O que o Legião quis dizer com "Filósofos suicidas, agricultores famintos" em "Petróleo do Futuro"
Por Bruce William
Postado em 30 de novembro de 2024
"Petróleo do Futuro" é a terceira faixa do disco de estreia da Legião Urbana, lançado no dia 2 de janeiro de 1985. A música, creditada a Renato Russo e Dado Villa-Lobos, é uma das mais cruas e diretas do álbum, fruto da forma como foi gravada. "A gente tentou fazer com que soasse como se o disco tivesse sido gravado com todo mundo junto, tocando ao vivo. Mas só conseguimos isso em 'Petróleo do Futuro'", disse o produtor José Emílio Rondeau, conforme relata Chris Fuscaldo no livro "Discobiografia Legionária" (Amazon). "Eles gravaram todos numa sala, com amplificadores ligados, de frente um para o outro, com microfonia e vazamento de bateria. Para mim, é o som que o disco todo deveria ter. Mas o Renato não gostava de eco. Falei que ficava melhor com um pouquinho mais, mas ele não queria", diz Rondeau.
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Conforme relata o letras.mus.br, o início da letra aparenta refletir as dificuldades de expressar e compartilhar visões e experiências pessoais ("Ah, se eu soubesse lhe dizer"), ao mesmo tempo em que se questiona a relevância dessas experiências ("E o que é que eu tenho a ver com isso?"), até que, em um determinado ponto, aparece a menção a "Filósofos suicidas/ Agricultores famintos/ Desaparecendo/ Embaixo dos arquivos...", que na interpretação do site, evoca imagens de desespero e desigualdade, criticando a estrutura social que permite tais extremos de existência.
Já o blog do Professor Pinheiro apresenta uma interpretação que foi publicada na revista "Discutindo Filosofia" - Ano 1, nº 3", sob o título "A Doutrina do Legião Urbana" de autoria de Marcos Carvalho Lopes, filósofo e professor de filosofia, que teoriza ser a afirmação da existência de filósofos suicidas e de agricultores famintos algo que funciona como antítese, uma figura de linguagem que age unindo idéias que seriam opostas. "Se é contraditório, quando sabemos que a atividade do agricultor é produzir alimentos, falarmos em agricultores famintos, deve ser também assim quando falamos em filósofos suicidas, donde depreendemos que a atividade do filósofo é oposta à do suicida. A filosofia se ligaria à vida, à valorização dela."
E uma análise complementar publicada no canal "Fala, Lenda!", de Zé Bonner, sugere que a música também explora a tensão entre empatia e apatia. "Quem nunca se pegou conversando com alguém sobre o seu problema, e a pessoa simplesmente ignora o seu problema e quer contar o problema dele, deixando você completamente de lado? A música trabalha com a ideia de alguém que poderia estar sendo apático com a história de outra pessoa, quando ele diz 'ah se você soubesse o que eu sonhei' e ao mesmo tempo ele diz 'você iria querer contar seu sonho também. E o que eu tenho a ver com isso?' Então, ao mesmo tempo que ele busca que as pessoas recebam a história dele, ele já diz que não quer ouvir a história da pessoa, o que mostra alguém completamente apático."
Na última metade do vídeo, Zé pontua a ideia da antítese citada mais acima: "Quando ele fala sobre 'filósofos suicidas' é muito complicado, porque a ideia do filósofo é alguém que valoriza a vida, que cultua a vida. E obviamente se um filósofo está se suicidando, é uma lógica de oposição. Assim como os agricultores que produzem alimentos e estão morrendo de fome, algo completamente de oposição. Então Renato trabalha com a ideia da empatia versus a apatia", e finaliza com uma interessante conclusão: "E o que seria esse 'Petróleo do Futuro'? Seria a nossa energia para as próximas gerações. O amor, o carinho, o afeto, a empatia. Esperamos muito que a nossa geração evolua a esse estágio, e que sejamos mais receptivos com as histórias alheias."
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