O clássico do The Clash que seu baixista compôs para ganhar dinheiro com direitos autorais
Por André Garcia
Postado em 04 de fevereiro de 2025
Há várias motivações para uma pessoa compor uma música — e todas são igualmente válidas: expressar seus sentimentos, projetar a si mesmo como outra pessoa em outro lugar, contar uma história, protestar contra algo, buscar a aprovação do público, provocar a ira do público, elaborar um luto pessoal, superar um divórcio… ganhar dinheiro é um motivo dos mais frequentes.
No The Clash havia quase que um monopólio de seus vocalistas/guitarristas. Nos álbum "Sandinista!" (1980) e "Combat Rock" (1982) eles passaram a assinar as músicas como de autoria de toda a banda, mas nos três primeiros discos praticamente todas as composições eram de Mick Jones, Joe Strummer ou ambos.
O The Clash se destacou das demais bandas punk da Inglaterra por ter incorporado em seu som o reggae — a música que vinha das rádios dos guetos dos oprimidos imigrantes. Algo que, para ser justo, no new wave o The Police já vinha fazendo e já tinha até levado ao topo das paradas de sucesso.
E um dos maiores sucessos desse lado da banda influenciado pelo reggae foi "The Guns of Brixton", do "London Calling" (1979).
Pois "Guns of Brixton" foi a primeira composição do baixista Paul Simonon. E o motivo da composição? Ele descobriu que Jones e Strummer ganhavam bem mais dinheiro que ele com a banda porque eles eram os compositores.
Percebendo que composição era dinheiro no bolso, ele pegou o baixo para entrar na brincadeira.
Segundo a SongFacts, Simonon não pretendia cantar sua composição, mas o casca-grossa Joe Strummer cravou que "a letra é sua, então você canta" e ninguém da banda ousou discordar.
O baixista, não habituado a cantar, teve que encarar uma camada extra de desconforto, como ele relembrou:
"O microfone estava encostado no painel de vidro da sala de controle, e sentado a dois palmos do outro lado do vidro estava algum cara americano [da nossa gravadora, a] CBS."
A letra de "The Guns of Brixton" fala sobre a opressão vivida pelos imigrantes em Brixton que uma hora começaram a se tornar conflitos com a polícia, e já deixa isso bem claro em seus primeiros versos:
"Quando eles chegarem chutando sua porta, como você vai sair? Com as mãos na cabeça ou com o dedo no gatilho?"
Em entrevista para a Mojo, Simonon contou:
"Eu sempre tentei compor músicas, mas como competir com [Joe] Strummer e [Mick] Jones? Quando estávamos no Vanilla Studios trabalhando no 'London Calling', eu criei uma linha de baixo e os outros se juntaram a mim, e a partir daí tudo se desenvolveu. As letras [falavam sobre o sentimento de] medo real em Ladbroke Grove [Londres] que seu apartamento seria invadido [pela polícia]. Com a [divisão policial] SPG e as leis do SUS [que permitia que um policial parasse, revistasse e prendesse pessoas sob suspeita de vadiagem], aquela paranoia era constante na área."
"The Guns of Brixton" virou uma música obrigatória nos shows do The Clash. Tanto que, segundo o Setlist.fm, ela foi a terceira música mais tocada ao vivo, atrás apenas de "London Calling" e "Janie Jones".
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