Smashing Pumpkins e o grito silencioso da juventude nostálgica em "1979".
Por Emanuel Rossetto Silva
Postado em 15 de junho de 2025
Nostalgia, no senso comum, é a saudade de um passado, uma forma de melancolia. A sensação de que o passado ficou e nada poderá trazê-lo novamente, restando apenas memórias de algo que um dia existiu. Uma idealização passada que, muitas vezes, é atrelada com a cultura pop.
"Mellon Collie And The Infinite Sadness" é sem dúvidas, um dos álbuns mais completos dos anos 1990. Um conceito de duas horas com início, meio e fim, que mergulha em questões existenciais como a morte, o niilismo, o fim da inocência, o sonho, a fuga e a imaginação. Sombrio e onírico como sempre foi o Smashing Pumpkins. "1979" a principal faixa do disco, sugere a reflexão sobre esses sentimentos.
Smashing Pumpkins - Mais Novidades
Billy Corgan, vocalista da banda, tinha 12 anos em 1979, uma idade marcada pela transição da infância para a adolescência, o chamado "coming of age", quando a inocência começa a ser substituída pelas responsabilidades. É uma fase em que o tédio, a confusão emocional e a sensação de estar sem rumo se intensificam, e num estalar de dedos tudo parece desabar. É quando você percebe que é o único responsável pela própria vida, sentindo o peso das cobranças internas e externas, da necessidade de provar sua existência e de assumir, enfim, uma identidade.

A música carrega um tom de despedida de um tempo que não volta mais, uma lembrança que, talvez, nunca tenha acontecido exatamente daquele jeito. Billy Corgan explica um pouco sobre a origem da letra:
"Em 1984 a minha vida em casa estava desmoronando. Eu tinha herdado o carro da família, que estava caindo aos pedaços e tinha pneus carecas. Eu me lembro de parar nesse semáforo específico, estava chovendo, como acontece muito em Chicago. E eu tive uma sensação muito particular de estar olhando no retrovisor da minha vida. Para trás ficava a juventude, a infância prestes a ir embora, e à frente tudo que eu esperava me tornar e fazer da vida.
Eu escrevi a música sobre a noção de estar nesse ‘precipício’ entre a juventude e a idade adulta. Então eu escrevi um poema, tudo de uma vez só. Eu ainda tenho o manuscrito e ele não tem correção nenhuma, então o que você me ouve cantar é exatamente o poema que escrevi, o que não é comum."
A música começa com um dos riffs mais icônicos dos anos 1990. Um efeito simples, leve, sem distorção, mas com um toque de "chorus" na guitarra, como se fosse algo onírico e fantasioso, pronto para evocar o clima que a faixa deseja transmitir.
A voz de Billy entra como um sussurro, quase falada, dando ênfase ao tom emocional que o cantor quer expressar. O uso de reverb e eco reforça a ideia de distanciamento no tempo.
A bateria entra no momento exato, oferecendo apoio e criando corpo à música, simbolizando um crescimento sutil e progressivo.
A letra se inicia enfatizando a confusão emocional e o reconhecimento de que algo maior está por vir. O refrão surge como um grito de incerteza e afirmação ao mesmo tempo, uma melancolia, marcada pelo medo do futuro, um grito existencial.
A oscilação entre luz e sombra, muito presente nas artes plásticas do barroco, aparece de forma nítida na letra, contrastando o desespero com a aceitação inevitável.
O videoclipe da música foi um marco na MTV dos anos 1990. Dirigido por Jonathan Dayton e Valerie Faris, conseguiu capturar visualmente todo o espírito que a canção transmite, destacando-se por não seguir os padrões estéticos da época.
O clipe retrata adolescentes vivendo uma juventude suburbana, com brincadeiras, emoções reais, algo vivo, cheio de cores e sentimentos.
O desejo de rebeldia aparece representado pela vontade de destruição, pelas infrações, delinquências e festas. Tudo o que a juventude americana poderia simbolizar e proporcionar na época.
Billy Corgan aparece o tempo todo na parte de trás de um carro, como um observador silencioso dos acontecimentos, quase como se estivesse revisitando suas memórias e refletindo sobre o passado. A câmera fixa, próxima ao rosto de Billy, com o fundo branco, simboliza que ali só existe ele, uma imersão interior dentro de sua própria mente, entre o passado e o presente, algo íntimo e profundamente nostálgico.
As cenas com os adolescentes são sempre cheias de cor, representando a vida idealizada, sem preocupações. A câmera na mão, os ângulos imperfeitos e a filmagem com uma câmera digital simples permitem a criação de um senso de pertencimento, como se estivéssemos assistindo a uma lembrança viva, uma memória que existe tanto na mente de Billy quanto na dos ouvintes. A beleza efêmera da juventude.
Talvez a nostalgia seja um privilégio, uma forma de nunca esquecermos quem fomos um dia e de lembrarmos como devemos ser. Mas a nostalgia também pode ser uma armadilha: nos impede de nos desprender do passado, fazendo com que vivamos presos a momentos que já se foram e que, talvez, devessem ser deixados para trás.
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps



A música lançada há 25 anos que previu nossa relação doentia com a tecnologia
A banda com quem Ronnie James Dio jamais tocaria de novo; "não fazia mais sentido pra mim"
Tuomas Holopainen explica o real (e sombrio) significado de "Nemo", clássico do Nightwish
Ingressos do AC/DC em São Paulo variam de R$675 a R$1.590; confira os preços
O melhor baterista de todos os tempos, segundo o lendário Jeff Beck
A única música do Pink Floyd com os cinco integrantes da formação clássica
As músicas que o AC/DC deve tocar no Brasil, segundo histórico dos shows recentes
Show do AC/DC no Brasil não terá Pista Premium; confira possíveis preços
A melhor música que Bruce Dickinson já escreveu, segundo o próprio
O solo que Jimmy Page chamou de "nota 12", pois era "mais que perfeito"
O melhor disco do Anthrax, segundo a Metal Hammer; "Um marco cultural"
Download Festival anuncia mais de 90 atrações para edição 2026
Os álbuns esquecidos dos anos 90 que soam melhores agora
O guitarrista que Steve Vai diz que nem Jimi Hendrix conseguiria superar
Paisagem com neve teria feito MTV recusar clipe de "Nemo", afirma Tarja Turunen


Billy Corgan diz que Nirvana copiou Smashing Pumpkins em "Smells Like Teen Spirit"
Smashing Pumpkins anuncia edição de 30 anos de "Mellon Collie & The Infinite Sadness"
Top 10: Por que o grunge não está morto?
Billy Corgan polemiza ao dizer que o Green Day é maior que os Ramones; "Mérito deles"


