João Gordo: A gente gosta de gravar do jeito analógico
Por Pedro Zambarda de Araújo
Postado em 31 de maio de 2014
O cantor João Gordo (João Francisco Benedan) e o guitarrista Jão (João Carlos Molina Esteves) anunciaram nesta sexta-feira (30), em um evento na cidade de São Paulo, o novo álbum do RATOS DE PORÃO, "Século Sinistro". "Gravamos o disco num estúdio de fita [cassete]. A gente gosta de gravar do jeito analógico, né meu? Porque a gente não consegue se acostumar com Pro Tools e com esse som metálico de alumínio que existe hoje. O disco foi composto em três meses, mas tem ideias nele de anos. Juntamos os cacos e conseguimos fazer tudo nele".
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Gordo explicou que, de fato, o novo disco levou oito anos para ser produzido, desde "Homem Inimigo do Homem" (2006). No entanto, o artista defendeu que a banda não ficou parada neste tempo, soltou material ao vivo e continuou viva na alma dos fãs, que são fieis.
"Eu fui atrás dos bagulhos. A produção ficou sensacional, limpa e ainda soa como uma porrada. A concepção de capa, letra e composição é um dos melhores da nossa carreira", completa João Gordo. O artista Ricardo Tatoo fez a capa, que mistura Street Art com o fim do mundo e pessoas viciadas em smartphones. Uma das músicas do disco, "Viciado Digital", trata sobre este tema de capa. Tatoo é amigo de Igor Cavalera e investe em uma arte inspirada no grafite das cidades.
"O disco analógico cria uma sonoridade única, diferente dos digitais. Mesmo se a gente usasse o mesmo equipamento agora, a gravação não teria o mesmo som. Não sabemos se isso vai agradar os outros, mas a gente ficou muito feliz", completou o guitarrista Jão, reforçando a fala de Gordo.
Sobre supostas brigas, Jão e João Gordo comentaram os boatos. "Acho que ninguém é santo aqui, mas nós temos um lance de amizade que vai além das diferenças, qualquer que seja o lance musical. E cada um de nós tem a sua vida fora da banda, o que nos deixa bem menos paranoicos. A gente tem que saber relevar, senão não é amigo mesmo", explica o guitarrista. "É difícil conviver tanto tempo junto sem sair nenhuma treta, cara. Não vou dizer que foi fácil, porque foi difícil sim. Mas a gente dá a volta por cima, porque o Ratos é muito maior do que tudo isso. Só o fato de não ter muita grana envolvida, já deixa o nosso caso muito mais fácil. É uma coisa de amizade, não putaria ou passa perna. Saem uns paus às vezes, mas é muito raro. Tem que conviver junto. Vai fazer o quê? Acabar com a banda?", diz o cantor.
"Realmente é uma raridade. Quatro caras chatos juntos, cada um com seu estilo e ainda não sai porrada", diz também Jão. Gordo deu o complemento: "Só vai acabar a banda quando eu ou esse cara aqui morrer. A gente gosta pra caralho do som que fazemos".
Os temas do disco são atualidades, embora o Ratos de Porão tente manter o mesmo punk rock que consagrou a carreira deles. "O mundo hoje está muito louco. As pessoas querem compartilhar tudo no Facebook, ter briga online e a sua intimidade que se foda. Vivemos um século sinistro, realmente", comenta o Gordo.
O evento também exibiu duas cervejas que estão sendo lançadas pela banda, numa tática de marketing parecida com a do Iron Maiden: Uma bebida em homenagem aos 30 anos do primeiro disco do Ratos de Porão, "Crucificados pelo Sistema" (1984), e outra bebida personalizada com o nome do João Gordo.
"Pessoalmente eu acho que o disco não vai pegar todo mundo. A gente fala a verdade nas letras, sobre a merda que vai ser a Copa do Mundo, sobre a repressão da polícia nos protestos e tudo o mais. Cara que ouve MC Guimê, que ouve funk ostentação, nunca vai curtir o que a gente faz. Esses caras gostam de Mizuno, de marcas. Cada vez menos gente vai curtir o nosso som. E a gente ainda é tirado de burro por isso", finaliza o cantor.
Fotos: Kennedy Silva
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