Keith Richards: A autobiografia "Vida" é uma verdadeira aula de História
Por Ricardo Bellucci
Postado em 02 de novembro de 2019
Recentemente entrei em um sebo e lá me deparei com a autobiografia de Keith Richards, Vida. Curioso e leitor compulsivo, reconheço, não resisti e levei o livro para casa, ficando parado na estante por um tempinho. Comecei a ler a obra faz pouco tempo, estou bem no início, ok, mas já deu para sacar que a obra é de uma leitura tranquila, de estilo é único, cativante, narrada como o ritmo de um blues dos anos sessenta, cheia de vida, dramas, alegrias, angústias, uma narrativa vibrante, cheia de estilo, uma obra a ser lida de forma lenta e tranquila, apreciada, como se bebe uma boa taça de vinho, sem pressa, sorvendo e refletindo sobre cada trecho do texto.
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A obra não é apenas sobre a vida de Keith, o músico, narra a história que cercou e marcou o músico, e na verdade, milhares de pessoas contemporâneas a ele. Em um dos capítulos inicias da obra ele narra sua infância em uma bairro pobre e operário dos subúrbios de Londres. O local foi alvo dos bombardeios alemães durante a guerra construindo um cenário aterrador, uma desolação única que penetrou na alma de Keith e dos britânicos cuja infância se passou no início do pós guerra, com óbvias consequências na formação e estrutura pessoal de cada individuo. Tempos duros de pobreza e carência. Uma infância difícil, mas ao mesmo tempo rica em aspectos humanos, com personagens reais marcantes.
O interessante a observar é que na leitura da biografia do Black Sabbath, de Mick Wall, é possível estabelecer uma paralelo como o cenário descrito por Keith, onde nas narrativa surgem locais pobres e operários, desolados, cenários cinzas, marcados pela dura rotina do trabalho e oferecendo pouca ou nenhuma esperança de um futuro melhor para os jovens lá nascidos e criados.
Ao refletir sobre a qualidade da obra pude perceber que não se trata apenas de uma narrativa sobre a vida de Keith, mas uma reflexão sobre o impacto dos eventos históricos na vida do músico, assim como das pessoas do seu entorno. A obra é uma verdadeira aula de História, plena em vida, uma obra crua e direta. É possível perceber que o cenário histórico marcou profundamente cada pessoa e isso surge, de forma consciente ou inconsciente, nas letras das músicas criadas pelas bandas de rock dos anos sessenta, quando as crianças filhas da guerra se tornaram adolescentes. Para citar apenas um exemplo clássico, temos War Pigs do Sabbath. Podemos perceber em sua letra o impacto devastador da guerra e das suas consequências na vida das pessoas, temos assim uma relação direta, emocional e profunda do músico com sua história de vida.
Recomendo, e muito, a leitura da obra, onde o leitor poderá se deliciar com episódios pitorescos da vida de Keith e dos Stones como também com momento marcantes da história humana.
Longa Vida ao Rock!
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