Quando Neil Young disse que "para o bem ou para o mal, o rock'n'roll é o Guns N' Roses"
Por Bruce William
Postado em 22 de julho de 2025
Nos anos 1980, muita gente vivia dizendo repetidamente que o contexto do rock havia mudado pra pior. Neil Young não fugia dessa opinião, mas para ele havia um culpado bem claro: a MTV. Em entrevista concedida em 1990 para a Vox, Young disse que a popularização dos videoclipes foi responsável por tirar da música seu "mistério natural" e sua profundidade. Segundo ele, quando o público era exposto apenas à música, dependia da própria imaginação para interpretar. Com os vídeos, tudo ficou pronto e mastigado.


"Foi isso que mudou o contexto. A MTV tentando visualizar a música acabou automaticamente tirando dela grande parte do seu mistério e profundidade natural. Antes do videoclipe, quando as pessoas tinham contato com a música, precisavam confiar na própria capacidade de imaginar... a não ser que estivessem em algum tipo de estado alterado por alguma droga", afirmou.
Young também comentou sobre o cenário do rock nos Estados Unidos no início dos anos 1990. Para ele, naquele momento, o rock americano era representado pelo Guns N' Roses, banda que muita gente dizia ser uma "má influência", mas que ele via de outro modo. "Hoje na América, para o bem ou para o mal, o rock'n'roll é o Guns N' Roses. As pessoas os chamam de maus, mas eles são apenas garotos. Ou pelo menos eram. É preciso lembrar que foram os (fãs) garotos que fizeram do Guns N' Roses o que eles são, e não o contrário", observou.

Na mesma conversa, Neil Young falou sobre a questão das drogas, que já aparecia como um tema inevitável nas letras da época. Ele chegou a mencionar o guitarrista Izzy Stradlin, com quem o entrevistador tinha conversado meses antes, e que dizia que a América parecia estar à beira de uma guerra contra as drogas. Para Young, essa guerra já tinha começado, e não era um assunto distante para ele.
"Eu acho que ele provavelmente está certo. Eu acho que isso já está acontecendo. As letras de 'Rockin' in the Free World' são só uma descrição dos fatos que acontecem todos os dias na América. Claro, eu me preocupo com meus filhos - especialmente com meu filho mais velho. E ele é fã do Guns N' Roses! Ele tem que encarar 'drogas' todos os dias no pátio da escola, drogas que são muito mais fortes do que qualquer coisa que me ofereceram em todos os meus anos como músico profissional."

Ainda assim, Neil Young não via as drogas como um inimigo invencível. Para ele, o maior problema era outro. "Tenho que dizer, pela minha experiência, que as drogas são superáveis. Drogas são passageiras. O ambiente, esse é um problema completamente diferente. Nós simplesmente temos que encarar o fato de que causamos danos a este mundo que talvez não possamos reverter. Temos que tentar salvar este planeta. Para mim, é isso. De qualquer forma, as chances são de que ele exploda na nossa cara logo. E, comparado com essa realidade, 'drogas' são só drogas."
No fim das contas, Neil Young parecia muito mais preocupado com o futuro do planeta do que com o destino do rock ou com a fama de "perigosos" que cercava o Guns N' Roses. Para ele, as drogas eram um problema sério, mas passageiro - algo que as pessoas poderiam superar. Já a destruição do meio ambiente era um ponto sem volta, uma ameaça real que colocava em risco toda a humanidade. Young via o impacto das ações humanas no planeta como um desafio urgente, maior do que qualquer crise social ou musical. E, diante disso tudo, o debate sobre a influência das bandas ou as mudanças na indústria do entretenimento soavam como coisas menores, quase banais.

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