Al Atkins: entrevista com a primeira voz do Judas Priest
Por Vicente Reckziegel
Fonte: Witheverytearadream
Postado em 07 de outubro de 2012
Algumas pessoas, mesmo providas de talento, por algum motivo, ou mesmo por um lance de sorte, acabam tendo um reconhecimento menor do que poderiam ter colhido. Esse é o caso do entrevistado de hoje, Al Atkins, primeiro vocalista do Judas Priest, que por motivos pessoais teve de deixar a banda justamente no ano anterior a explosão e reconhecimento mundial do Priest. Mesmo assim, Atkins demonstra uma felicidade por ainda estar em atividade, lançando discos solo, em demais projetos e com o Holy Rage. Nunca falando qualquer coisa de negativo de seus ex-colegas, pelo contrário, mostrando orgulho pelo que conseguiram, por também ter sido parte do grande Judas Priest. E com muitos projetos para serem concretizados nos próximos meses, Al Atkins demonstra que, se a fortuna nos foge as vezes por um lado, no outro podemos encontrar a satisfação profissional que desejamos.
Vicente - Quais seriam as melhores lembranças de uma carreira de mais de 40 anos?
Al Atkins - Com mais de 40 anos há tantas boas lembranças, mas o final dos anos 60 e início dos anos 70 foram um grande momento na música com tantas bandas aparecendo e mudando tudo, como Deep Purple e Black Sabbath, em 1968, e Iron Maiden e Motorhead em meados dos anos 70. Claro que eu estava no momento em um Judas Priest jovem e estávamos abrindo para bandas como Slade, Black Sabbath, Thin Lizzy e Budgie, só para citar alguns.
Ali por 68, outro jovem vocalista e amigo da minha cidade natal de West Bromwich, Robert Plant, em parceria com Jimmy Page, formou o lendário Led Zeppelin junto com um outro baterista local, John Bonham e John Paul Jones e que, dessa forma, colocou o mundo em chamas com o seu estilo pesado de Rock / Blues - memórias muito boas, grandes tempos eu diria.
Eu também tenho boas lembranças de turnê nos EUA com o guitarrista Dennis Stratton (ex Maiden) em 2006 tocando a partir de Tampa, Flórida por toda Costa Leste até Nova York. (Dias felizes).
Vicente - E o pior momento?
Al Atkins - Para mim, no Reino Unido, foi à explosão do punk. Eu sempre segui o progresso de músicos como Jimi Hendrix, Pink Floyd e Black Sabbath, mas a música punk era um animal diferente. Era tudo sobre táticas de choque, xingar, gritar e cuspir, e para mim foi a pior era da música, mas isso é apenas a minha opinião, porque havia um monte de garotos na época que gostavam.
Vicente - Você conseguiria imaginar, quando você começou na música, mais de quatro décadas atrás, ainda estar em atividade e dar uma entrevista para um site/blog brasileiro?
Al Atkins - De jeito nenhum, e ao longo dos anos eu continuei dizendo que este é meu último ano e que gostaria de me aposentar, mas então eu decido gravar outro álbum ou escrever um livro, e então algum jornalista me disse: "Olhe para o Dio, ele é mais velho do que você é, então continue em frente!" Ronnie era uma inspiração para todos os cantores e um vocalista incrível, mas infelizmente ele não está mais conosco.
Vicente - Vamos falar sobre o álbum "Serpents Kiss", lançado no ano passado, em seu projeto com Paul May. Como foi a gravação deste álbum?
Al Atkins - Paul tinha tocado na maioria dos meus primeiros álbuns solo, mas nós nos afastamos quando ele virou-se para a religião e se tornou um cristão renascido e eu formei o Holy Rage e peguei a estrada novamente.
O Holy Rage fez alguns shows memoráveis ao longo dos cinco anos em que estivemos juntos ao lado de bandas como 'Blaze Bailey', 'Skid Row' e até mesmo Graham Bonnet, em Hollywood, EUA, também gravamos um álbum auto-intitulado, mas por termos mudado a formação tantas vezes decidi fazer uma pausa no trabalho com a banda.
Então Paul me pediu para cantar em algumas músicas que tinha escrito, então pensei: por que não? E quando eu ouvi o que ele tinha composto me surpreendeu totalmente e eu acabei cantando o álbum inteiro, o qual ele intitulou Serpents Kiss".
Vicente - E a reação dos fãs foi como você esperava?
Al Atkins - A reação dos fãs e da imprensa musical foi incrível e o álbum vendeu bem a nível mundial, o suficiente para o nosso novo manager e a gravadora nos pedir para gravar novamente e, assim, nos últimos cinco meses temos trabalhado junto no intitulado ''Valley of Shadows'', e para mim será melhor do que o primeiro.
Este novo álbum sai em 05 de novembro e estamos realmente ansiosos para o seu lançamento, também chamamos o grande artista Rodney Matthews para fazer a arte da capa de novo.
Vicente - Neste álbum vocês tocaram uma canção do Kiss, "Cold Gin". Por que vocês escolheram essa música em particular?
Al Atkins - Bem, isto foi idéia de Paul novamente, depois eu sugeri que poderia ser uma boa jogada colocar um cover no disco. Paul é um grande fã do Kiss e ele veio com essa versão de "Cold Gin" e novamente eu fui nocauteado por ele. O fã clube do Kiss na Alemanha achou muito legal também.
Vicente - Um novo álbum em breve em sua carreira solo? Já se passaram cinco anos desde o grande "Demon Deceiver".
Al Atkins - Eu tenho estado tão ocupado gravando com o Holy Rage e os dois álbuns com Paul May e até mesmo com o novo compositor / guitarrista americano Andy Digelsomina, um cd duplo que será incrível.
Andy montou uma fantástica formação de vocalistas para o projeto, que inclui Robert Lowe (Candlemass), Mark Boals (Yngwie Malmsteen), Rob Diaz (Vestator), Veronica Freeman (Benedictum) Liz Vandall (Uli Jon Roth) Graham Bonnet e eu. Uau! Este álbum de Opera Metal tem lançamento previsto para o ano novo e eu não posso esperar.
Meus próximos dois álbuns previstos para o próximo ano será um "Best Of" e contará com algumas das músicas que eu escrevi ou co-escrevi ao longo dos últimos 40 anos como, "Victim of Changes" e "Cradle to the Grave". Também vai contar com alguns convidados e o outro álbum, acredite ou não será um acústico com Paul May.
Vicente - E há novos planos para o Holy Rage?
Al Atkins - Não no momento, mas talvez a gente vai se reunir no próximo ano para algumas datas selecionadas, já que fomos convidados a tocar num festival em Nova Deli, Índia, em março e é um lugar no qual nunca estive, de modo que me atraiu muito a ideia.
Vicente - Eu sei que você já respondeu esse tipo de pergunta tantas vezes, mas como você vê o seu tempo com o Judas Priest.
Al Atkins - Foi um grande aprendizado para todos os membros, éramos tão jovens na época. A banda foi formada em 69 e sai em '73, sempre será uma parte do meu coração, vendo-a subir a escada do sucesso para as alturas vertiginosas de ser um dos melhores shows de metal do planeta, com 40 milhões de álbum vendidos até hoje.
KK, Ian e eu todos tivemos essa determinação, na época eu estava com eles, mas por ser o único casado com um filho para criar e não muito apoio financeiro eu senti que eu tinha que deixar tudo e entrar um novo vocalista no meu lugar.
Robert Halford, outro rapaz local, veio e eles continuaram fazendo turnês por mais um ano. Quando finalmente eles assinaram um contrato de gravação, foi que acrescentaram outro guitarrista e então veio Glenn Tipton, a peça final do quebra-cabeça foi adicionada e o resto é história.
Vicente - Algumas músicas lançadas com Halford foram de sua composição. Qual é a sua favorita?
Al Atkins - A minha favorita tem que ser "Never Satisfied", que é a mais próxima que eu tinha escrito em 1972. "Victim of Changes" é a favorita dos fãs do Priest, mas ela foi "chutada" ao longo dos anos, até que se tornou o hino do metal que é agora.
Para os leitores que não conhecem a história é a seguinte: eu escrevi a primeira parte da música sobre uma mulher e foi intitulada ''Whiskey Woman'' e Rob escreveu a segunda parte mais lenta, e sua música era chamada ''Red Light Lady'' sobre outra mulher do mesmo gênero. A banda colocou as duas músicas juntas e re-intitularam ela como ''Victim of Changes''. Foi ótimo ouvir a banda tocar essas duas canções na Epitaph World Tour e depois de todos esses anos, ainda soava bastante impressionante.
Vicente - Você mantém contato com os membros da banda?
Al Atkins - Ian é o único que eu realmente mantenho contato, e participei de sua festa em comemoração aos seus sessenta anos, e relembramos muitas coisas sobre os velhos tempos entre um copo e outro de vinho – tudo muito legal!
Vicente - Após deixar o Judas, você tocou no Lion, o qual você mesmo falou que foi um grande momento em sua carreira, certo?
Al Atkins - Sim, depois de deixar o Judas Priest tive um trabalho regular para sustentar a minha família, mas queria ter uma outra banda, mas ainda manter o meu trabalho.
Então veio Bruno Stapenhill, o baixista original do 'Priest', Harry Tonks na guitarra, que foi um dos melhores nesse negócio, Pete Boot na bateria, vindo do 'Budgie', e eu nos vocais. Denominei a banda de Lion e nós éramos um bando de caras loucos se divertindo, que nunca pensaram em fazer disso algo grande, mas só queríamos ter um bom tempo. Não me entenda mal, nós éramos uma banda quente e tivemos 4 grandes shows no famoso Marquee Club, em Londres. Também na banda estava o engenheiro 'Big Mick' Hughes que agora é engenheiro de som do Metallica e Slipknot.
Vicente - O que você conhece do Rock e Metal no Brasil?
Al Atkins - Não muita coisa, mas eu sei que é forte, com um monte de grandes músicos lá fora. Duas bandas que eu ouvia e gostava muito eram "Angra" e "Sepultura".
Vicente - Em poucas palavras, o que você acha sobre esses artistas?
Bruce Dickinson: Homem superior e um grande frontman
Dio: Não poderia ser melhor, mas, infelizmente, o perdemos.
Rob Halford: O deus do metal. (Aposto que ele está feliz que deixei a banda. (risos).) Gama fantástica de vozes.
Paul Rogers: Uma grande influência para mim nos meus primeiros anos. Voz muito distinta.
Robert Plant: Este homem influenciou uma geração de cantores. Cabelo, muitos maneirismos, vocalista de boa aparência, ótimo cantor. Eu odeio ele! Brincadeira, adoro o cara.
Vicente - Por fim, deixe uma mensagem para todos os brasileiros que gostam ou queiram saber muito mais sobre a sua música.
Al Atkins - Só gostaria de dizer obrigado a todos os que acompanharam a minha música ao longo dos anos e tem um olhar para o meu material novo, vale a pena ouvir e um grande agradecimento a você Vicente por esta entrevista. Mantenha a bandeira do Metal voando para todos!
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