O dia que Metallica e desenho animado fizeram banda já consagrada perder tudo
Por Gustavo Maiato
Postado em 20 de abril de 2025
Há coisas na carreira musical de um artista que ele pode controlar, mas algumas escapam e não tem muito que se possa fazer. No caso do Winger, os motivos para sua repentina queda vieram de fora: uma zoação do Metallica e outra do desenho Beavis and Butt-Head.
Reb Beach, guitarrista do Winger, relembrou com franqueza o colapso repentino da banda no início dos anos 1990, que também recebeu combustível pós o fim do auge do glam metal e a ascensão do grunge. Em entrevista ao Badass Network (via Ultimate Guitar), Beach descreveu como o grupo, que havia alcançado sucesso com dois discos de platina, viu sua carreira ruir praticamente da noite para o dia — com ajuda até de zombarias públicas de gigantes como o Metallica.


"O show foi cancelado. As pessoas pararam de comprar ingressos da noite pro dia. Beavis and Butt-Head estreou. O Metallica jogou dardos em um pôster do Kip Winger. Estávamos em turnê na época. A turnê foi cancelada. As vendas de ingressos acabaram no mesmo dia em que o desenho estreou. Uma semana depois: fim. Ninguém queria mais ser visto num show do Winger", contou o músico.
No final dos anos 1980, o Winger viveu o auge da fama, com hits nas rádios e uma base sólida de fãs. Mas com a chegada da década de 1990 e a mudança de estética e atitude na cena musical, a banda — assim como tantas outras do hard rock oitentista — foi varrida do centro das atenções.

Beach revelou que acreditava estar no caminho do estrelato definitivo com o álbum Pull (1993), que considerava o melhor da banda até então. A expectativa era alta: "Eu tinha acabado de comprar uma casa na Flórida. Meu próximo adiantamento editorial era de 300 mil dólares. Mas o disco afundou."
Os problemas do Winger
A derrocada foi tão abrupta que Beach teve de vender sua casa e 20 de suas guitarras para sobreviver por um ano. "Acabei voltando pra casa, e só consegui ir fazer teste com o Alice Cooper porque o Kip me emprestou 500 dólares pra passagem."
O guitarrista lamenta o fim do Winger, mas entende o momento. A banda anunciou sua despedida este ano, após um inesperado retorno com o álbum Seven, lançado dois anos atrás. Segundo Beach, a decisão de encerrar as atividades partiu de Kip Winger. "A banda leva o nome dele. E ele não quer mais cantar She’s Only Seventeen. Cansa. Ele trabalha duro pra manter a voz impecável. É difícil. E ele tem se dedicado cada vez mais à música clássica, onde está, finalmente, obtendo reconhecimento de verdade."

Apesar da tristeza com o fim de um ciclo de mais de três décadas, Beach demonstra resignação: "É como um velho par de jeans. Estar no palco com o Kip era o lugar mais confortável do mundo pra mim. Mas vou seguir. Já estou recebendo convites de outras bandas."
Já em entrevista ao The Metal Voice (via Igor Miranda), o próprio Kip Winger comentou mais a respeito da situação: "Quando Beavis e Butt-Head disseram: ‘oh, White Zombie é legal’, eles ganharam disco triplo de platina do dia para a noite. A série foi o maior sucesso da história da MTV, então muitas pessoas se beneficiaram dela. Mas nós éramos representados pela camiseta do cara nerd que era zoado. Há muitas outras bandas que poderiam ter sido mais adequadas para esse papel."

Ele continuou: "Eu falei com Mike Judge por e-mail em um ponto e ele disse que foi algo aleatório, simplesmente aconteceu. Acho que ele inadvertidamente nos escolheu por causa do videoclipe do Metallica. Mas disse que foi apenas azar, um momento ruim. "Não acho que os anos 80 teriam sobrevivido por muito mais tempo. No nosso caso, chegamos um pouco tarde demais. Eu conto muito essa história. Mudei-me para o Novo México, perdemos nosso contrato com a gravadora, tudo acabou. A seguir, minha primeira esposa faleceu em um acidente de carro e eu fiquei totalmente perdido. Resolvi escrever e começar a estudar música clássica de verdade. Eu sempre quis fazer isso, mas nunca senti que estava ao meu alcance. Foi quando pensei ‘Quer saber? Vou fazer isso’. Estava com tempo, não havia shows a serem feitos por anos. O único show que fiz nessa época foi na Porter’s Bookstore às 16h tocando para 10 pessoas, depois de um ano antes de ser a atração principal para entre 8 e 10 mil pessoas".

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