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Stamp

A banda punk que era torturada com choques por militares para se comportar em turnê

Por André Garcia
Postado em 12 de março de 2025

Há bandas que duraram pouquíssimo, mas deixaram no rock um impacto profundo e duradouro, como o Cream e o Joy Division. O Sex Pistols talvez seja o melhor exemplo disso: a banda foi formada em 1975, lançou seu único disco em 77 e acabou em 78 após uma catastrófica e caótica turnê nos Estados Unidos.

Sex Pistols - Mais Novidades

Foto: Virgin Records
Foto: Virgin Records
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O Sex Pistols ficou famoso por ter levado a rebeldia ao extremo, deixando um rastro de caos e confusão por onde passava. E quanto mais m*rda eles faziam, mais famosos ficavam.

Quando eles desembarcaram na América para a turnê em que implodiria, a banda estava fragmentada: de um lado ficavam os amigos de infância Steve Jones (guitarra) e Paul Cook (bateria); do outro os ex-amigos que não se falavam mais Johnny Rotten (vocal) e Sid Vicious (baixo); e no meio com seus próprios planos e imenso ego estava o empresário Malcolm McLaren. Todas essas três facções queriam coisas diferentes.

Como eles tinham uma péssima reputação na Inglaterra por aprontar todo tipo de m*rda possível e imaginável, os Estados Unidos recusaram a eles o visto de trabalho. Para possibilitar uma turnê por lá a gravadora Warner Bros deu o jeito dela, mas colocou sobre a banda uma multa de 1 milhão de libras (o que valia muito mais do que hoje em dia) caso eles saíssem da linha e comprometesse a excursão.

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Conforme publicado pela The Times, para garantir que todos se comportariam a Warner chegou ao extremo de contratar como seguranças dois veteranos da Guerra do Vietnã para manter eles em rédea curta.

O baterista Paul Cook relembrou:

"Eles eram caras grandes e corpulentos, barbudos. A gente passava a maior parte do tempo tentando escapar deles. Eles tinham aqueles bastões [elétricos de dar choque em] gado, e achavam muito engraçado bater no Sid com eles. Ele ficava possesso."

O guitarrista Steve Jones relembrou:

"A principal tarefa deles era impedir que Sid [Vicious] se drogasse. Certa vez, uns caras da revista High Times queriam comprar droga para o Sid e filmar ele usando. Os guarda-costas impediram aquilo, para grande decepção de Sid."

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O punk na Inglaterra surgiu como uma espécie de pastiche estiloso do punk nova-iorquino. Depois que os Sex Pistols fizeram sucesso, no entanto, o punk nos Estados Unidos virou uma caricatura de sua contraparte britânica. Em Londres o punk era muito estético por conta da boutique Sex de Malcolm McLaren e Vivienne Westwood ditando a moda. Lá nos Estados Unidos a coisa era diferente, o que decepcionou a Jones:

"Tinha uns garotos que eram até descolados, mas não eram como os punks originais da Inglaterra, que eram muito estilosos. [Nos Estados Unidos] eles usavam um alfinete de fralda no nariz e cabelos compridos. Na verdade, eu me sentia até mal por eles."

O empresário Malcolm McLaren era quem fazia questão de transformar o Sex Pistols num verdadeiro circo — sem se preocupar com as consequências que aquilo teria para a saúde mental ou a segurança da banda. Nos Estados Unidos os shows eram promovidos com a garantia de que alguma desgraça aconteceria.

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"Malcolm nos apresentava como os maiores bad boys do mundo", lembra Jones, "dizendo 'eles arrancam a cabeça de galinhas com os dentes e vomitam em tudo', e essas coisas."

Temendo pelo pior, as autoridades em cada cidade que os Sex Pistols passavam davam a eles o pior tratamento possível. O que tornou a turnê um insuportável martírio:

"Na turnê pelos Estado Unidos a gente já era o inimigo público número um", relembrou Cook. "Fomos jogados na cova dos leões, foi uma época bem sombria. E as pessoas achavam que Malcolm nos controlava, o que é ridículo; ninguém podia controlar o que aconteceu com os Pistols. Para ser sincero, aquilo me horroriza até hoje."

Os Sex Pistols se separaram em 1978 naquela famigerada excursão pelos EUA, mas tornaram a se reunir em 1996, de 2002 a 2003 e de 2007 a 2008. Agora em 2024 eles se reuniram mais uma vez, mas sem o vocalista John Lydon, que foi substituído por Frank Carter. Inclusive essa nova formação vai vir ao Brasil este ano para tocar no The Town.

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Conforme publicado aqui no Whiplash, essa nova formação dos Sex Pistols foi detonada por John Lydon, que a comparou a um karaoke.

"Quando soube que os Sex Pistols fariam uma turnê este ano sem mim, fiquei puto", confessou o vocalista ao The I Paper. "Aquilo me incomodou. Pensei 'Eles vão acabar com tudo o que tinha de bom nos Pistols, acabando com o objetivo e o propósito de tudo que fizemos'. Eu não escrevi aquelas letras de brincadeira. O que eles estão fazendo é banalizar o show para se safar com um karaokê. Só que lá na frente o pessoal vai perceber o que tem valor e o que não tem."

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Sobre André Garcia

Sou redator e tradutor freelancer e escritor, autor do livro de contos Liber IMP. Ouço rock desde pequeno, leio coisas sobre bandas desde sempre e escrevo sobre ela já tem anos. Cresci como fã de Iron Maiden e paladino do rock, mas já me tratei. Hoje sou fã de nomes como Beatles, David Bowie, The Cure, Kraftwerk e Velvet Underground, e de cenas como a Londres psicodélica, a Nova Iorque proto-punk e a Manchester pós-punk. Escrevo notas e notícias rápidas para o Whiplash.Net visando compartilhar conteúdo relevante sobre música e cultura pop.
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