Living Colour: Will Calhoun sabe mais sobre música brasileira que você
Por Leonardo Daniel Tavares da Silva
Postado em 09 de maio de 2018
Conversar com Will Calhoun, do LIVING COLOUR, que se apresenta nesta sexta-feira, no Tropical Butantã, na capital paulista, é praticamente conversar com um músico brasileiro. Você pode até esperar que um astro do show business internacional conheça nomes como SEPULTURA, ANGRA (caso sejam da comunidade Heavy Metal) ou Roberto Carlos, PARALAMAS DO SUCESSO, Tom Jobim... Mas jamais imaginaria encontrar um artista nascido no Bronx com um conhecimento tão profundo sobre música brasileira a ponto de citar nomes como Pixinguinha e Milton Banana Trio. Com uma genuína admiração por nossa música e nossa cultura, o baterista novaiorquino se mostrou ansioso para estar de volta ao Brasil em uma longa conversa dividida aqui em duas partes. Em primeiro lugar, falamos sobre o show, dia 11 de maio, mas falamos muito também sobre a própria cultura brasileira (como já adiantamos), sobre racismo e sobre o que mudou nos Estados Unidos com Obama e Trump.
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Confira aqui a primeira parte desta entrevista. E não deixe de conferir a performance ao vivo de Vernon Reid, Corey Glover, William Calhoun e Doug Wimbish>, o LIVING COLOUR, na sexta, no Tropical Butantã.
Realização e edição: Daniel Tavares
Transcrição e Tradução: Marialva Lima
Daniel Tavares: Primeiramente, a pergunta inevitável. Vocês virão ao Brasil no dia 11 de Maio e farão um show em São Paulo no Tropical Butantã. O que os fãs brasileiros do Living Colour podem esperar para este show?
Will Calhoun: Músicas novas do novo álbum, "Shade". E obviamente algumas músicas do passado, obviamente. O que os fãs podem esperar é um dos melhores shows da banda. Na história da banda, desde que viemos aqui pela primeira vez, os fãs brasileiros são os mais empolgados e cheios de energia e eles podem esperar um ótimo show. Nossa ideia é aproveitar ao máximo e tocar algumas músicas antigas e proporcionar uma nova experiência para os fãs no Brasil.
Daniel Tavares: Que legal. Vocês já vieram aqui outras vezes, quais lembranças você tem de nosso país? O que vocês gostariam de encontrar aqui novamente?
Will Calhoun: Tenho tantas boas lembranças que fica até difícil fazer uma lista. Toda vez que toco no Brasil é sempre incrível. Espero amor, respeito e amizade. Muita camaradagem. Tenho muitos amigos e grandes músicos lá com quem já fiquei tantas vezes em que fui ao Brasil. Já fiquei na casa deles por um mês, às vezes dois meses. Uma vez fui de carro de São Paulo à Recife e adorei. Visitei os pais dos meus amigos em Ubatuba, conheci o Carlinhos Brown. Tantas experiências incríveis. Já fui à uma escola de samba. Ivo Meirelles é um grande amigo. São muitas coisas inacreditáveis: a comida, a música, os músicos, as praias, os museus. O museu AfroBrasil é de um grande amigo: Emanoel Araujo. Este é um de meus lugares favoritos no mundo, para visitar e estudar sobre a cultura africana presente na cultura brasileira. Portanto, vou tirar um tempinho para ir ao museu. São muitas coisas maravilhosas e vou tentar ir em todas. Mal posso esperar para tocar, passear e sair com os amigos e também conhecer gente nova. Vocês têm uma música incrível. Incluindo músicos como Baden Powell, Pixinguinha, Milton Banana Trio, esse tipo de músicos. É maravilhoso poder pesquisar sobre períodos anteriores na história da música Brasileira. É maravilhoso voltar e ter tanta experiência neste um lugar maravilhoso.
Daniel Tavares: Sempre que entrevisto um artista seja ele americano ou inglês, pergunto sobre o que sabem sobre o Brasil e você acaba de me dar uma aula sobre cultura brasileira. Muito obrigado. Você fala português?
Will Calhoun: Infelizmente, não. Mas eu deveria. Fiz um documentário sobre maracatu que infelizmente nunca foi lançado na verdade. Foi só um curta de 20 minutos e a ideia era apresentá-lo na TV brasileira, mas não deu certo. Foi há 15 anos atrás e eu pretendo disponibilizá-lo gratuitamente no Youtube, pois é muito importante que as pessoas o conheçam. Foi quando andava muito com a turma do Chico Science. Naquela época eu era muito jovem, mas esses caras foram muito gentis comigo e me ensinaram sobre maracatu e sobre como a cultura angolana chegou ao Brasil. Aprendi muito sobre danças e músicas Angolanas em uma escola local. Talvez eu possa te mostrar quando eu for aí. Eu editei o filme e ficou bem curto, 20 minutos. Nessa ocasião, comecei a estudar um pouco de português. Infelizmente faz muito tempo e não tive mais contato depois de voltar à Nova York. Mas amo o país, de norte a sul, e tento visitá-lo sempre que posso. O Brasil é uma peça importante entre o continente africano, a cultura africana, a música e a cultura afro-americana. Eu sei que temos Cuba, Porto Rico e as ilhas caribenhas, mas o Brasil é uma peça chave. Sou baterista, portanto, para mim foi muito importante estudar e pesquisar maracatu e cultura angolana, os padrões musicais, já que este tipo de música influência muitos outros tipos, inclusive o tipo de música que fazemos aqui em Nova Orleans, em Chicago, Detroit e Nova York e até mesmo no Hip Hop. Estas conexões são importantes e eu, particularmente como percussionista, vejo o Brasil como uma biblioteca viva, ou um museu vivo para pesquisar, conhecer e conversar com outros músicos sobre música africana e música afro-brasileira.
Daniel Tavares: Estou surpreso e honrado com o que você me conta. Quero muito ver seu documentário no Youtube. Acredito que todos os brasileiros ficariam honrados em ver seu filme. É meu pedido pessoal. Se você puder disponibilizá-lo, por favor. Ficaremos honrados.
Will Calhoun: Claro, vou colocar no Youtube. São muitas pessoas que me ajudaram. O filme se chamava "Brazilian Connections". Cineastas e músicos brasileiros, a maioria foi como pais para mim. Muitos pessoas me ajudaram com este projeto. Todos trabalharam de graça. Eles se ofereceram para ajudar. Eu entrevistei os pais de amigos e traduzi e coloquei legendas no filme. Quando eu ouvi maracatu, fiquei todo arrepiado, sabe? Foi como se alguém tivesse eletrocutado meu cérebro, de uma maneira muito positiva. E eu quis imediatamente aprender sobre aquela música. Este foi o começo de minha jornada. Eu tenho que ser honesto com você, toda vez que fui ao Brasil, fiquei pelo menos uns três meses para aprender mais e conhecer gente. Uma grande amiga, Vera Figueroa, é percussionista. E quando vou ao Brasil, também dou aulas na escola da Vera. Quando ela vem aqui, retribuo e a apresento ao pessoal do jazz, do pop e rock. Ela está fazendo algo muito bonito. Eu estava tocando em um festival de jazz e fiquei muito impressionado em uma das apresentações que vi na escola dela. Ela conseguiu fazer meninas tocarem bateria e fiquei impressionado com o alto nível dos alunos. Jovens de 15, 16 anos tocando bateria com alto nível. Vera é alguém que eu vou visitar com certeza, na pior das hipóteses, tomaremos somente um café, mas estamos nos organizando para eu dar algumas aulas lá. E eu também faço aulas na escola da Vera [risos]. Elas sempre leva músicos brasileiros da velha guarda para ensinar samba e várias abordagens diferentes de tocar tambor. Estou muito ansioso pra voltar ao Brasil e vou levar meu filme para mostrar às pessoas. É algo que mudou minha vida como músico, como ser humano e como pesquisador. Estudei e fiz pesquisas com vários músicos ao redor do mundo e nenhum deles me falou sobre todas essas coisas. Acho que o Brasil é subestimado, mas é um elo importante entre vários outros tipos de música. As pessoas não sabem muito sobre jazz, funk brasileiro e reggae. Não posso falar pelos outros, mas para mim foi um tesouro poder conhecer e pesquisar. Portanto, estou muito ansioso e feliz para ir ao Brasil novamente. E tento sempre ficar o máximo que posso. Estou sempre mudando a data da volta. Apesar de ser tudo mais fácil com a tecnologia, com os downloads, com Spotify e esse tipo de coisa, nós deixamos de lado coisas que são para serem tocadas e sentidas. E a cultura no Brasil é muito palpável. É para ser tocada e sentida. E as pessoas são muito abertas. Naná Vasconcelos é como um pai pra mim. Ele foi alguém que me acolheu. Em 1989, em Nova Iorque, ele me disse que seria muito importante eu ir até o Brasil para aprender sobre música. Ele me disse que eu deveria até mesmo morar no Brasil por um tempo. E Naná estava certo. Sempre penso nele quando aterrisso e caminho um pouco no Brasil e quando como pão de queijo. Amo suco de cacau. A primeira vez que tomei, foi incrível. Tomei todos os dias. Até me apelidaram de Mr. Cacau. E açaí de verdade. Aqui [nos Estados Unidos] a gente tem uma versão diferente, mas o daí é de verdade. Tudo isso foi importante para meu conhecimentos sobre cultura e música.
Daniel Tavares: Agora eu gostaria que você mandasse uma mensagem para todos que vão ao seu show, especialmente, uma vez que é um show único no país, para aqueles que vão ir de outros estados para São Paulo, como por exemplo, aqueles que vão fazer o caminho contrário que você já fez, indo de Recife para a cidade de São Paulo para vê-lo tocar.
Will Calhoun: Em primeiro lugar eu gostaria de agradecer por todos estes anos de apoio desde o Hollywood Rock. Foram experiências que mudaram nossas vidas como LIVING COLOUR e que me mudaram pessoalmente. Para sempre. Estamos querendo voltar. Eu gostaria que pudéssemos fazer mais cidades, mas esperamos voltar em breve. Para todos aqueles que estão vindo, obrigado pelo seu apoio. E para aqueles que não puderem, nós vamos voltar para atingir outros lugares. Eu adoraria tocar em Recife, em Manaus, Fortaleza, tantos outros lugares. Tocar na Amazônia seria ótimo. Por favor, diga aos fãs que estamos nos estruturando com nossos novos empresários para voltar logo depois desta viagem para tocar para mais fãs brasileiros. Todo o amor e respeito do LIVING COLOUR. Obrigado. E para todos aqueles que puderem vir, espero que vocês se divirtam e aproveitem o show. Nós queremos dar aos fãs do LIVING COLOUR a melhor experiência de todas. Esta é a nossa meta.
Ingressos:
https://ticketbrasil.com.br/show/5799-livingcolour-saopaulo-sp/ingressos/
Pista: meia/promocional (R$ 160,00), inteira (R$ 320,00);
Pista Vip meia/promocional (R$ 220,00), inteira (R$ 440,00);
Mezanino meia/promocional (R$ 240,00), inteira (R$ 480,00);
Para ter direito ao ingresso promocional no valor de meia entrada é necessário doar 1 Kg de alimento.
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