Os dois álbuns dos Beatles que para George Harrison são duas faces da mesma moeda
Por Bruce William
Postado em 12 de dezembro de 2024
Em 1965, os Beatles entraram em uma fase de transição que transformaria não apenas sua sonoridade, mas também a maneira como a música pop era produzida e percebida. Com o lançamento de "Rubber Soul" naquele ano, a banda deu os primeiros passos em direção à experimentação criativa, tanto lírica quanto musicalmente. O álbum trouxe arranjos mais sofisticados e temas introspectivos, marcando o início de uma abordagem mais ambiciosa no estúdio. Essa evolução se intensificou em "Revolver" (1966), um disco que ampliou ainda mais os horizontes do grupo com o uso de técnicas de gravação inovadoras e influências variadas, incluindo música indiana e avant-garde.
Conforme relata o Music Douban: "Após a conclusão de uma turnê pelo Reino Unido no final de 1965, os Beatles não tinham nada agendado por quase quatro meses, no que foi seu maior período de inatividade desde 1962. Eles aproveitaram para explorar diversos interesses, tanto individualmente quanto em grupo. Foram a discotecas em Londres com Mick Jagger, assistiram a corridas de cavalos e compareceram à estreia do filme Alfie. Paul McCartney visitou galerias de arte, ouviu compositores de vanguarda e viajou com Jane Asher. Harrison casou-se discretamente com Pattie Boyd e aprofundou seus estudos de música indiana."
Prossegue o texto: "No entanto, foi John Lennon quem realizou as atividades que mais influenciaram a música do grupo dali em diante. Em 1966, os Beatles já haviam experimentado LSD, mas, durante esses meses de inatividade, enquanto se sentia preso em sua casa nos subúrbios com sua esposa e filho, Lennon começou a consumir psicodélicos e a ler textos centrais da cultura das drogas."
E toda esta vivência estava influenciando a banda em seu trabalho, a ponto de cada vez mais eles ousarem experimentar, sem impor quaisquer limites. Um bom exemplo é "Tomorrow Never Knows", escrita por John Lennon e que ele considerava sua primeira música psicodélica. Conforme relata o Songfacts, ela foi inspirada pelo livro "The Psychedelic Experience" de Timothy Leary e Richard Alpert, que reinterpreta o "Livro Tibetano dos Mortos" sob um ótica ocidental e efeitos de alucinógenos. Lennon lia o livro sob o efeito de LSD e gravou ideias baseadas em suas experiências.
O processo de gravação de "Tomorrow Never Knows" foi marcado por experimentações: Paul McCartney criou loops de fita com sons incomuns, enquanto a banda manipulava efeitos e velocidades diferentes, muitas vezes reproduzindo faixas de trás para frente. O produtor George Martin facilitou essas inovações, permitindo que os Beatles explorassem novos territórios sonoros. O vocal de Lennon foi processado por um alto-falante Leslie para criar a sensação de um cântico tibetano, e a música se destaca por usar apenas um acorde, evocando uma atmosfera hipnótica.
George Harrison, que desempenhou um papel crescente nesses álbuns, frequentemente se referia ao "Rubber Soul" e "Revolver" como duas faces de uma mesma moeda. Em entrevistas ao longo dos anos, ele afirmou que os discos poderiam ser considerados "Volume 1" e "Volume 2" de uma mesma jornada criativa: "Eu mesmo não vejo muita diferença em 'Rubber Soul' e 'Revolver'. Para mim, ambos poderiam ser como Vol. 1 e Vol. 2. Ambos foram discos muito agradáveis e divertidos para mim. Eles se encaixam e parecem fazer parte de um só trabalho (...) Foi a partir daí que nos tornamos mais conscientes de muitas coisas. Passamos a ouvir de forma mais profunda, de algum modo. Foi então que realmente comecei a apreciar o processo criativo com a música - não apenas com a minha guitarra e composição, mas com tudo o que fazíamos como banda, incluindo as músicas que os outros escreviam. Tudo ganhou mais profundidade e significado."
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