N.O.W.: entrevista com Alex Mendonça
Por Pedro Henrique Nazareth
Postado em 29 de junho de 2013
Grande parte das bandas brasileiras de Rock não possuem uma grande reputação no cenário internacional por vários motivos como idioma, uma enorme barreira para se fazer sucesso fora, qualidade em relação aos concorrentes, o amadorismo em vários setores ainda é frequente, e principalmente por algumas não estarem na vanguarda em termos do que está tocando nas paradas de fora.
Porém isso não se aplica a todas os grupos. Um dos maiores sucessos esse ano na Europa é a banda brasileira de AOR (estilo do Journey, Boston e W.E.T. por exemplo) N.O.W. que lançou o seu segundo álbum, Bohemian Kingdom, e recebeu ótimas críticas de sites especializados em Rock.
Em conversa com o líder da banda, Alec Mendonça, ele expõe suas opiniões a respeito de vários assuntos ligados ao cenário musical para entender-mos esse paradoxo que é vivido pela banda, de sucesso fora e completo desconhecimento no cenário nacional.
Como é para você ser completamente desconhecido no Brasil e ter algum sucesso especialmente na Europa?
Eu não me importo, pois o mercado para o rock no Brasil inexiste. É simplesmente patético muitas vezes ter de tocar em troca de comida. Fico deprimido de ver bandas que eram de rock terminando a vida tocando Axé, Pagode e Sertanejo para sobreviver.
Qual sua opinião a respeito do atual cenário do Rock brasileiro? Existe algo que te chama atenção?
O cenário do rock no Brasil é ridículo, nenhum empresário se interessa por bandas daqui e os fãs não querem gastar o dinheiro deles com bandas daqui. Infelizmente é a verdade, palmas para quem incentiva e promove o rock no Brasil ainda.
E por quê não se vê muitas bandas brasileiras fazendo sucesso fora? O idioma é o principal entrave ou existem outros motivos?
O idioma é um grande entrave e os vocais também, pois as bandas de lá são tradicionais e ultra profissionais. Sem contar que aqui não damos importância as letras de músicas de rock, mas lá as letras importam e muito, aí o trabalho tem de ser minucioso, realmente único, singular e talentoso para chamar a atenção e se destacar no meio das outras milhares de bandas de lá.
AOR não é um estilo muito apreciado pelos brasileiros. Você acha possível uma mudança desse cenário com essas atuais conjunturas?
Nunca, a conjuntura para o rock e AOR lá fora está excelente, mas aqui no Brasil, como eu já falei, chega a ser patético. Existem os fãs desse estilo no Brasil, e eles são fieis e promovem você, mas é um público muito pequeno que não faria diferença para nenhum empresário na hora de bancar shows ou eventos para esses mesmos fãs.
A internet é um meio muito influente nos dias atuais. Qual o principal ponto positivo e negativo dessa evolução das comunicações para bandas como o N.O.W.?
A NET é algo excelente pois se você souber onde postar as suas coisas, as pessoas lhe reconhecerão. O site melodic rock do Andrew é excelente, postei um vídeo do N.O.W. lá e em 4 semanas já estava com mais de 3.000 visualizações, enquanto alguns posts anônimos não chegam a 300 muitas vezes. Não adianta postar rock onde se interessam por hip hop e vice-versa. Ou seja, você tem de saber usar a ferramenta que tem em mãos.
Com o lançamento de Bohemian Kingdom, existe algum projeto ou planejamento para se fazer alguns shows pelo mundo? Caso positivo, poderia nos adiantar algumas informações?
Não, o meu objetivo é só compor, compor e compor, para bandas ou trilhas sonoras. Logicamente, há no ar algumas conversas sobre eu e o Philip fazermos um Un-plugged na Califórnia com músicas do primeiro e segundo álbuns.
W.E.T. é considerado para muitos a grande potência do gênero AOR/MHR atualmente. Qual sua opinião sobre eles?
Infelizmente eu comprei o primeiro CD do W.E.T. escutei uma vez e coloquei na prateleira e nunca mais peguei. O preconceito do público no geral pelo AOR é por conta de tantas bandas soarem iguais e pela falta de originalidade, acho que nisso o W.E.T. não ajuda ao estilo não. Acho as letras do W.E.T extremamente infantis e as músicas muito clichês. Mas o trabalho que a Frontiers está fazendo de marketing é excelente e o JSS tem fãs pelo mundo todo, então......
Na Europa é comum se ver vários festivais de Rock e Metal durante a primavera e o verão. Quais os motivos de não se ter o mesmo no Brasil, que se limita apenas a poucos e dispersos festivais.
O cenário no Brasil inexiste e não há interesse dos empresários e nem do grande público, o negócio aqui é ver mulher pelada sambado, não que eu não goste, eu adoro, mas em termos musicais o Brasil anda paupérrimo ultimamente. Quer coisa pior do que a Ivete Sangalo abrindo o Rock in Rio? Não precisa nem comentar mais nada, não é?
Quais eram suas expectativas com Bohemian Kingdom antes do lançamento? E hoje, com pouco mais de 2 meses desde que foi lançado, algumas já foram alcançadas e ou superadas?
As expectativas eram muito boas, mas hoje, a realidade as superou. Nós estamos na verdade vendendo mais do que o W.E.T., se for na AMAZON da Inglaterra, verá que estamos em 8,147 lugar (quanto mais baixa a colocação maiores as vendas) enquanto, só para exemplificar, o W.E.T. está em 27,052. Sem contar a edição Japonesa do N.O.W. que está linda e com a faixa bônus LOVE ONE ANOTHER, que eu pessoalmente amo.
De todas as faixas já lançadas, a que mais me chamou atenção foi "Peace of Mind" do álbum Force of Nature. Você poderia falar um pouco sobre ela e qual foi sua inspiração para fazê-la? Alguma relação com a clássica faixa do Boston?
Me inspirei no Foreigner, não há nada do Boston nesta música. Sô o nome mesmo que é parecido. A minha inspiração foi a minha infância, na qual não conheci o meu pai praticamente...
A grande maioria das bandas de sucesso de AOR/MHR atuais sempre destacam influências como Journey, ToTo e Foreigner. Existe alguma banda ou cantor de algum estilo completamente diferente que te influenciou?
Na verdade nem Journey e nem Toto me influenciam em nada. Mas como eu ‘’bebo’’ da mesma fonte deles, de repente pode soar assim. Minhas principais influências são Queen, ABBA, Alan Parsons, Manfred Mann, Foreigner, Kansas, Supertramp, The Beatles, Magna Carta & Fleetwood Mac.
Quanto tempo foi necessário para fazer Bohemian Kingdom? Conte-nos como começou o projeto até o término com seu lançamento.
Foram 3 anos de árduo trabalho. Na verdade, se formos contar só o tempo que levou para gravar, editar, mixar e masterizar acho que foram uns 6 meses direto. Muitas sessões foram desmarcadas e muitas gravações adiadas por conta de vários compromissos, meus e dos músicos envolvidos. Comecei cantando melodias no celular enquanto viajava, transpondo para o violão em casa e depois fazendo os meus poemas ou contando as minhas experiências para depois musicá-las. Daí foi um passo para a casa do Jean Barros, colocamos tudo no computador, gravei as linhas de baixo, as vozes como queria e peguei tudo e enviei para o Philip colocar lead e back vocals. Viajei várias vezes a Jacarepaguá para gravar as guitarras e bandolins com o fantástico Juno Moraes, recomendadíssimo pelo Jean Barros e enviei tudo para a Escape. O presidente da Escape enlouqueceu, sério, me ligou e falou que estaria colocando o que há de melhor no mercado para a feitura do CD, para que ele se tornasse um clássico,e realmente, o trabalho de Lars Chriss no CD fala por si só, o cara é um monstro! Tive toda a liberdade do mundo para terminar o CD, da escolha da ordem das faixas, a capa, introduções, mixagem, masterização, afinal, tudo teve de ter a minha aprovação final, como deveria ser no caso de qualquer CD, o artista é quem deveria ter a palavra final. Então, estou satisfeitíssimo com o resultado, porque após esses 3 anos, o CD saiu exatamente do jeito que estava na minha cabeça, sem tirar e nem pôr.
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