Marty Friedman afirma em livro que sofreu ataque de pânico antes de deixar o Megadeth
Por Mateus Ribeiro
Postado em 27 de novembro de 2024
Marty Friedman é um dos grandes nomes da história do Thrash Metal. Guitarrista da formação clássica da banda de Megadeth, ele gravou algumas das músicas mais celebradas do grupo liderado por Dave Mustaine, como "Holy Wars… The Punishment Due", "Tornado of Souls", "Symphony of Destruction", "A Tout Le Monde", "Angry Again" e "Trust".
A história de Marty Friedman como membro do Megadeth se encerrou no início do ano 2000, meses após o lançamento de "Risk", álbum mais controverso da carreira do quarteto. Dias antes de sair da banda, o músico sofreu um ataque de pânico, como ele conta em trecho de sua biografia "Dreaming Japanese" publicado no site da revista Rolling Stone.
Segundo o relato de Friedman, o Megadeth fez um show em 22 de dezembro de 1999. Essa apresentação fez ele refletir sobre a sua carreira profissional.
"O último show [antes do Natal] foi em 22 de dezembro, em Corpus Christi, Texas, em um maldito bar de esportes. O letreiro dizia: ‘HOJE À NOITE: MEGADETH e burritos por US$ 3,50’.
Em retrospecto, é engraçado, mas, na época, foi péssimo. Eu odiava ver meus companheiros de banda olharem para o letreiro e sentirem que o legado estava desaparecendo. Nós agitamos o local como se fosse uma arena, e o pequeno público saiu feliz, mas eu estava chateado. Por um segundo, me senti como um rato abandonando um navio que está afundando. Então pensei: ‘Espere um pouco. Não sou um rato, e por que eu deveria ficar em um navio que está afundando? O navio nem sequer é meu!’."
Após a apresentação acima mencionada, Marty foi curtir o Natal com sua então esposa (Chihiro). O que era para ser um período de relaxamento se transformou em um verdadeiro inferno para o talentoso artista.
"Passei a véspera de Natal conversando com Chihiro (...). Ela preparou minha refeição favorita para o jantar, enguia japonesa, e depois que comemos, eu me acomodei em nosso grande e confortável sofá, liguei a TV novamente (...).
De repente, meu coração começou a bater forte e, quando me concentrei nas batidas, elas se tornaram mais rápidas e pesadas. Parecia que meu coração ia explodir. Achei que poderia ter uma intoxicação alimentar. Estava com muita dor para pensar. Caí do sofá e não conseguia me mexer. Meu coração estava acelerado como um viciado em cocaína prestes a entrar em parada cardíaca, e as palpitações eram tão fortes que machucavam os músculos do meu peito. ‘Puta que pariu, será que isso pode ser um ataque cardíaco?’."
A ex-esposa de Marty ligou para o serviço de emergência. Felizmente, eles moravam perto de um hospital, o que provavelmente facilitou as coisas (que estavam complicadas para o lado do guitar hero).
"Um médico inseriu uma agulha em meu braço e a conectou a um soro que continha algum tipo de sedativo. Uma enfermeira coletou sangue e alguém o levou para ser testado. Demorou a noite toda para que o soro me estabilizasse o suficiente para que eu pudesse pensar com clareza. Se eu ainda não estava morto, talvez sobrevivesse, pensei. Quando me senti forte o suficiente para falar, pedi para conversar com um dos médicos.
"‘Que diabos está acontecendo comigo?’ perguntei com a voz trêmula. ‘Você está bem’, respondeu calmamente o médico. ‘Você teve um ataque de pânico excepcionalmente forte’.
Fiquei aliviado, mas só um pouco. Eu não tinha certeza se estava ‘bem’. Ondas de pavor ainda estavam me atingindo. Parecia uma corrente elétrica que me fazia tremer, embora a sala estivesse quente. Eu não conseguia parar de tremer. Eu não ia conseguir dormir de jeito nenhum. Fiquei acordado a noite toda, tremendo e mudando constantemente de posição na cama."
Passado o susto, Friedman resolveu ligar para o responsável pelos shows do Megadeth, Steve Wood. O diálogo não foi dos mais amistosos.
"‘Marty, acalme-se. Vamos pensar nisso de forma racional. Você não está me dizendo que vai perder a turnê, está?’, perguntou ele.
Talvez eu estivesse sendo paranoico, mas senti uma ponta de ameaça em sua voz. ‘Não há a menor possibilidade de eu ir a algum lugar assim!’ respondi. ‘Você não está entendendo. Passei a noite toda no pronto-socorro e ainda estou tremendo como um drogado. Não tenho ideia do que há de errado comigo, e não parece que vou me recuperar disso tão cedo. Você está entendendo? É sério. Eu vou morrer, porra! Não consigo nem pensar em tocar guitarra. Esqueça a ideia de ir ao aeroporto e entrar em um avião. Eu não consigo nem andar’."
Apesar do quadro delicado, Steve conseguiu contornar a situação. Ele providenciou o que era necessário para Marty se apresentar com o Megadeth em Denver (Colorado, EUA), no dia 27 de dezembro de 1999. De acordo com as palavras do guitarrista, o processo foi um tanto quanto complexo.
"Parecia impossível, mas quando Steve sugeriu que Chihiro me acompanhasse e me guiasse em cada passo do caminho, reconsiderei.
Steve se certificou de que os voos estivessem reservados, as limusines encomendadas e todos os detalhes estivessem prontos antes mesmo de me ligar. Eu achava que tinha poucas chances de chegar ao show a tempo, muito menos de fazer uma apresentação, mas como Steve havia tomado todas as medidas para tornar a viagem o mais fácil possível, concordei em tentar - algo que acho que não teria feito por outra pessoa. Eu estava dopado com todos os tipos de relaxantes que ajudaram a evitar que meu coração explodisse no peito. Mas eu tinha uma sensação de angústia que não ia embora."
Embora sua situação não fosse das melhores, Friedman conseguiu subir ao palco. E, de repente, tudo ficou diferente, o que aparentemente deixou seus ex-parceiros de trabalho confusos.
"Assim que comecei a tocar, voltei a ter controle total, como se nada tivesse acontecido. Apresentei-me com muita agressividade e fiz os meus movimentos normais de palco sem pausa. Quando me aproximei de David [Ellefson, baixista] ou Dave [Mustaine, guitarrista/vocalista] para tocar em conjunto, eles me olharam com total perplexidade. Para eles, em um minuto eu estava ansioso e incapaz de andar e, no outro, estava arrasando no palco, como sempre. Fiquei surpreso com minha transformação. Eles também, mas em vez de comemorar minha recuperação repentina, eles me olharam com desconfiança - com toda a razão - como se toda a minha história de ataque de pânico fosse uma desculpa falsa para ficar fora da turnê."
No fim das contas, Friedman deixou o Megadeth dias após o caótico show em Denver. O posto de guitarrista foi ocupado por Al Pitrelli, vindo do Savatage.
Vinte e três anos após sua saída do Megadeth, Marty Friedman voltou a se apresentar ao lado de Mustaine. O "revival" aconteceu em dois shows, realizados no Japão e na Alemanha.
"Dreaming Japanese" será lançado em 3 de dezembro de 2024, mesmo dia que Marty completa 62 anos de vida. Para mais informações sobre o livro, clique aqui.
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