Metallica x Megadeth: a separação mais famosa da história do heavy metal
Por Mateus Ribeiro
Postado em 05 de outubro de 2025
A primeira onda do thrash metal surgiu no início da década de 1980, revelando grupos que seguem relevantes até hoje. Com composições aceleradas, riffs cortantes, batidas explosivas e vocais agressivos, o gênero tem no Metallica seu nome mais popular.
Fundado em 1981 por James Hetfield (guitarra/vocal) e Lars Ulrich (bateria), o Metallica contou em seus primeiros anos com o guitarrista Dave Mustaine. Sua passagem pela banda culminou na separação mais famosa da história do heavy metal, tema central desta matéria.
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A separação traumática: brigas, álcool e uma longa viagem
Talentoso e criativo, Dave Mustaine convivia com o consumo frequente e excessivo de álcool e outras substâncias, o que gerava atritos. Sua infância difícil, marcada por um pai alcoólatra e abusivo, também contribuiu para moldar seu temperamento.
"Meu pai bebia muito e era abusivo, então meus pais se divorciaram quando eu era jovem e as coisas pioraram a partir daí. Nós nos mudamos para Costa Mesa para morar com minha tia, que era Testemunha de Jeová, e foi quando minha mãe também se tornou uma. Eles não acreditam em Natal, aniversários ou feriados. Minha vida foi arruinada daquele momento em diante até eu sair de casa", disse Mustaine, em entrevista concedida à Kerrang em 2018.

Durante sua estadia no Metallica, Mustaine se envolveu em desentendimentos e brigas - em um deles, chegou a agredir James Hetfield. No dia 11 de abril de 1983, a banda decidiu demitir o guitarrista, que precisou encarar sozinho uma viagem de ônibus de quatro dias de Nova York até a Califórnia, justamente no momento em que o grupo estava prestes a gravar o álbum de estreia "Kill 'Em All".
Essa experiência marcou profundamente Mustaine, que anos depois refletiu sobre o episódio durante entrevista à Kerrang. Ele admitiu compreender os motivos da demissão, mas lamentou não ter tido uma segunda chance:
"Não vejo aquela situação com os mesmos olhos de quando aconteceu. É quase como se tudo tivesse acontecido com uma pessoa diferente. Eu cresci muito desde então. Às vezes, você precisa de um tempo para assimilar o que aconteceu e ver sua parcela de culpa. Porque eu tive um papel nisso... Eu era definitivamente perigoso naquela época.

Entendo por que eles não queriam se arriscar comigo quando havia tanto em jogo no Metallica. Mas, na época, eu queria uma segunda chance. Tipo, se alguém dissesse: 'Ei, Dave, você está bebendo demais e, por favor, pare de socar a cara do vocalista!', eu provavelmente teria aceitado."
A criação do Megadeth
Além de longa, a viagem de volta para casa foi amarga. Sem dinheiro, Mustaine enfrentou dificuldades severas, como relatou ao LA Weekly (via Blabbermouth).
"Foi extremamente doloroso. Porque, lembre-se, eu estava morando com eles, não tinha emprego, não tinha renda, não tinha dinheiro. Eles me colocaram no ônibus sem dinheiro. Então, eu não tinha dinheiro para comida. Não tinha nada. Entrei no ônibus e saí para uma viagem de quatro dias sem nada para comer, sem nada para beber. Então, toda aquela viagem foi um inferno de quatro dias. Aprendi a pedir esmola, aprendi como fazer com que as pessoas comprem bebida para que pudesse dormir a noite toda no ônibus."

No meio dessa turbulência, surgiu a ideia que mudaria sua vida. Mustaine decidiu montar uma banda mais rápida e mais pesada que o Metallica. Assim nasceu o Megadeth, que se consolidou como uma das grandes forças do thrash metal mundial.

Lars e Mustaine eram amigos, mas documentário ferrou com tudo
Segundo Lars Ulrich, sua relação com Mustaine teve altos e baixos. Em entrevista à Revolver Magazine, o baterista dinamarquês afirmou que a amizade esfriou após o documentário "Some Kind of Monster" (2004).


"Eu e Dave tínhamos uma espécie de amizade e algo legal naquela época, durante a maior parte dos anos 80 (...). Foi só quando as duas bandas começaram a crescer que todo esse tipo de coisa começou a acontecer na imprensa, o que era realmente diferente do que havia entre nós. Havia quase dois relacionamentos ali. A imprensa adorava toda a [rivalidade] Megadeth-Metallica. E acho que isso ganhou vida própria.

O momento em que as coisas ficaram mais frias, em que houve uma interrupção óbvia na comunicação, foi depois do lançamento de 'Some Kind of Monster', e toda aquela cena, sobre a qual não precisamos falar. Isso parou [com o contato entre eles] por cerca de quatro ou cinco anos, ou algo assim."
A cena citada por Lars mostra uma conversa tensa entre ele e Mustaine. O líder do Megadeth não gostou da forma como o material foi editado e acusou o Metallica de traição em entrevista à Classic Rock.
"Acabou sendo tudo para o benefício do Metallica. Foi editado para fazer com que ele [Lars] parecesse ótimo e eu parecesse o cara mau e inseguro. Eles certamente não mostraram o Lars saindo do set chorando. A câmera pode fazer as coisas parecerem como quiser – como se eu fosse um chorão ou algo assim (...).

Mas sabe de uma coisa? Eu realmente tinha aspirações de tocar com aqueles caras de novo um dia, mas agora não me importo mais em ver a cara do Lars Ulrich de novo. Essa foi a traição final. Foi uma coisa horrível o que eles fizeram comigo, a mais baixa das baixas."
A paz está selada? Talvez não
Apesar das mágoas, Mustaine voltou a dividir o palco com seus antigos colegas no final de 2010, quando Metallica, Megadeth, Slayer e Anthrax - o "Big Four" do thrash metal - excursionaram pela Europa. No ano seguinte, participou da festa de 30 anos do Metallica. Esses encontros sugeriram uma reconciliação, mas a paz nunca pareceu completa.

O líder do Megadeth voltou a criticar os ex-companheiros em diversas ocasiões, falando até de direitos autorais. Em 2022, ele abordou o tema no programa The Joe Rogan Experience (via Blabbermouth).
"O que mais me incomodou foi que eu tinha todas as minhas músicas, deixei-as para trás e disse: 'Não usem minhas músicas'. E é claro que eles usaram. Eles a usaram no primeiro disco ['Kill 'Em All', de 1983], no segundo disco ['Ride the Lightning', de 1984]. Há partes da minha música em uma canção do terceiro disco ['Master of Puppets', de 1986]."

De fato, Mustaine é creditado como um dos autores de seis músicas do Metallica. Quatro são faixas de "Kill 'Em All" ("The Four Horsemen", "Jump in the Fire", "Phantom Lord" e "Metal Militia"), enquanto duas aparecem em "Ride the Lightning" (a faixa-título e a instrumental "The Call of Ktulu").
Em entrevista ao Songfacts, Mustaine voltou a criticar a postura da antiga banda e relembrou a última vez que falou com James Hetfield. Ele reforçou a mágoa pela forma como suas composições foram utilizadas após sua saída.

"A última vez que conversamos não acabou muito bem, porque temos algumas lembranças de algumas coisas que aconteceram quando eu estava na banda (...). Parte da razão pela qual não conseguimos realmente nos reconciliar é porque eu tinha músicas que, quando saí, não queria que eles gravassem, eles foram em frente e gravaram, mas não me pagaram a minha parte das músicas."
O fim do Megadeth e a sutil menção ao Metallica
A trajetória do Megadeth se aproxima do fim. No dia 4 de agosto deste ano, Mustaine anunciou que o quarteto fará sua turnê de despedida pelos próximos anos. O comunicado trouxe uma breve menção à sua ex-banda, dessa vez, em tom ameno.
"Não fiquem bravos, não fiquem tristes, fiquem felizes por todos nós, venham comemorar comigo nos próximos anos. Fizemos algo juntos que é verdadeiramente maravilhoso e provavelmente nunca mais acontecerá. Começamos um estilo musical, começamos uma revolução, mudamos o mundo da guitarra e como ela é tocada, e mudamos o mundo. As bandas em que toquei influenciaram o mundo. Amo todos vocês por isso. Obrigado por tudo."

Já se passaram quarenta anos desde o dia em que Mustaine foi demitido do Metallica. Embora tenha construído uma carreira de sucesso, esse episódio o marcou de forma profunda - afinal, lidar com a rejeição é devastador, sobretudo quando se trata de uma banda que se tornou um gigante da indústria musical.
Será que algum dia veremos Mustaine ao lado de James Hetfield e Lars Ulrich novamente? O futuro é incerto, mas uma coisa é certa: essa separação continua sendo a mais famosa da história do heavy metal.

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