O álbum perdido que o Metallica enterrou e seus integrantes nunca mais querem ouvir
Por Bruce William
Postado em 25 de maio de 2025
No começo dos anos 2000, o Metallica enfrentava uma crise interna que quase encerrou a banda. James Hetfield entrou em reabilitação, o baixista Jason Newsted havia saído, e o restante do grupo lidava com a tensão emocional de tentar gravar um novo disco em meio ao caos. Tudo isso foi documentado em Some Kind of Monster, filme que mostrou ao público um lado vulnerável da banda, e também o mais desconfortável.
O que pouca gente sabe é que, antes de se estabelecerem no estúdio HQ, onde gravariam "St. Anger", eles já vinham trabalhando em outro local: o Presidio, uma instalação improvisada em San Francisco. Várias ideias foram registradas ali, mas nada disso chegou ao público. Em conversa com a Metal Hammer, Lars Ulrich deixou claro que o material dessa fase não deve sair: "Não há planos para isso. O Presidio foi um período bem estranho, em que a gente estava reaprendendo a funcionar como banda."


Apesar de terem passado meses por lá, a banda decidiu não revisar nenhuma daquelas sessões ao preparar o álbum seguinte, "Death Magnetic". "A gente nem cogitou mergulhar em horas e horas de gravações antigas pra ver se tinha algo que valia resgatar", completou Lars. Em outras palavras, o conteúdo foi engavetado de vez.
Apesar de a banda nunca ter lançado oficialmente esse material, existe uma compilação feita por fãs chamada The Presidio Demo, que circula facilmente online. As faixas são reconstruções feitas a partir de trechos mostrados no documentário Some Kind of Monster, o que significa que, com exceção de "Temptation", quase nenhuma música é ouvida em sua totalidade. A maioria das versões disponíveis são montagens de fãs que colaram pedaços soltos de gravações para criar algo mais audível. O nome "Presidio" foi adotado pela comunidade justamente por essas sessões terem acontecido num antigo quartel do Exército americano localizado no Presidio de San Francisco.

O período também marcou uma fase pessoal delicada. Hetfield ainda não estava limpo, e as tensões dentro da banda transpareciam em cada fala, discussão e tentativa de compor, nota a Far Out. Ainda assim, foi nesse ambiente que o Metallica conseguiu despejar parte da frustração que se acumulava desde os anos 90 — mesmo que o resultado, para muitos, tenha sido o pior disco da carreira.
Por mais que "St. Anger" tenha sido mal recebido, talvez tenha servido como catarse necessária para manter a banda viva. O álbum pode soar confuso, mas é um retrato honesto de um grupo tentando não desmoronar por completo. E se o disco já carrega cicatrizes evidentes, o material anterior parece ainda mais cru e doloroso, a ponto de nem os próprios músicos quererem ouvir de novo.

O Metallica sobreviveu, mas enterrou esse capítulo com força. E mesmo que os fãs mais curiosos sonhem em ouvir essas gravações perdidas, a banda parece certa de que algumas fases devem permanecer trancafiadas, tanto nos arquivos quanto na memória.
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