Pantera: Rex Brown fala sobre possível retorno e sobre trocar baixo pela guitarra
Por Luiz Pimentel
Fonte: Blog do Luiz Pimentel
Postado em 17 de fevereiro de 2017
A Roadie Crew, que está sensacional com novo projeto gráfico, traz duas páginas de entrevista que fiz com Rex Brown, eterno baixista do Pantera. A íntegra segue abaixo.
"O Pantera veio em uma escalada de violência nos anos 1990 que culminou em 1996 com a morte (mesmo que por cinco minutos) do vocalista Phil Anselmo e o álbum mais pesado da trajetória, "The Great Southern Trendkill". Os quatro integrantes nunca mais se recuperaram desse ano. E o baixista Rex Brown conta como foi e como está sendo o lançamento da edição comemorativa de 20º aniversário do disco, com o original remasterizado e um CD extra com 12 faixas ao vivo e versões não lançadas até agora.
Na entrevista Rex Brown nega muita coisa. Nega por exemplo que havia animosidade entre os integrantes da banda, algo que já foi reconhecido pelos próprios diversas vezes anteriormente. Uma falta de comunicação que levou Phil Anselmo a mudar de volta para sua natal Nova Orleans, onde gravou os vocais do disco no estúdio de Trent Reznor, do Nine Inch Nail, e a banda gravar o instrumental em Dallas, no Texas.
Anselmo estava afundado em bebidas e drogas, principalmente heroína, para tentar maquiar dores excruciantes que sentia nas costas dos anos de frontman vigoroso anteriores. A droga o afastou dos colegas de banda e da realidade, tanto que logo após o lançamento do disco ele sofreu overdose de heroína e seu coração parou por cinco minutos. Algo que até poderia ser previsto em "Suicide Note Pt.II", a faixa mais pesada do disco e da carreira inteira do Pantera.
A escalada de destruição era visível. Depois do debute com "Cowboys From Hell" (não estou contando a fase hair metal anos 80), em 1990, foram cada vez mais pisando o pedal de peso, vieram "Vulgar Display of Power", em 1992, e "Far Beyond Driven", em 1994.
Contrário à lógica do mercado, que só tinha olhos em meados dos 90 para a perdida geração grunge e seus lamentos, o Pantera salvou a música pesada e viril à época. A ideia embrionária de "Far Beyond Driven" era ser mais pesado e extremo que "Vulgar...", que por sua vez era mais pesado e extremo que "Cowboys...". resultado? Número um na Billboard.
Dá para dizer que, conforme visto na edição anterior desta Roadie Crew, nossos compatriotas do Sepultura tiveram participação grande na manutenção da relevância do metal nesse período, principalmente com "Roots". Mas a carga maior era do Pantera.
Foi com todo o peso nas costas de terem salvo o metal dos camisas de flanela e também do nu metal que surgia que o quarteto lançou "The Great Southern Trendkill". Vinte anos depois um dos ícones das façanhas relatadas acima mostra-se um pouco cansado da vertente mais pesada da música, após duas décadas de Pantera, uma década de Down e mais alguns anos no supergrupo Devil Kill Hill.
O baixista Rex Brown fala sobre tudo isso e sobre sua nova banda, que terminou de gravar o CD de estréia numa pegada hard rock e rock´n´roll."
Roadie Crew: É o 20º aniversário do "The Great Southern Trendkill". Você foi consultado sobre o a edição comemorativa, com a remasterização do álbum original e a adição de materiais ainda não divulgados?
Rex Brown: Sim, fui. Primeiramente, eu trabalhei muito para terminar essas faixas para a segunda parte do disco. Claro que se estamos comemorando aniversário de 20 anos e relançando o trabalho, temos que colocar algo extra. Nós também estamos trabalhando em muita coisa que deve sair logo no próximo ano. Em 2017 lançaremos uma grande antologia do Pantera. Eu estou sempre cuidando dos negócios do Pantera, então sim, eu fiquei muito animado com este lançamento e com o próximo. Sempre estou tendo ideias sobre como podemos relançar nosso material e soltar coisas inéditas. Neste caso acabou ficando melhor do que eu esperava.
RC: A situação mais comentada sobre o álbum é sobre o clima em que a banda estava durante a gravação. Vocês ficaram no Texas enquanto Phil Anselmo gravou em Nova Orleans. Qual era o grau de animosidade entre os integrantes?
RB: Não existia animosidade. O que acontece é que nós estivemos na estrada direto desde que o Phil entrou na banda e começamos a gravar e lançar discos, em 86. Ele (Phil Anselmo) mudou de volta para Nova Orleans em 93. Só que até então nós estávamos na estrada constantemente.
RB: O Pantera se encontrava na época em uma zona de conforto, não havia drogas, não havia animosidade na banda, não houve nada disso. Tudo o que pode ser dito sobre isso é sobre estar nessa zona de conforto. Ao invés de voar três horas até o Texas, ele ia gravar em um estúdio que ficava no final da sua rua, apenas isso.
RB: Não acredite em toda essa besteira inventada.
RC: Vou usar uma citação sua, publicada em seu livro "Official Truth, 101 Proof: The Inside Story of Pantera", que é ótimo por sinal: "Não há um dia em que eu não pense no Pantera, que não sonhe com o Pantera, não tenha pesadelos com o Pantera. Está sempre lá, e eu acredito que vai estar para sempre". Faz três anos desde que você disse isso. Você ainda se sente assim?
RB: Bem, não mais. Isso foi escrito para um livro, aí tiram uma citação de todo contexto e vira uma sensação. Esse trecho é uma pequena parte tirada do que eu estava tentando dizer no livro, então é necessário colocar tudo em um contexto maior. Pantera foi uma grande parte da minha vida. Até que um atirador louco atirou no meu melhor amigo (o guitarrista Dimebag Darrell, morto no palco em dezembro de 2004, quando se apresentava com o projeto paralelo que mantinha com o irmão, Damage Plan). Ele (Dimebag) era meu braço direito, e tudo o que fizemos como Pantera só tinha sentido com ele. Nós morávamos juntos, nós começamos juntos, nós compunhamos juntos, sabe? Absolutamente tudo. E então, quando esse livro foi escrito, em 2009, eu estava ainda sob essa forte influência (do assassinato dele). Só que ao mesmo tempo, achei que tinha uma história para contar, porque na verdade nunca falei muito para a imprensa. Então, falando sobre isso novamente hoje, não. Isso tudo de certa forma já passou para mim. Quando isso foi escrito, foi no curto período de tempo depois do assassinato, e não tenho pesadelos mais, eu só penso sobre os bons momentos.
RB: Não há nenhum significado escondido em nada, é isso. Próxima pergunta.
RC: Podemos falar da sua carreira solo também, porque vi que você terminou de gravar seu álbum solo. E ele vai ser um álbum de rock’n’roll, não de metal. É verdade? Você pode nos dizer o que podemos esperar sobre ele?
RB: É verdade, estou finalizando o álbum. O que acontece é que estou na estrada há uns dois anos com o Kill devil Hill. Eu precisava vir para casa e não ouvir música, aproveitar a vida um pouco, ao invés de ser apenas um produto. Eu fui pra Nashville no último verão, encontrei um amigo que é um compositor incrível, o nome dele é Lance Harvill, e juntos, com meus sons e nossas composições, montamos 11 músicas. Nós fomos gravando em curtos períodos de tempo, talvez em talvez um mês durante o último ano. É um álbum difícil, e eu estou tocando guitarra e cantando nele, e o grupo vai se chamar The Rex Brown Band. O disco sairá provavelmente em maio. É matador, cara. Para mim, preso por tanto tempo atrás do baixo, poder só me divertir com a minha música e essas músicas matadoras é uma sensação incrível. Primeiro era só: "hey, só quero me divertir". Mas aí a coisa foi tomando forma, eu conheci esse baterista incrível, Christopher Williams, em Nashville, e ele me apresentou esse cara que tinha um estúdio. Nós nos tornamos melhores amigos, concordamos em tudo sobre como músicas são escritas, e todas as músicas foram muito bem boladas. Você vai ter que ouvir para saber do que estou falando.
RC: Quer dizer que você está tocando guitarra e cantando? Isso é uma ótima novidade. Eu ia te perguntar quem iria se juntar a você na Rex Brown Band, mas você já respondeu.
RB: Na verdade esses caras são só uma banda de estúdio. Para todos os efeitos, temos alguns grandes nomes que talvez se juntem a nós.
RB: Nós estamos no meio de mixagem e masterização.
RB: Ao mesmo tempo, eu comprei uma casa nova, derrubamos paredes… Tem sido bom esse lance todo de raízes ao invés de estar na maldita estrada por tanto tempo.
RB: Estou indo para Europa em junho ou julho, talvez agosto, e estamos planejando alguns grandes festivais por lá, e é dinamite, cara, estamos voltando pro jogo. Mas ao mesmo tempo eu não ficarei em turnê da mesma forma que antes.
RC: Isso significa que você está colocando em hiato o Kill Devil Hill?
RB: Está em modo de espera indefinidamente.
RC: Claro que eu não posso acabar a entrevista com duas perguntas. A primeira é: uma reunião do Pantera vai acontecer em algum momento?
RB: Nunca diga nunca, sabe? Nunca se sabe. Pode ser que sim, pode ser que não, pois não depende apenas de mim. Tudo o que posso fazer é tocar música. Tenho um dom que quero oferecer, e é tudo que eu posso fazer. Mas, não, como planos imediatos, não (há essa reunião do Pantera).
RC: E a segunda é: você quer falar da eleição do Trump ou não?
RB: Sim, quero falar sobre isso. Eu só sinto que aqui nos Estados Unidos todos nós temos que aprender a nos dar bem, independentemente de partidos, e nós precisamos entrar em sintonia como uma nação. Tivemos altos e baixos nesse país e é isso que o torna grande. Porque quando algo desse tipo acontece faz com que nos unamos e nos torna mais fortes. E é só isso que eu quero dizer sobre esse assunto.
Comente: O quanto você gostaria de um retorno do Pantera?
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