O clássico do metal que, para Lemmy, passava uma mensagem equivocada
Por Bruce William
Postado em 05 de outubro de 2025
Lemmy Kilmister dizia o que queria, e do jeito que queria. À frente do Motörhead, ele sempre fez questão de deixar claro que suas letras não eram sermões nem mensagens cifradas, apenas reflexos crus da vida como ela é. "Se você não fizer nada que não seja bom para você, sua vida será muito sem graça. O que você vai fazer?", disse certa vez. "Tudo o que é agradável na vida é perigoso. Gostaria de encontrar o desgraçado que inventou isso."

Direto e avesso a qualquer tipo de disfarce, Lemmy acreditava que compor era um ato de honestidade. Por isso, evitava letras que pudessem ser mal interpretadas, ainda que o público do rock muitas vezes gostasse exatamente desse tipo de provocação. "As melhores letras são as simples, aquelas que não deixam espaço pra confusão", afirmou em entrevista à Louder.


Foi nesse contexto que ele citou uma das músicas mais conhecidas do Slayer como exemplo do que considerava um erro. Segundo ele, "Raining Blood", o clássico de 1986, transmitia uma mensagem perigosa quando ouvida fora do contexto. 'Eu sempre achei que o Slayer cometeu um erro com 'Raining Blood'", declarou, em fala publicada na Far Out. "Nós viramos bons amigos naquela turnê, e eu me lembro de dizer ao Tom Araya: 'Você percebe que tem gente no público que acha que você está falando sério? Eles acham que você quer ver sangue.'"
Lemmy contou que, na noite seguinte, a previsão se confirmou. "Metade de uma cadeira passou voando pela cabeça dele e ele perdeu a calma", disse. O episódio reforçou sua convicção: "Você deve ter cuidado com o que diz nas músicas, porque o público não está lá quando você as escreve e não sabe o que você quis dizer."

A observação de Lemmy não era uma crítica moral, muito menos censura. Era o olhar de um músico que entendia o poder das palavras no palco e preferia canalizar isso sem rodeios. No Motörhead, nada era simbólico ou teatral: era suor, volume e verdade. E talvez seja justamente essa clareza o que o manteve tão respeitado até hoje: um artista que sabia provocar, mas sem deixar margem para mal-entendidos.

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