Chaos Inception: entrevista ao blog Som Extremo
Por Christiano K.O.D.A.
Fonte: Som Extremo
Postado em 13 de agosto de 2012
Quando se fala em banda desgraçadamente brutal, pipocam na mente Krisiun, Hate Eternal, Nile e afins, mas poucos dão atenção a grupos como a Chaos Inception (EUA), que lançou um dos discos mais extremos de 2012 – "The Abrogation" (ler resenha em http://somextremo.blogspot.com.br/2012/06/chaos-inception-abrogation.html). O blog Som Extremo conversou com o guitarrista Matt Barnes, que falou do novo trabalho, abordando o processo de composição e suas inspirações. E o músico se revelou um grande conhecedor e fã do underground brasileiro, que influencia a Chaos Inception. Vamos ler, né?
Som Extremo: A Chaos Inception ainda não é muito conhecida no Brasil. Por favor, conte-nos a história da banda.
Matt Barnes: Nós formamos a banda há cinco anos. Entretanto, estamos envolvidos em bandas de Death Metal, de um jeito ou de outro, desde os anos noventa: Fleshtized, Spinecast, Quinta Essentia, Temple of Blood, LisiyaGori, Convergence from Within e Blood Stained Dusk – essas são as bandas pelas quais os integrantes passaram. Então, somos veteranos no Metal e, no entanto, finalmente conseguimos a combinação certa de indivíduos com o conceito certo para o Chaos Inception. No meu caso, a banda é a primeira na qual criei a maior parte das composições, sem ter que seguir nenhum líder. Então, para mim, é liberdade.
Som Extremo: Vocês não lançaram nenhuma demo. Ao invés disso, foram dois ‘full lengths’. Como conseguiram isso?
Barnes: Lançar uma demo é basicamente a masma coisa que lançar um álbum atualmente. Antes, as demos eram gravadas até então para que você convencese uma gravadora a te dar dinheiro para gravar, já que o processo era muito mais caro antes do digital. Agora isso é barato e se você tem músicas o suficiente, pode gravar um álbum e encontrar um selo para lançá-lo.
Som Extremo: "The Abrogation" é um dos mais extremos lançamentos do ano. O que pode dizer sobre o álbum? Por favor, conte tudo, ok? (risos)
Barnes: Responderei essa um pouco diferentemente do que tenho feito em outras entrevistas. Eu me lembrei disso ao ler uma entrevista com Glenn Tipton sobre como escreveu as músicas: ele disse que poderia ligar o rádio e escutar o que estava tocando, e ficar tão bravo com a canção horrível. Isso o inspirava a escrever a sintonia do Metal agressivo. Não é só o Death Metal underground, mas o Metal em geral, ou o que está sendo chamado de Metal, que tenho tido problema. Existem grandes estrelas na cena hoje em dia e odeio a maior parte delas com paixão. Não apóio bandas com uma imagem acima do que ela realmente é. Acho que isso é uma coisa que faz de nós uma banda de Death Metal dos anos noventa, ou o que quer que seja. A maioria das novas bandas têm "truques", enquanto as antigas apenas tocavam com suas calças de moletom – esses somos nós. Não estamos vestidos como umas porras de palhaços e posando com nossos instrumentos, enquanto não somos capazes de tocá-los. Então, "The Abrogation" é um dedo do meio na cara desses posers. Também desprezo bandas que são saudadas como geniais por ficarem copiando outros artistas e colocando isso em uma música de Metal, fazendo o tão chamado Metal único. Interlúdio acústico, merda allternativa, post-Rock, o que for. Não tenho nada contra influência de fora, mas tem que ser assimilada, e não recortada e colada. Dá trabalho fazer a coisa certa. Mas bandas que são hacks totalmente genéricos podem adicionar pedais de efeitos e limpar a passagem para a sua música e de repente são gênios, para os críticos. E várias vezes, esses grupos conseguem cobertura porque pagaram pessoas certas para tirá-las de lá e receberem boas resenhas, ao invés de começar com os fãs. E gritar "Satan" nunca feriu ninguém no Metal. Assim, no que diz respeito à música, temos um monte de questões de raiva, não menos do que são os anos em que trabalhamos arduamente com basicamente nada dando certo para nós, até recentemente. De qualquer maneira, apesar de tudo, eu queria que o álbum fosse como uma carreira de cocaína, com poder e adrenalina que durassem.
Som Extremo: O que pode dizer sobre a maravilhosa capa? Como foi sua concepção?
Barnes: Paolo Girardi é um grande artista para o Metal. Se ele continuar, no ranking da Seagrave e outros um dia. Fomos muito sortudos por trabalhar com ele. A ideia era bem básica, um cenário típico do fim do mundo, acrescentando que, após isso, o verdadeiro final surge da Terra - tentáculos negros que enchem os olhos e a boca. É a possessão pela forma de espírito da morte.
Som Extremo: Letras: qual a mensagem que vocês querem passar?
Barnes: Quando as letras não estão contando uma história, são um encantamento de vontade. Então, há letras que se aproximam de Nocturnus ou Iron Maiden – ficcionais como "Lunatic Necromancy" ou "Exterminatti" – e também as mencionadas de encantamente de vontade, como "Hammer of Infidel" ou "Phalanx (The Tip of the Spear)". Somos pessoas da classe trabalhadora, daquelas que ralam todos os dias. Então, para descontrair, precisamos de algum tipo de ficção louca. Logo, quando acordamos de manhã ou temos uma dura tarefa bem diante de nós, precisamos convocar a vontade para superá-la. Portanto, para nós, a música é uma ferramenta. Não somos nós tentando convencer você de que somos genuínos, ou demônios, ou qualquer coisa. Se não quiser usá-la (a ferramenta), encontre outra.
Som Extremo: Algumas das músicas são escritas em primeira pessoa. De onde vem a inspiração? Seria correto dizer que algumas são abstratas ou todas elas têm realmente um significado?
Barnes: Desde a faixa de abertura em nosso primeiro álbum – "Becoming Adversary" – sempre exploramos a possessão e a capacidade de matar em toda a humanidade. É espantoso saber que uma doença cerebral pode tomar conta de qualquer um de nós ao acordarmos num belo dia, e nos tornar insanos e homicidas. A perspectiva em primeira pessoa no novo trabalho significou entrar em uma pessoa insana ou possuída e mostrar seus pensamentos desarticulados, e refletir isso na música. "Black Blood Vortex" e "Lunatic Necromancy" são tentativas nesse sentido. Acredito que essa seja uma ideia original no Death Metal. Contudo, obviamente não é uma reinvenção da roda. Portanto, temos temas de estilos de Death familiares – morte, insanidade e demônios – mas não penso que uma aproximação como essa antes, onde os demônios não são reais, mas a insanidade sim. Não lemos livros de magia ou o Necronomicon e pegamos e usamos um monte de palavras dessas obras nas letras. O Necronomicon é ficção, todos sabem disso, certo? Por que não temos nossas próprias ficções, já que, de fato, não somos muito diferentes de escritores de testos ou diretores de filmes? E também, as pessoas insanas não têm ideias ordenadas ordenado, visões de mundo coerentes, e seus pesadelos não têm lógica.
Som Extremo: Vocês fazem um tipo de mistura do estilo Death Metal: o da Flórida ("new school", como a Hate Eternal) e o brasileiro. O que mais pode falar sobre isso? Há outras bandas brasileiras que influenciam vocês, além da Krisiun?
Barnes: Escuto materiais obscuros e misteriosos e, várias vezes, bandas de outros países, sendo que, como as letras não estão em inglês, podem gerar esses efeitos (obscuros e misteriosos). A Sarcófago é a minha favorita de todos os tempos. Não apenas o "INRI", que todos conhecem, mas todos os seus álbuns são ótimos. Adoro o "Morbid Visions", da Sepultura – acima dos outros álbuns deles, por alguma razão estranha – os solos do Jairo são bem chocantes, totalmente loucos. Eu meio que coleto bandas de Death Metal da América do Sul nesse estilo, embora eu realmente não diferencie todos os países tanto quanto deveria. Então, tenho todos os materiais da Holder, Mental Horror, Queiron, Abhorrence, Ophiolatry, Vulcano, Mystifier e Nephast. Existe a barreira da língua que, às vezes, soa estranho quando a letra está em inglês, e também você pode sentir as ruas em suas músicas. Mas, musicalmente, respeitamos as bandas de Death mais novas e não nego que elas talvez tenham nos influenciado. Entretanto, nós nos esforçamos muito para não copiá-las. Assim, acho que você será desafiado a encontrar algum riff que roubamos de alguém. Se você não conhece a história, está condenado a repeti-la. Então, conhecemos Metal e não copiamos e nem repetimos a música de ninguém.
Som Extremo: Realmente preciso saber: o baterista Gary White é humano ou uma bateria programada? (risos)
Barnes: Nunca vi ninguém tão dedicado ao seus ofício, que não aceita falhas, como Gary. Ele é rápido e isiste que eu o acompanhe. Se você prestar atenção, a maioria das outras bandas como a nossa não faz isso. Ele realmente me empurra para o limite. Às vezes, isso não é uma coisa legal, como quando discutimos o refino da música, eu diria. Tento levar as coisas para a sujeira, quero transmitir a doença e a estranheza. Gary não fica muito interessado nisso, em oposição à supremacia do Death Metal e o triunfo pessoal acima da dor e da fraqueza – esses são os métodos dele. Claro, a geração mais nova, com vídeos instrutivos e acesso aos bateristas top conseguem isso bem mais facilmente do que a geração de Gary. Ele teve que descobrir por conta própria ou falar com Pete Sandoval nos bastidores para compreender completamente o lado técnico de se tocar Death Metal. Hoje, você pode simplesmente assistir a um DVD.
Som Extremo: Quão difícil é tocar Death Metal, em especial, o brutal e tecnico como o de vocês? Na sua opinião, qual o diferencial da Chaos Inception?
Barnes: Como mencionei antes, Gary me empurra para o limite e esse tipo de música é muito difícil para eu tocar. Seria muito mais fácil tocar algo como Accept ou Iron Maiden. Com nossas músicas, tenho que respirar fundo no começo e soltar o ar no final. Bem, isso acontece por causa das limitações técnicas talvez de minha parte, mas você não pode dar uma bicada na guitarra e com isso, fazer o som correto. Mas tem que haver um certo esquecimento da técnica também. Não somos a banda mais técnica por aí, mas eu diria que combinamos técnica com Crust e solos clássicos de Metal. Não vejo muitas outras que fazem isso. Acho que isso só será mais óbvio em futuros lançamentos, porque tem sido um equilíbrio difícil de conseguir. Acho que vai ser a nossa marca, antes de tudo. E tenho dito.
Som Extremo: Existem planos para um DVD ou ainda é cedo para se pensar nisso?
Barnes: Se fizemos um show com um bom palco e luzes e umas poucas câmeras, gostaríamos de fazer isso. Entretanto, estamos sempre tocando exclusivamente em buracos de merda, e com filmagem muito fraca para o que gostaríamos para os fãs.
Som Extremo: E um videoclipe?
Barnes: Há aqueles clipes com letras nos trabalhos. Temos discutido sobre um vídeo. Podemos fazer isso em breve.
Som Extremo: Planos para virem ao Brasil?
Barnes: Bem, eu poderia ser chamado para tocar com a Monstrosity, mas não sei se algum organizador está afim de se arriscar com a Chaos Inception ainda. Nunca estive no Brasil e sou um fã da música do país. Então, irei algum dia para ver o que há nessa água, que gerou Sarcófago e Krisiun.
Som Extremo: Agradeço demais a entrevista. Por favor, deixe uma última mensagem.
Barnes: Obrigado pela entrevista. Quero chegar aos seus leitores, se forem nossos fãs, e agradecer você pelo apoio. Sem os fãs, a Chaos Inception não é nada.
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