A banda que foi pioneira no Brasil e conseguiu chocar até Frank Zappa
Por Bruce William
Postado em 17 de setembro de 2025
Frank Zappa sempre foi visto como um músico de difícil digestão. Suas composições, cheias de mudanças bruscas, humor ácido e ironia, renderam a ele a fama de "esquisito demais". Mas por trás do caos havia erudição: Zappa transitava entre jazz, blues e psicodelia com naturalidade, construindo obras que só pareciam absurdas porque se apoiavam em enorme conhecimento musical.
Mesmo assim, houve uma banda que conseguiu deixar o próprio Zappa sem entender nada. Era o Alice Cooper Band, ainda no fim dos anos 60, antes da maquiagem pesada e do rótulo de shock rock. Os músicos já tinham fama de serem rejeitados por gravadoras por soarem "fora da curva", e isso chamou a atenção de Zappa. Ele fez questão de vê-los tocar pessoalmente e os convidou para se apresentar em sua casa.


Alice Cooper relembrou (via Far Out) que chegaram logo cedo e dispararam cinco músicas, cada uma com pouco mais de dois minutos e dezenas de mudanças de andamento. Zappa ouviu tudo em silêncio, até admitir: "Eu não entendo. Não entendo o que vocês acabaram de fazer." Eles insistiram, tocaram mais algumas, e a reação foi a mesma. Então veio a surpresa: "Não. O fato de eu não entender é o motivo pelo qual vou assinar com vocês." Foi assim que o grupo conseguiu seu primeiro contrato, resultado direto do que parecia incompreensível.

Os primeiros álbuns, "Pretties for You" (1969) e "Easy Action" (1970), são registros desse lado psicodélico e bizarro que conquistou Zappa, bem distante dos hits mais convencionais que viriam depois. A partir dali, Alice Cooper pavimentaria o caminho para se tornar um dos artistas mais impactantes da década de 1970, explorando o teatro macabro no rock e conquistando fãs mundo afora.
No Brasil, Alice entrou para a história por outro motivo. Em 1974, foi o primeiro astro internacional do rock a se apresentar por aqui, num momento em que o país vivia sob ditadura e shows estrangeiros ainda eram raríssimos. Sua passagem incluiu uma performance no ginásio do Maracanãzinho, no Rio de Janeiro, e depois em São Paulo, em meio a forte esquema de segurança. Para muitos jovens da época, foi a primeira chance de ver de perto um ídolo do rock mundial, algo que ajudaria a abrir portas para a vinda de outras bandas nos anos seguintes.

O que para Zappa parecia incompreensível acabou sendo justamente a força de Cooper. O estranho, afinal, estava prestes a se tornar espetáculo. Entre o choque inicial e a consagração nos palcos brasileiros, Alice mostrou que ser incompreendido no começo podia ser o primeiro passo para se tornar pioneiro - e imortal.
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