Fernando Yokota: as escolhas do fotógrafo e redator para 2017
Por Fernando Yokota
Fonte: Fernando Yokota
Postado em 02 de janeiro de 2018
Sempre deixo claro que não são os melhores discos de 2017 porque são só os meus discos favoritos de 2017. Mais ainda, não sei nem se são realmente meus discos favoritos de 2017 porque nunca dá para lembrar de tudo (com exceção dos primeiros de cada lista, que de fato foram meus favoritos do ano). Na verdade, são mais discos e shows sobre os quais queria fazer uma menção e dividir com vocês.
Internacionais:
Aimee Mann - Mental Illness
Melhores e Maiores - Mais Listas
Fãs de Rush sabem que a Aimee Mann é quem canta (e aparece no "vanguardista" clipe) em Time Stand Still. É dela também a fantástica trilha sonora do não menos fantástico filme Magnolia de Paul Thomas Anderson. Quase acústico, provavelmente é seu disco mais introspectivo. Melancólico sem sem os pés na pieguicee depressivamente belo, é a minha escolha do ano.
Godspeed You! Black Emperor - Luciferian Towers
Visualmente, o equivalente seria um quadro gigante ganhando vida com um pincel que, ao invés de tinta, marca a tela com um veludo flamejante. Em certo ponto, a pintura ganha vida e vira um abraço gigante que envolve o artista e o ouvinte. "Cinemático", "grandioso" e "antêmico" (se é que isso já virou palavra) são velhos clichês, mas funcionam perfeitamente neste caso.
Para ouvir com fones de ouvido e luzes apagadas.
Nova Collective - The Further Side
Projeto instrumental de integrantes do Between The Buried And Me e do Haken. Progzão com cheiro de mofo setentista e carregado na fritura, é defumado pela animação da molecada da nova geração do prog metal. É quase um throwback mas
Alpha Male Tea Party - Health
Não se deixe enganar pelo nome besta: as músicas (instrumentais) não são sobre homens conservadores do "bible belt" americano com a autoconfiança inflada. Eles são só ingleses com o senso de humor meio cítrico que provam que Liverpool não é só a terra dos Beatles (e do Carcass). Math rock do bom.
Tuesday The Sky - Drift
Cheguei nesse disco pela relação com o Fates Warning (o Tuesday The Sky é um projeto de Jim Matheos). O direcionamento musical não chega a surpreender, até pela associação de Matheos com Kevin Moore (sim, aquele do Dream Thearer) em outro projeto, o OSI. Com a ajuda de Lloyd Hanney do fenomenal God Is An Astronaut, Drift é post rock criado por um dos pais do prog metal.
Slowdive - Slowdive
Quando se vê a série Stranger Things, a impressão clara é a de que a produção é fruto d'O Algoritmo. As bicicletas, o Dungeons and Dragons, o bullying, as músicas, os jeans de cintura alta e os cortes de cabelo de gosto duvidoso. A perfeita armadilha semiótica para quem foi criança nos anos 80 (dos quais fui mais uma vítima) funciona de forma perfeita assim como o novo álbum de Neil Halstead e associados. Os timbres, as melodias e os climas criados pelo disco homônimo respeitam a tradição da banda mas não soam como pastiche barato: o Slowdive é um throwback de si próprio, mas que não penhorou sua dignidade no saudosismo.
Anti-Flag - American Fall
Eles voltaram mais American Idiot que Fuck Police Brutality. A produção do disco, cristalina e impecável, inclusive lembra o Green Day (os timbres de bateria, principalmente) e em nada lembra a estética lo-fi de outrora. O discurso, no entanto, continua visceral e, infelizmente, mais do que nunca relevante. Se American Idiot foi o contraponto dos anos da era Bush, American Fall é o grito diretamente de Pittsburgh, Pennsylvania contra o conservadorismo e a cretinice xenofóbica sintetizada na imagem da Donald Trump.
Bonus: Robert Plant - Carry Fire
Carry Fire em 2017 é mil vezes melhor que qualquer volta do Led Zeppelin em 2017. Uma lindeza do começo ao fim.
Nacionais:
Far From Alaska - Unlikely
Era a segunda apresentação da banda desde o lançamento do Unlikely, numa quinta à noite com ingressos esgotados e, em uma semana, os fãs já sabiam o disco inteiro de cabo a rabo. Lembro do momento em que a Emmily começou a cantar Cobra e olhou para trás para ter a certeza de que o resto da banda estava vendo todo mundo cantando a música junto. O Far From Alaska passou longe da síndrome do segundo disco e o Unlikely é minha escolha para álbum nacional favorito.
Bike - Em Busca da Viagem Eterna
O disco é ótimo e tem uma faixa chamada O Enigma Dos Doze Sapos, o que seria motivo suficiente para estar nesta lista. Para além disso, Em Busca da Viagem Eterna é besuntado com a psicodelia que meleca os ouvidos e sequestra a mente do ouvinte para outras dimensões. Certifique-se de vê-los ao vivo porque são ainda melhores. A apresentação no Sesc Belenzinho em agosto, com participações de Gabriela Deptulski (cabeça do excelente My Magical Glowing Lens) e Danilo Sevalli (do lisérgico Hierofante Púrpura), foi dos grandes shows do ano.
Basalt - O Coração Negro da Terra
O debut da nova banda dos veteranos Luiz Mazetto, Victor Miranda, Leonardo Saldiva, Pedro Alves e Marcelo Fonseca é pura desgraça e desolação. O Coração Negro da Terra é cinza, amargo e "tudo de ruim". Discaço!
Macaco Bong - Deixa Quieto
Deixa Quieto é uma releitura do Nevermind do Nirvana, feita de forma sagaz pela banda do talentosíssimo Bruno Kayapy. Pessoalmente, lembrou uma caixa de Lego que certa vez ganhei quando era moleque: foi muito legal montar o brinquedo original (era um castelo ou coisa do tipo) mas a diversão mesmo começou quando peguei todas aquelas peças e montei uma nave espacial.
Ralo - Hell is Real
Eles próprios descrevem seu som como um stoner/grunge instrumental. Independente de rótulos, vale pela pegada do trio, que manda um rock instrumental vigoroso. Hell Is Real também é um lançamento da Sinewave, mesmo selo do Macaco Bong e com foco no nicho instrumental.
Galactic Gulag - To The Stars By Hard Ways
A produtora/selo Abraxas termina 2017 como grande incentivador de bandas independentes, e o Galactic Gulag é exemplo didático, servindo a especialidade da casa: um ensopadão de stoner com psicodelia. Harmoniza bem com enebriantes.
Disenteria - Quanto Vale Sua Mentira
https://disenteriaterceiromundo.bandcamp.com/
Assim como o Surra (cujo Tamo Na Merda do ano passado já é sério candidato a clássico do gênero), o Disenteria vem da cidade de Santos. São menos de vinte minutos (na verdade, menos de quinze) espalhados em nove faixas de pura agressão e raiva. Só a quebrada instrumental no meio da faixa-título já valeria a menção nesta humilde lista.
Bonus: Necro - Adiante
Sim, é do ano passado, mas saiu aos 45 do segundo tempo de dezembro, é o melhor disco dos alagoanos (veja abaixo o link para a resenha que fiz para o Whiplash.net) e só a capa assinada pelo Cristiano Suarez já valeria o preço do CD, que também saiu pela Abraxas.
Álbuns de 2018 ansiosamente aguardados:
- Breathing Insanity, o debut da molecada do Damn Youth;
- Resistance Is Futile, o novo dos Manic Street Preachers;
- o álbum novo do Labirinto;
- o clássico Depois do Fim do lendário Bacamarte relançado em formato físico (vinil, por favor!)?
- um disco novo do Carcass?
Playlist no Spotify:
Comente: Conhecia todos?
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