Arch Enemy: "A música tem um poder imenso, especialmente o metal!"
Por F. C.
Fonte: About.com
Postado em 17 de outubro de 2009
As músicas do último CD do Arch Enemy "The Root of All Evil" são regravações do material inicial da banda, bem antes de Angela Gossow se tornar vocalista. Johan Liiva foi o primeiro vocalista da banda que gravou os três primeiros álbuns: "Black Earth" (1996), "Stigmata" (1998) e "Burning Bridges" (1999). Mixado e masterizado por Andy Sneap, "The Root of All Evil" apresenta clássicos como "Beast of Man" e "The Imortal".
Entrevista por Chad Bowar
Conversei com Angela Gossow sobre como o álbum surgiu, alguns destaques da temporada dos festivais de verão, os planos de turnê e o efeito que a música do Arch Enemy tem tido sobre os fãs, e muitos outros temas.
Chad Bowar: Como surgiu a idéia de regravar o material antigo para que o álbum "The Root of All Evil" viesse a acontecer?
Angela Gossow: Ela veio de nossos fãs, que têm nos perguntado e incentivado sobre isso por algum tempo. As pessoas que têm conhecimento das gravações mais antigas estão curiosas para saber como soaria com o novo Arch Enemy, e outras desejam que nós comecemos a tocar algumas destas músicas ao vivo. Muitos dos nossos jovens fãs não sabem nada sobre essas gravações. A primeira foi há 13 anos, e alguns desses fãs não são muito mais velhos do que elas. A garotada tende a buscar hoje o que está por perto. Quando você fica mais velho, você começa a olhar para trás, focando-se em algo mais antigo da banda. Esperamos satisfazer os fãs antigos e novos da banda, e tocar as músicas antigas ao vivo novamente.
Chad Bowar: Como vocês decidiram quais músicas deveriam ser gravadas novamente, houve alguma divergência?
Angela Gossow: Nós não discutimos nesta banda, para começar, e não iríamos discutir sobre a escolha das músicas. Quando você ouve os álbuns, é bastante óbvio que seriam escolhidas as faixas mais fortes, as que funcionam melhor ao vivo. Escolhemos as faixas que poderíamos imaginar-nos tocando ao vivo. Este foi o critério número um. Existem algumas faixas que soam perfeitas em uma gravação, mas que não alcança a vibe toda ao vivo. E nós temos tocado algumas destas músicas ao vivo. Estamos contentes por saber quais queríamos escolher.
Chad Bowar: Vocês quiseram produzir o CD?
Angela Gossow: Sim. Principalmente Daniel. Ele é o nosso cara (ProTools guy), nosso técnico (technical geek). Ele faz um monte de gravação em casa. Na verdade ele mesmo gravou a sua parte na bateria, o que foi bastante surpreendente. Quando eu gravei os vocais, Michael foi o responsável pela engenharia. Chris gravou o baixo, e a outra guitarra. Todos estavam envolvidos. É tão fácil hoje em dia executar um programa básico de gravação. Mas quando se trata de mixagem e masterização, você tem que repassar para alguém que entenda melhor do assunto, porque requer um pouco mais de habilidade.
Chad Bowar: As músicas para este álbum, naturalmente já estavam escritas, mas o seu processo de gravação levou a mesma quantidade de tempo de um álbum comum, ou foi mais rápido?
Angela Gossow: Foi muito rápido. Quando você grava um novo álbum, você tem um período bastante auto-crítico. Você grava a maior parte dele, olha para o material e acha uma porcaria, e, em seguida, começa do zero. Nós não tivemos nenhum desses momentos de crise, nada de sessões de terapias, choros. (risos)
Chad Bowar: Quando você gravou os vocais, você tentou ser fiel ao estilo original, ou tentou colocar o seu próprio estilo sobre eles?
Angela Gossow: Eu havia cantado algumas dessas músicas antes, e há, obviamente, partes onde as letras exigem um certo ritmo. Eu não tentei copiar Johan, porque ele tem um estilo de vocal muito diferente do meu. Ele tem um tom diferente, e ele gosta de fazer um monte de coisas, flutuando livremente, ignorando o padrão rítmico. Mas ele faz isso de uma forma que soa legal. Mas eu sou tão Alemããã. Quando eu ignoro o padrão, eu sou horrível.
Chad Bowar: Qual música foi o maior desafio para você vocalmente?
Angela Gossow: Eu não tenho sentimento algum para qualquer coisa que use compassos fora do padrão. Por exemplo, em "Silverwing" ou "Beast of Man", tenho que acompanhar os compassos mesmo no palco. Tenho que usar minha mente em vez de minha alma e coração. É um pouco menos agradável. Músicas com andamentos estranhos são as mais difíceis.
Chad Bowar: O Arch Enemy tem mantido um calendário com períodos de dois anos entre um álbum e outro. Isto significa que o próximo disco com material inédito acontecerá até 2011, ou será antes?
Angela Gossow: As pessoas têm nos dito que estamos lançando coisas demais. Houve uma série de relançamentos e uma coletânea. Eles dizem que temos algo que sai a cada seis meses. A gravadora com certeza gostaria de ver a banda dar a luz a um bebê a cada 8 meses. Mas nós estamos planejando entrar em estúdio no Outono de 2010 e talvez finalizá-lo na Primavera de 2011. Isto parece uma programação descontraída para nós, porque temos uma grande quantidade de material. Temos escrito desde 2007, mas não queremos lançar em um curto espaço de tempo, porque as pessoas ficam realmente cansadas disso.
Chad Bowar: Você está se preparando para uma turnê que acontecerá na Rússia e na China. Você já foi à China antes?
Angela Gossow: Sim, estávamos lá no final de 2007. É muito diferente por lá. Havia militares fardados com metralhadoras dentro do local, algo que não estou tão acostumada. Estávamos um pouco nervosos. É intimidante olhar para uma metralhadora e não saber o quão longe você pode ir, e como podem estar os oficiais chineses com este tipo de auto-expressão em um show de metal. Então, no final, alguns fãs quebraram as barreiras e fizeram mosh na frente. Eu não sabia como os oficiais iriam reagir, mas eles simplesmente se afastaram e tudo foi legal. É uma vibe diferente lá.
Chad Bowar: Os cds não estão comercialmente disponíveis na China, mas os fãs ainda conseguem obtê-los. Você sabia que o público conhecia as letras de suas músicas?
Angela Gossow: Absolutamente. Eles não podem acessar o nosso site ou o YouTube, porque é tudo bloqueado pelo governo. Nós estamos na lista negra, acho, porque nos chamamos Arch Enemy, e porque temos uma música chamada "Revolution Begins". Na verdade, tivemos que apresentar a letra antes de irmos para lá. O governo confere tudo. Nós, naturalmente, não apresentamos a faixa "Revolution Begins." (Risos) Todo mundo sabia a letra. Foi incrível. Eles têm maneiras para fazer música. O mercado pirata é enorme na China.
Chad Bowar: Você está bastante ocupada pelo resto do ano, com turnês pela Europa e em outros lugares. Você tem planos de voltar à América do Norte, talvez no próximo ano?
Angela Gossow: Sim. Planejamos algo próximo, no início de janeiro. Estamos tentando fazer a rota, e procurando evitar qualquer Megadeth ou Slayer em datas próximas! Já sabemos as cidades que vamos tocar, estamos apenas trabalhando nas datas. Não é uma boa idéia nos confrontarmos com qualquer outra grande turnê. Mas a garotada poderá se dar ao luxo de ir a tantos shows. Acho que começaremos a turnê em meados de janeiro e íremos até o início de março. Estamos definitivamente mais próximos.
Chad Bowar: O que você sente em relação à maioria dos outros lugares ao vir para os EUA em turnê?
Angela Gossow: Eu realmente gosto muito da América. Não tenho nenhum sentimento negativo em relação à América, em qualquer questão. Eu acho um lugar bastante vasto, com grandes oportunidades. Acho que os americanos possuem uma mente mais aberta para as mudanças mais rápidas. Eles podem se adaptar um pouco mais rápido. Eles são muito mais acolhedores aos estrangeiros. A hospitalidade é muito grande na América. As pessoas são bastante prestativas, e eu realmente sinto falta disto na Europa Setentrional. Em um restaurante lá ninguém lhe serve, nem olha para você durante 20 minutos até que você acene ou grite para eles. Isto não acontece na América, porque as pessoas são muito atenciosas.
Isto é ótimo quando você está em turnê, porque você confia em vários serviços na estrada. Você come muito fora, você precisa fazer compras no meio da noite. A América é um grande país, cheio de possibilidades. Você sempre pode conseguir tudo, a qualquer hora do dia. Quando você está sem nada na Alemanha ou na Suécia, no meio da noite, ninguém vai querer abrir uma porta para você. Ninguém vai lhe vender papel higiênico ou creme dental. Você simplesmente está ferrado. É ótimo estar na estrada em um ônibus de turnê nos EUA e realmente é muito chato estar na estrada em um ônibus de turnê na Europa. É uma grande diferença.
Chad Bowar: E já que você é vegetariana, é fácil encontrar este tipo de comida nos EUA?
Angela Gossow: Mesmo se você for a um restaurante especializado em carne, eles sempre te preparam algo vegetariano. Eles te ajudam, são criativos. Na Suécia, eles dizem: "não está no menu, sinto muito." Eu adoro todas comidas dos mercados comuns. Eu sou provavelmente sua melhor cliente quando estou no país.
Chad Bowar: Quais foram alguns dos destaques da temporada de festival de Verão este ano?
Angela Gossow: Foi, definitivamente, o Monsters of Rock, na República Checa. Realmente é um grande festival. Eu não esperava que haveria mais ou menos 40.000 pessoas por lá. Não temos tocado tanto na Europa Oriental. Tocamos logo após a Europa. Foi incrível. Eles estavam cantando juntos e conheciam as músicas. Foi algo completamente inesperado.
Angela Gossow: Tocamos pela primeira vez na Turquia, em Istambul. Foi um grande show, com grande público, todos estavam cantando as músicas. Nunca tínhamos tocado por lá. Isso mostra como é grande o poder da internet. Eles só tinham conhecimento do Arch Enemy através do YouTube ou na rede. Eu não sabia o que esperar. Istambul é uma cidade bem moderna, muito mente aberta, e bastante Europeu. Fomos também a Dubai este ano, pela primeira vez, e tinha uma vibe tão grande quanto. Eu, de fato, não tinha idéia alguma de como seria o Oriente Médio, mas isto me deu uma visão bastante positiva em relação a sua cultura.
Chad Bowar: Seu amigo e parceiro de banda, Michael Amott, esteve bastante ocupado nos últimos dois anos, com a reunião do Carcass. Olhando para vários anos atrás, você imaginava que eles iriam voltar juntos?
Angela Gossow: Sim, porque eu sempre incentivei ele. E disse a ele que todo mundo gostaria de vê-lo ao vivo. Venho perguntando a ele desde que entrei no Arch Enemy. "E sobre o Carcass?" Bill Steer nunca foi a favor de uma reunião do Carcass. Conversamos com ele até à morte, e finalmente ele concordou em tentar. Dissemos que ele faria apenas uma jam. Basta vir, é uma hora de vôo de Londres. E foi assim que tudo começou. Foi uma grande oportunidade, boa demais para deixá-la ir. Há obviamente um forte interesse no Carcass. Todas as bandas, eventualmente, chegam a se reunir, se as pessoas continuarem insistindo e pergutando por elas. Este é o poder do povo.
Chad Bowar: A música realmente tem um forte impacto sobre os fãs de uma banda. Quais são algumas das histórias que você já ouviu de alguns de seus fãs sobre como a música do Arch Enemy tem os influenciado?
Angela Gossow: A música tem um poder imenso, especialmente o metal. Há muita vida neste estilo, muito contagiante, é uma música bastante canalizada agressivamente. Já ouvi muitos fãs que me contaram que nossas músicas os impediu de se ferirem, e até mesmo de cometer suícidio. Crianças são muito vulneráveis. Entre a faixa dos 14 e 18 anos, todos vivem um verdadeiro inferno. Escola, professores, pais, todos mantendo-os para baixo, é muita pressão. Se eles não encontrarem uma forma para se livrar disto, acabam se rendendo a esta pressão. Alguns chegam a manter relações sexuais com várias pessoas, outros tentam matar a si mesmos.
Eu posso me relacionar a isso. Quando tinha meus 15 anos, eu realmente tinha dias muito ruins, e iria ouvir bandas como Morbid Angel, Carcass e Metallica, e isto me deu alguma força e energia, que levou embora este fardo pesado do meu coração, tempo suficiente para poder viver outro dia. Um monte de garotas vão aos shows para agradecer-me por ser este modelo. Sou bastante franca em relação a como era na minha adolescência. Eu tive que lutar com um sério problema de transtorno alimentar. Todos me agradecem muito por falar sobre o assunto e por dar bastante força através da música. Eles dizem que querem fazer isto terminar, e sair dessa, e não se matar.
Chad Bowar: Sua música tem mudado e salvado vidas, algo que tem que ser reconhecido.
Angela Gossow: Eu acho que é apenas arte. Eu não vejo isto como se o Arch Enemy estivesse salvando vidas. Isto é a música que nos conecta a um nível pessoal. Isto é o que eu tento fazer com as letras também. Não escrevemos letras sobre monstros imaginários ou fantasias. São letras realistas com que nossos fãs podem se conectar. Músicas como "We Will Rise" que nos dão um senso de união e de que pertencemos a algo, e que nos dão força. É importante para mim poder passar isto na música.
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