentes. O setlist recheado de canções do Pink Floyd, teve breves momentos para as composições dos álbuns solos. A música "The Bravery of Being Out of Range" foi entoada sob fortes críticas aos presidentes estadunidenses e a estupidez das guerras.
As quatro últimas músicas da primeira parte do show fizeram uma bela homenagem aos músicos originais do Pink Floyd e ao primeiro guitarrista da banda, Syd Barrett. Esse foi um dos momentos mais emocionantes, as legendas no telão em português, espanhol e inglês narravam histórias do início do início do grupo e do sonho de montar uma banda quando Roger e Syd ainda estavam na faculdade. As músicas: "Have You a Cigar", "Wish You Were Here", "Shine On You Crazy Diamond" e "Sheep" fizeram parte dessa reverência.
O intervalo foi cronometrado pela a inserção de tijolos no telão que formavam uma parede branca e o retorno da banda aconteceu com mais músicas do álbum The Wall: "In the Flesh" e "Run Like Hell" que incendiaram a audiência e teve direito do porquinho voando sobre os presentes. O show seguiu com mais composições dos álbuns solos e depois uma sequência matadora do petardo The Dark Side of The Moon que ganhou recentemente uma nova versão mais sombria e bem diferente do original, mas para os ouvidos mais atentos, uma belíssima obra.
No final, a canção "Two Suns in the Sunset", uma canção do álbum The Final Cut que completou 40 anos, nos faz refletir sobre o poder de destruição das armas nucleares e o quanto a raça humana pode estar próxima de uma catástrofe nuclear e isso não é treino.
O espetáculo audiovisual foi um presente para todos que tiveram a oportunidade de comparecer, mas, especialmente para mim, no dia do meu aniversário. A produção foi impecável e a turnê "This Is Not A Drill" ainda passa pelo Rio de Janeiro, Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte e São Paulo.
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