"Entendeu, Tadeu?"; ex-membros do Engenheiros do Hawaii mandam diretas para Regis em podcast
Por Bruce William
Postado em 12 de setembro de 2024
Em 2023, o jornalista e crítico musical Regis Tadeu publicou em seu canal oficial do YouTube um vídeo onde explica porque ele detesta o Engenheiros do Hawaii. Dentre inúmeros comentários no vídeo, Regis diz coisas como: "As letras eram poeticamente provocativas no pior sentido do termo, porque eram frases aleatórias aparentemente criadas por análises combinatórias que soavam como se elas tivessem sido tiradas dentro de papeizinhos colocados a esmo dentro de um chapéu ou de uma caixa" e "'Toda forma de poder' é uma canção que traz uma pseudo-ironia contra os ditadores de governos de outros países da época, e é uma canção que na letra tem uma contundência e sacadas poéticas tão fortes quanto um prato de gelatina".
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Outro trecho: "Desde o primeiro disco dava pra sacar que essas letras vinham acompanhadas de canções absurdamente horrorosas e que, pro meu espanto e pro espanto de muita gente, ao longo da carreira da banda acabaram se tornando hits por falarem e atingirem de uma maneira muito profunda a alma dos fãs que sempre ansiavam ardentemente parecer inteligentes perante os amigos".
Regis chegou a confessar em outra ocasião que "adoraria levar uma invertida do Humberto Gessinger": Eu confesso que eu adoraria que o Humberto fizesse uma canção dedicada ao tio aqui, com uma letra pseudo poética, que é o que ele sempre faz, uma letra pseudo-poeticamente contra o tio aqui", se referindo à "Toxina", canção onde Humberto, conforme Regis, endereça ao ex-baterista Carlos Maltz uma série de críticas.
E, curiosamente, em um corte da participação justamente de Maltz, juntamente com o guitarrista Augusto Licks no podcast Inteligência Ltda, o tema era a ascenção do Engenheiros do Hawaii ao topo das bandas de Rock brasileiras dos anos oitenta, com o baterista contando como aconteceram as coisas sob seu ponto de vista, aproveitando para dar algumas "alfinetadas" em Regis.
Maltz explica que aquele movimento dos anos oitenta era algo espontâneo no Brasil, e que muitos músicos ainda não tinham plena consciência e sequer imaginavam o quão grande era a coisa que estava por vir. Mas o público procurava novidades, indo às lojas de discos, em uma época onde as bandas de Brasília estavam apenas começando. E conforme Maltz, havia um desejo geral por parte das novas bandas de fazer parte daquela cena. O movimento do rock estava no auge, com todos querendo descobrir bandas novas.
Como a adição de "Toda Forma de Poder" do Engenheiros à trilha sonora da novela "Hipertensão" catapultou o sucesso da banda
Então, de repente, as músicas começaram a tocar no rádio, algo incrível. A banda Engenheiros do Hawaii, por exemplo, começou a ser transmitida pelas rádios, o que era inacreditável. Quando isso aconteceu, suas músicas se tornaram grandes sucessos. "Eles abriram para a gente gravar nosso primeiro disco da banda, que é o 'Rock Grande do Sul'. Aí já queriam fazer uma superprodução no Rio, mas a gente não foi. Aí a gente pediu para ficar no mesmo esquema, e os caras toparam, porque o negócio deu certo", conta Maltz.
Naquela época, os contratos eram bem amadores, mas isso possibilitou que a banda gravasse do jeito que queriam. Daí, de repente, a música "Toda Forma de Poder" acabou sendo incluída na trilha sonora da novela "Hipertensão", embora a canção não tivesse ligação com a novela ou com a Globo. "Alguém colocou lá, foi o dedo do destino, porque aquilo estourou de uma forma absurda. O disco todo estourou. Mas isso já era o 'Longe Demais das Capitais', o disco da banda mesmo. No 'Rock Grande do Sul', tinha 'Segurança' e 'Sopa de Letrinhas'. A que estourou foi 'Segurança'. Ela começou a tocar no Brasil, era sucesso nas rádios alternativas", relata o baterista.
"Então, 'Toda Forma de Poder' foi colocada na novela por alguém, mas não sei como", prossegue Maltz, dizendo que aconteceu através de "canais subterrâneos", e que as pessoas acham que é só colocar uma música na novela e pronto, faz sucesso. "É só isso, botar na novela. Viu Tadeu? Bota tua música lá que faz sucesso também. Aí tu vai ficar de boa, em paz", diz Maltz, alfinetando o jornalista.
"Meus amigos, isso é um talento do caralho que o cara tem, de fazer música radiofônica, de fazer música que cola no ouvido das pessoas, de fazer música que cola no coração das pessoas", continua o baterista, mandando mensagens diretas para Regis. "Irmão, quarenta anos depois as pessoas estão lá, você está entendendo? Isto é um talento. Aqui no Brasil nós precisamos mudar algumas coisas. Menos inveja e mais observar como as coisas acontecem. Isso é um talento do caralho que o cara tem, é Humberto Gessinger. Claro que ele também teve sorte de juntar uma banda que fazia com que aquilo andasse. Por exemplo, ele arrumou um baterista, que sou eu. Sou um cara mediano na bateria, mas até por ser mediano, eu não me meto a ficar enchendo o saco, tá entendendo Tadeu?"
Neste momento todos estão rindo e até o Augusto manda alguns "Entendeu, Tadeu?". Mais adiante, Maltz conclui que, na opinião dele, a música não é para ser um manifesto intelectual que só o compositor compreende. As pessoas precisam se sentir bem ao ouvi-la, e ele entende que "Toda Forma de Poder" fez sucesso nas rádios e na novela justamente porque capturou o espírito da época. Naquele período, o Brasil estava saindo da ditadura militar e vivenciando a abertura política. O que aconteceu nos anos oitenta foi, de certa forma, uma continuação dos movimentos de rock e contracultura dos anos 60 na Inglaterra e nos Estados Unidos, conclui o baterista.
O vídeo completo dos ex-Engenheiros do Hawaii, o guitarrista Augusto Licks e o baterista Carlos Maltz, participando do podcast Inteligência Ltda, apresentado por Rogério Vilela, pode ser conferido no player abaixo.
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