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Andre Matos: entrevista com o tecladista Fabio Ribeiro

Por Raoní Teixeira
Fonte: Andre Matos Solo FC
Postado em 07 de março de 2009

A entrevista abaixo foi publicada originalmente no Andre Matos Solo FC:

Você começou a tocar piano ainda quando criança, e se formou por volta dos 17 anos. Como seus pais são músicos, foram eles que te influenciaram para sua inicialização musical desde cedo?

Fabio: "Sim, totalmente. Meu pai era professor de violão erudito e tinha um conjunto de chorinho. Minha mãe tocava piano. Quando eu nasci, ele disse a ela que eu deveria tocar algum instrumento, o qual eu mesmo deveria escolher quando tivesse mais idade, mas que eu não iria escapar da música de jeito nenhum. Ele sempre dizia que a música engrandece a cultura e a sensibilidade de um indivíduo e eu também sempre concordei com isso. Minha casa sempre foi muito 'musical'. Nas minhas mais remotas lembranças eu ainda consigo visualizar ele e a banda ensaiando aqui, coisa que não mudou com o passar das décadas. A maioria das minhas bandas sempre ensaiou aqui, e agora tenho um estúdio de gravação que tomou metade da casa'.

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"O lance da escolha pelo piano na verdade foi um 'acidente'. Um vizinho meu ganhou dos pais um daqueles pianinhos de brinquedo. E eu, como qualquer criança, fiquei morrendo de vontade de ter um também. Aborreci meus pais com isso durante um bom tempo, até que em um belo dia um caminhão encostou aqui na frente e descarregaram um piano de verdade. Isso foi em 1975. No início eu não me adaptei muito facilmente a todo aquele ritual de ir às aulas e estudar pelo menos duas horas por dia. De vez em quando eu até cabulava as aulas, uma vez fui atropelado em uma dessas escapadas e tive um grande problema com meus pais".

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"Mesmo assim fui me desenvolvendo. Fiz meu primeiro show ao vivo aos sete anos de idade, em uma das apresentações anuais do conservatório que aconteciam em um teatro aqui em São Paulo, para um público de umas trezentas pessoas. Lembro-me bem disso, minha mãe tocou no mesmo dia e estava muito nervosa, enquanto que eu parecia controlado e tentava acalmá-la. Ela me conta sobre isso até hoje. Na verdade aquilo tudo foi eletrizante para mim, algo que jamais vou esquecer".

"Mas fui tomar gosto pela coisa mesmo quando tinha uns nove ou dez anos, e isso se intensificou mais ainda quando comecei a tocar com outras pessoas, aos quatorze. Comecei a compor, a interagir com outros músicos e tudo ficou muito mais interessante do que as maçantes aulas de piano erudito. Formei-me em 1986 e no ano seguinte estava na banca examinadora. Fui o último aluno de minha professora, que era argentina. Acabei aprendendo espanhol também, no início a gente mal conseguia se comunicar. Depois disso, ela se aposentou, não sei bem o motivo. Mas lembro-me bem dela apavorada comigo, implorando para eu não descer tanto as mãos no piano e tocar mais baixo. Acho que eu fui um pouco traumatizante para ela".

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Por que a opção pelo teclado e quando começou a se interessar?

Fabio: "Eu estudei com o baixista Fabio Zaganin na mesma turma, da primeira à oitava série. Em 1984, ele ganhou seu primeiro contra-baixo e ingressou em uma banda de rock progressivo instrumental chamada Annubis. Nesta mesma época, eu já havia sido contaminado pelo vírus da guitarra elétrica e ouvia Black Sabbath e Iron Maiden o dia inteiro. O típico adolescente paulista dos anos oitenta que freqüentava a Galeria do Rock e a Woodstock a procura de fotos raras, posters importados, ou os mais novos lançamentos em vinil do Motorhead, Judas Priest, ou Ozzy Osbourne (E aí Valcir, já chegou o 'Bark At The Moon?' - Não, meu, já falei que quando chegar eu te aviso!). As propagandas na TV sobre o tal Rock’n’Rio se encarregaram de agravar os sintomas. Não fui, era muito novo e não houve quem me acompanhasse pelos vários dias do festival. Vi pela TV, de boca aberta com a infra-estrutura das bandas gringas, e ouvi o termo 'metaleiro' ser inventado ao vivo pela Rede Globo".

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"O 'Powerslave' do Iron Maiden era o disco do momento e aquilo tudo caiu sobre mim como uma abdução. Acabei ganhando um set de guitarra, com pedaleira e tudo mais. Meu pai me ajudava a estudar alguns riffs do Randy Rhoads ou do Ritchie Blackmore, músicos dos quais ele gostava muito também, devido à influência de música clássica que ambos apresentavam. Logo em seguida fui convidado pelo Fabio Zaganin a integrar o Annubis. A banda tinha mais um guitarrista, e não levou nem um ano para que todos me questionassem sobre qual instrumento eu realmente deveria estar usando na banda, em vista dos meus dotes musicais em um e no outro".

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"Não teve jeito, sob pressão comprei meu primeiro instrumento elétrico de teclas, um híbrido de órgão e sintetizador de fabricação nacional, que para dizer a verdade não era lá muito aprimorado, mesmo para a época. A banda toda foi comigo, foi um evento mesmo. Em uma segunda loja havia um Korg Poly 800 por um preço similar, que para a realidade do brasileiro na época era um teclado respeitado, quase tão desejado quanto um Juno 106 ou um DX7. Coisa que eu nem imaginava. Em uma época onde o máximo que se encontrava na mídia sobre tecnologia, sintetizadores e afins era uma coluna ou outra na revista SomTrês e olhe lá, não foi nada fácil a decisão. Acabei optando pelo maior, com mais botões e luzes... O aprendizado da parte 'técnica' do instrumento se deu do mesmo jeito, caçando material didático onde fosse possível. Os tecladistas e demais músicos iniciantes hoje deveriam agradecer muito pela imensa quantidade de informação disponível, na mídia impressa e na internet, e também pelo acesso fácil a instrumentos de qualidade, nacionais e importados. Hoje nenhum músico ambicioso por informação se depara com a sensação de estar isolado em um território remoto no fim do terceiro mundo".

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Cite um álbum e/ou algo marcante na sua infância ou adolescência, que teve papel decisivo para você tornar-se um músico.

Fabio: "Walter Carlos - 'Clockwork Orange' (trilha sonora do filme A Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick). Foi por volta de 1978, o filme até então era proibido pela censura no Brasil. Eu participava das peças de teatro da escola e acabava sempre sendo o responsável pela parte de sonorização, pois gostava de experimentar com isso. Uma determinada peça precisava de William Tell Overture, de Rossini (a famosa "música da cavalaria"). O vendedor na loja me recomendou o disco, que continha a música. Assim como o filme, que assisti somente anos depois, o disco e sua essência e significado para o universo dos sintetizadores passaram despercebidos por mim naquele momento. Usamos a música na peça e foi isso. Mas eu continuei a ouvir o disco constantemente, procurando saber de onde vinham aquelas sonoridades tão peculiares. Somente na adolescência, com o interesse pelos teclados, descobri do que se tratava e conheci também outros trabalhos deste gênio da música moderna, como 'Switched On Bach', o álbum que introduziu o sintetizador para o mundo. Hoje, o álbum e o filme estão entre os meus favoritos. Considero ambos, Carlos e Kubrick, mestres em suas respectivas áreas".

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Para você, o que é a musica? Qual a importância dela para a sociedade?

Fabio: "Para mim, a música é a minha energia, sem a qual eu simplesmente não conseguiria viver. Nunca trabalhei com outra coisa e não sei se conseguiria fazer isso. Acredito também que seja muito difícil encontrar alguém que viva cem por cento desligado de qualquer tipo de música. Esta forma de energia está em absolutamente todos os lugares e é praticamente impossível não nos influenciarmos por isto de alguma forma. A música desperta as mais diferentes sensações, interage com as situações ao nosso redor, desperta lembranças e induz atitudes, está em nossas almas e em nossas memórias, por vezes até nos controlando de certa forma. Assim como diversos outros tipos de arte, é o reflexo dos ideais de alguém, uma forte forma de expressão que certamente pode semear reflexões e realizar mudanças em maior escala".

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publicidadeAdriano Lourenço Barbosa | Airton Lopes | Alexandre Faria Abelleira | Alexandre Sampaio | André Frederico | Ary César Coelho Luz Silva | Assuires Vieira da Silva Junior | Bergrock Ferreira | Bruno Franca Passamani | Caio Livio de Lacerda Augusto | Carlos Alexandre da Silva Neto | Carlos Gomes Cabral | Cesar Tadeu Lopes | Cláudia Falci | Danilo Melo | Dymm Productions and Management | Efrem Maranhao Filho | Eudes Limeira | Fabiano Forte Martins Cordeiro | Fabio Henrique Lopes Collet e Silva | Filipe Matzembacker | Flávio dos Santos Cardoso | Frederico Holanda | Gabriel Fenili | George Morcerf | Henrique Haag Ribacki | Jesse Alves da Silva | João Alexandre Dantas | João Orlando Arantes Santana | Jorge Alexandre Nogueira Santos | José Patrick de Souza | Juvenal G. Junior | Leonardo Felipe Amorim | Luan Lima | Marcello da Silva Azevedo | Marcelo Franklin da Silva | Marcio Augusto Von Kriiger Santos | Marcus Vieira | Maurício Gioachini | Mauricio Nuno Santos | Odair de Abreu Lima | Pedro Fortunato | Rafael Wambier Dos Santos | Regina Laura Pinheiro | Ricardo Cunha | Richard Malheiros | Sergio Luis Anaga | Silvia Gomes de Lima | Thiago Cardim | Tiago Andrade | Victor Adriel | Victor Jose Camara | Vinicius Valter de Lemos | Walter Armellei Junior | Williams Ricardo Almeida de Oliveira | Yria Freitas Tandel |

Você tem uma longa experiência como músico, já tocou com várias bandas (Desequilíbrios, Clavion, Violeta de Outono, Angra, Shaman...) e saiu em turnê pelo Brasil e pelo mundo afora. Quais os momentos mais marcantes para você? Quais são as memórias mais engraçadas que você tem ao lembrar-se de ensaios e/ou shows?

Fabio: "Para mim, é engraçado notar que estou completando 25 anos de carreira como músico profissional. Não parece que já faz tanto tempo assim. Tudo parece que aconteceu ontem. Sou bom de memória para datas, fatos, faces, mas péssimo para nomes, não sei por que. Usando um bom clichê - são tantas as lembranças... É difícil enumerar somente algumas, mas vamos lá..."

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"Eu poderia começar usando outro velho clichê, citando meu primeiro show em 1984 com a banda Annubis, ainda tocando guitarra, no colégio Thomaz Galhardo em São Paulo. O primeiro show a gente nunca esquece, não é? Para quem viu, aquilo deve ter sido muito engraçado. Uma banda de rock progressivo instrumental usando trajes dignos do Quiet Riot ou do Twisted Sister, tocando uma música pop nada a ver, feita só para que a gente pudesse tocar no festival (o que não difere muito do que muitos músicos ainda são obrigados a fazer hoje em dia para obter algum destaque no eternamente medíocre mercado musical brasileiro). Não me esqueço da meia dúzia de meninas da nossa turma berrando 'Annubeeees! Annubeeees!'".

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"O primeiro show do Angra no extinto Black Jack Bar em 1993 também foi bem marcante, abarrotado, gente para fora, aquele palco minúsculo, um calor dos infernos! Lembro-me que a energia fluiu muito bem. Tocamos as versões da demo 'Reaching Horizons', 'Moonlight' do Viper, algumas outras coisas raras do começo da banda... Eu acabei deixando o Angra poucos meses depois para trabalhar com a Korg, sem imaginar o sucesso que a mesma alcançaria logo em seguida".

"Meu retorno se deu cerca de seis anos depois, em uma seqüência de eventos nos quais a barriga também gelou bastante. Quando fui convidado para voltar para a banda, no início da turnê do álbum 'Fireworks', tudo aconteceu muito rapidamente, sem prévio aviso. Fui avisado com menos de uma semana de antecedência, diante de uma turnê na Europa. O tecladista Leck Filho, que me substituiu quando saí, havia abandonado o barco. Minha decisão naquele momento, visando a qualidade exigida pelo patamar da banda e também por meus próprios princípios, foi de não participar daquela turnê. Não seria possível realizar com qualidade todo o processo de re-lembrar as músicas antigas (dos tempos do álbum 'Angels Cry') e aprender as mais recentes com todos os seus detalhes, além de programar de todos os inúmeros sons e preparar todo o setup de teclados e afins. Sendo assim, a banda fez esta turnê com um tecladista provisório e eu tratei de me preparar para quando eles voltassem, duas semanas depois. Mesmo assim, eu não estava totalmente confortável quando fiz meu primeiro show de retorno, em Belo Horizonte, onde o Andre ainda escreveu algumas partituras para mim no camarim minutos antes de entrarmos no palco. O show seguinte foi em um enorme festival europeu, o EuRock éenneS de Belfort, na França. Milhares de fãs gritando 'Angrrrra! Angrrra!' e eu na escada para o palco ainda revisando acordes, frases e patches na minha cabeça..."

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"Outro momento marcante, mas desta vez causador de uma ótima sensação de bem estar e de 'trabalho cumprido', foi o memorável show de gravação do DVD 'RituAlive' com o ShaAman. A banda conseguia finalmente mostrar seu total potencial em um show recorde de público para o local (Credicard Hall, em São Paulo) e tudo ocorreu de forma impecável. Tenho muitas saudades desta época".

"As memórias mais engraçadas costumam andar de mãos dadas com os momentos mais trágicos, coisas das quais nós só vamos rir depois. Seria muito comum citar os tradicionais acidentes com equipamento, como extravio, desabamento, alagamento e incêndio de teclados, ou até mesmo as situações em que eu ou o meu setup fomos alvos de fogos de artifício ou sacos de urina (como aconteceu quando deixei meus teclados no palco durante um show do Sepultura, quando eu tocava com a banda mineira Overdose). Mas um evento em particular foi bastante surreal... Lembro-me do primeiro e único show que fiz com meu projeto de música instrumental Blezqi Zatsaz, em Santo Andre, 1989. Quando cheguei ao local para a passagem de som, o baterista já se encontrava consideravelmente embriagado. No início do show, quando o final da faixa de introdução já acontecia, ele ainda fixava calmamente os pratos nos pedestais e por pouco não entrou tocando na primeira música. Em um determinado momento do show, o cara simplesmente desabou para trás do praticável, levando parte da bateria com ele. Como se não bastasse, terminado o evento, o pior ainda estava por acontecer. O desastrado baterista era fanático por esportes automobilísticos e tinha além de outros carros um enorme Ford Galaxie branco, com o qual ele arrancou a porta do meu humilde Wolkswagen Sedan 1969, tentando sem sucesso sair do estacionamento. O final da noite se deu comigo perdido dentro de uma favela, quase sendo assaltado ao pedir informações para uns sujeitos muito estranhos, com o carro abarrotado de equipamento e a porta amarrada com cabos de AC..."

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Nos anos oitenta você tocou com A Chave do Sol, Anjos da Noite e Overdose, fale um pouco da sua participação nessas bandas, as quais marcaram muito essa época de ouro do heavy metal nacional.

Fabio: "Neste caso, eu só não digo 'bons tempos que não voltam mais' porque ainda tenho esperanças que o cenário heavy metal brasileiro volte a ter a força que tinha nesta saudosa época. Com raras exceções, era um tempo em que as bandas tinham muito mais garra, mais sinceridade, mais companheirismo umas com as outras, e principalmente ideais mais voltados para a arte do que para suas contas bancárias ou para a satisfação dos egos individuais de seus integrantes. Realmente esta foi a época de ouro do heavy metal no Brasil, e olha que era tudo absurdamente mais difícil, porque o estilo torcia o nariz de muito mais gente do que torce hoje".

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"Eu ingressei na A Chave do Sol em 1987, por intermédio de uma namorada minha que tinha um amigo de colégio que era roadie da banda. Na época eles estavam lançando o LP 'The Key', com Rubens Gioia (guitarra), Luis Tigueis (baixo), Roberto Cruz (vocal) e Ivan Busic (bateria). Foi a primeira banda mais 'profissional' com a qual trabalhei. Existia um fã clube bem organizado, uma grande quantidade de fãs muito fiéis, shows lotados, aparições na mídia e uma boa estrutura de equipamento, empresariamento, etc. Logo em seguida houve uma mudança de formação, com a entrada de Edú Ardanuy (guitarra) e José Luiz Rapolli (bateria). Permaneci na banda por mais de dois anos, até que eu e todos os demais integrantes saímos após o único disco que lançamos juntos ter sido mixado às escondidas somente pelo vocalista, cujo resultado (e a própria atitude) nos decepcionou muito. Foi a primeira vez que me senti lesado pelo ego de um companheiro de banda, e considero este ('A New Revolution') o pior trabalho que já registrei. Foi a primeira vez que senti que neste universo nem tudo são flores e que todo o cuidado é pouco".

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"Mas minha permanência na banda foi gratificante. No meio musical, uma coisa leva a outra, e com a exposição gerada pela A Chave do Sol eu fui convidado a participar de diversos trabalhos de outras bandas, gravando e excursionando. Minha entrada na banda Anjos da Noite se deu por convite do guitarrista Edú Ardanuy, que já vinha trabalhando no projeto juntamente com o vocalista Marco Sergio, filho do famoso cantor Sergio Reis. Apesar de eu não ser fã do estilo e muito menos da postura visual da banda, mesmo na época em que o hard rock mais 'enfeitado' ainda tinha força, meu trabalho nesta banda foi muito importante para mim, pois foi quando me envolvi com grandes gravadoras e promotores de eventos, conheci muita gente e tive ainda mais exposição na mídia. Foi muito divertido tocar com eles. Mas apesar do grande sucesso inicial, as coisas foram ficando lentas depois de um tempo e a banda não deu em nada. A meu ver, a banda talvez tenha se dissolvido porque o pai do vocalista não estava muito interessado em ver seu filho se perder no mundo do rock’n’roll antes de completar a faculdade. Simultaneamente, trabalhei com muitas bandas consideradas 'pesadas', como Clavion, Overdose, e logo em seguida com o Angra. De lá para cá, embora eu tenha feito muitas coisas diferentes dentro da música, eu nunca mais consegui me livrar do heavy metal!"

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Sobre o seu projeto solo Blezqi Zatsaz, atingiu a sua expectativa? Faça um breve comentário sobre ele.

Fabio: "O Blezqi Zatsaz sempre foi um projeto paralelo, desenvolvido sem o menor compromisso com tendências de mercado ou coisas do tipo. Eu nunca pretendi ganhar dinheiro com isso. Afinal, infelizmente, o rock progressivo nunca mais viu dias melhores desde que foi praticamente exterminado pela onda punk no final dos anos setenta. O estilo nunca voltou com aquela força e originalidade, apesar da pseudo-ressurreição de algumas grandes bandas com o passar do tempo. O projeto foi uma maneira de eu expressar minhas experiências musicais sem receio algum, sem a pretensão de atingir algum objetivo mercadológico específico, quase que como um hobby dentro da minha própria profissão. Sempre gostei de rock progressivo, e o que fizemos com o Blezqi Zatsaz foi o reflexo das minhas influências na época. Lançamos apenas dois álbuns, o LP 'Rise And Fall Of Passional Sanity' em 1990 (que depois foi re-lançado em CD em 1993 e no ano 2000), e o último trabalho chamado 'The Tide Turns', que foi originalmente gravado em 1995 e lançado em 2002. Ambos venderam bem dentro do cenário de suas épocas, e foram muito bem recebidos pela mídia especializada em diversas partes do mundo. Exceto o caso que contei, não fizemos shows, pois em todos os momentos foi muito difícil organizar uma banda fixa que pudesse se comprometer a tal ponto. Todos os músicos que passaram pelo projeto, mais de uma dezena, sempre tiveram seus compromissos pessoais, envolvidos com várias bandas, incluindo eu mesmo. Não era uma coisa fácil de administrar. Os próprios processos de gravação foram feitos lentamente, com os músicos trabalhando de forma isolada, cada um em seu ritmo. Na verdade, fico muito contente que tenhamos conseguido registrar estes dois trabalhos. Neste momento, não tenho pretensão de lançar algo novo com o Blezqi Zatsaz, em parte por este mesmo motivo, a falta de tempo. Mas quem sabe no futuro..."

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Como é para você, ser agora um integrante oficial da banda Andre Matos, deixando de ser um músico convidado assim como era com Angra e ShaAman?

Fabio: "Para mim tudo isso está sendo muito mais legal, obviamente. É mais uma oportunidade de imprimir a minha cara, o meu estilo, a minha música, em um trabalho de respeito e qualidade. No Angra, em ambas as fases, meu trabalho era unicamente o de reproduzir ao vivo todas os arranjos gravados por outras pessoas. Trabalhei com tudo partiturado nota por nota o tempo todo como deveria ser. Esta era a proposta. No ShaAman tive uma flexibilidade maior, pois a banda executava ao vivo versões levemente diferentes de cada música, com mais liberdade, acrescentando um pouco mais de personalidade de cada um dos integrantes. Isso pode ser notado claramente no CD/DVD 'RituAlive'. Em registros de estúdio, incluí algumas colaborações, como o solo de 'Blind Spell' no álbum Ritual e os arranjos de órgão Hammond para várias músicas do álbum 'Reason'".

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Como consegui viver de Rock e Heavy Metal

"Já na banda Andre Matos, eu pude presenciar todo o processo de concepção, da banda e do primeiro trabalho, e colaborar desde o princípio. Este primeiro álbum foi realizado com todos nós trabalhando como uma grande máquina. Cada peça em seu lugar, mas com a possibilidade de intercâmbio de funções quando necessário. Tudo foi feito com um grande senso de colaboração mútua. Várias músicas foram compostas e arranjadas em jam sessions e a própria produção foi muito comunitária de uma maneira geral. É muito bom que quase todo mundo na banda sabe lidar muito bem com tecnologia. Isso agilizou bastante o processo. Foi também a primeira vez que registrei uma composição minha ao lado do Andre, por incrível que pareça. Estou muito satisfeito com este trabalho. Afinal, para todos nós músicos, é gratificante estar tocando e mostrando para as pessoas algo que nós mesmos criamos, a nossa arte pessoal, nossos sentimentos e propósitos, muito mais do que simplesmente reproduzir as palavras e pensamentos de outras pessoas como um papagaio, mesmo que por uma boa grana, não é mesmo?"

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"Aí tem esse negócio de aparecer ou não, de estar na formação oficial da banda ou não, essas fábulas todas ao redor do 'pobre tecladista', principalmente no estreito universo do heavy metal. Esta é uma visão estreita da coisa. Há pouco tempo eu estava debatendo isso com o Hugo Mariutti e com o Ale Souza... Quem iniciou esta lenda que de uns tempos para cá acabou colocando o tecladista de heavy metal nesta posição dita 'opcional', 'escondida' ou simplesmente 'excluída'? Será que foi o Ozzy em suas primeiras turnês, quando o tecladista Don Airey ficava situado em uma janelinha do tenebroso cenário de castelo? Aí a gente ficou re-lembrando os bons tempos do David Rosenthal e do próprio Don Airey no Rainbow, dos Wakemans, Emersons e Lords da vida, e aquela nostalgia toda. Uma época onde as bandas pareciam funcionar mais como um todo, acrescentando instrumentos e instrumentistas segundo as necessidades do som, não seguindo fórmulas estéticas como número exato de integrantes ou coisas do tipo. Paralelamente, o tecladista parecia ter mais atitude dentro de uma banda, ou menos concorrência, sei lá. Será então que o tecladista de heavy metal foi engolido pelos 'incredibly-fast-but-lifeless-guitar-heroes' e seus imaturos seguidores fanáticos? Uma ótima pauta para discussão..."

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"Eu acho que o som não precisa estar necessariamente ligado à imagem de uma banda o tempo todo, assim como um músico completo não pode estar ligado à imagem e ao som de um único instrumento. O 'teclado' e seus derivados engrandeceram bastante a sonoridade dos Beatles, por exemplo, e de inúmeras outras bandas nestas décadas todas, mesmo atuando em segredo, sem um protagonista. O 'teclado' é o instrumento mais versátil do mundo, é útil e é divertido. Muitas vezes é absolutamente necessário. Aliás, não é correto definir no simples termo 'teclado' toda a capacidade deste conjunto de ferramentas. O sintetizador pode reproduzir qualquer som, é o produto musical perfeito. Todos os aparatos que giram ao seu redor são absolutamente indispensáveis para a produção de música atualmente. Pensando assim, o 'tecladista' não precisa aparecer lá, ele está lá, em seus mais variados trajes, mesmo que incógnito. Vamos tomar um exemplo direto e fazer um teste - retire absolutamente todos os 'teclados' (claro, incluindo todos os efeitos sonoros, texturas, climas criados por sons gerados eletronicamente, samples, etc, etc...) de todos os álbuns do Angra e do ShaAman. Esta ausência faz diferença na sonoridade geral e no conceito das bandas? Pois é... Faz, e como faz! E nenhuma das duas teve um 'tecladista' dedicado na formação oficial... Inúmeras são as outras bandas de heavy metal nesta mesma situação".

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"De qualquer forma, por lazer e diversão, às vezes eu adoto essa atitude 'emersoniana' de passar uma energia visual no palco e tal, afinal o tecladista não pode ser apenas o cara de óculos, com cara de nerd, atrás de uma tonelada de aparelhos alienígenas que fazem somente blips e bloings! Mas ainda acho que talvez os meninos prefiram inicialmente a guitarra, pois parece ser instrumento mais sexy, sei lá. A adolescência é um período cheio de manias..."

Você conhece o Andre Matos faz muito tempo, desde a época do Viper. Mas começou a trabalhar com ele no Angra, depois ShaAman e agora em sua carreira solo. Como é trabalhar com o ele, uma pessoa muito respeitada no meio musical e mundialmente conhecida?

Fabio: "Conheci o Andre em 1987, quando eu ainda tocava com A Chave do Sol. Até o início dos anos noventa, essa banda compartilhou vários shows com o Viper. Trabalhar com ele sempre foi uma coisa extremamente fácil, pois o Andre é uma pessoa sensata, ponderada e, principalmente, muito justa e honesta. Coincidentemente, parecemos ter o mesmo ritmo, a mesma maneira de trabalhar, e as mesmas manias. Tudo isso acabou gerando uma ótima sintonia, muito necessária para que se possa estabelecer e manter por tanto tempo um relacionamento saudável em um ambiente de trabalho e na vida em geral. Além da grande amizade, tenho por ele muito respeito e admiração. O André sempre foi um músico notável. O tempo só o fez aprimorar-se. E a visão musical que ele tem hoje não é comum. O cara compõe com destreza e 'enxerga' os arranjos com uma facilidade assustadora. E tem discernimento e bom gosto para colocar as coisas de forma muito sóbria e criativa, não importando o estilo musical. E a qualidade sempre está lá, discreta e ao mesmo tempo envolvente em sua simplicidade, ou destacada através da sua complexidade musical típica. Mas sempre com personalidade. O André abriu bastante seus horizontes, procurando por novas sonoridades, fugindo das regras 'tradicionalistas' erroneamente impostas por determinados rótulos que rodeiam o estilo. É um músico completo, um cara antenado que está sempre atualizado. É gratificante trabalhar com ele".

Já existe alguma coisa sendo preparada para uma próxima etapa da banda AM? Pensam em gravar um DVD?

Fabio: "Acabamos de voltar de uma turnê de 14 shows na Europa, que se estendeu pela Eslováquia, Bélgica, Inglaterra, França, Espanha e Itália, com mais um show adicional na Finlândia. Neste momento vamos nos concentrar no novo álbum e paralelamente continuar a turnê brasileira. Devemos voltar à Europa pelo menos mais duas vezes este ano, e também ao Japão. Existem sim planos de gravar um DVD, com grandes possibilidades de ser algo realmente especial. Resta aguardar!"

Como vocês procuram lidar com as críticas periodicamente feitas pelos "antigos fãs" do ShaAman, que hoje apóiam o antigo baterista e não enxergam com bons olhos este sucesso da nova banda Andre Matos?

Fabio: "Embora estas 'ondas' de fãs estejam sempre indo e vindo com o passar do tempo, com cada álbum, cada turnê, e com cada época (afinal somos todos indivíduos em evolução; nossas vidas, gostos, costumes, atitudes e comportamentos podem mudar, na maioria das vezes evoluindo conosco), eu acho que os antigos fãs remanescentes da época do ShaAman são exatamente os mesmos atuais fãs da banda Andre Matos. Afinal, analisando friamente, sem demagogia, é praticamente a mesma coisa, apenas com um novo nome e uma roupagem levemente diferente, condizente com o mercado atual do estilo, mas sempre mantendo a velha tradição das pessoas envolvidas - a inovação e a vontade de seguir em frente com um trabalho honesto e de personalidade. Eu sempre achei que a essência de uma banda está no 'conjunto da obra', na coletividade, e logicamente no intelecto e no talento daqueles que fazem o coração da coisa bater. Os fãs, como seres humanos suscetíveis às inexplicáveis influências da música sobre o cérebro e a alma, devem perceber isto também, através do veículo apresentado a eles, as músicas e letras, que espelham o talento de cada músico e compositor individual, e como tudo isto se combina na banda para gerar sua verdadeira essência. Se neste caso a grande maioria dos responsáveis por tudo isto continua trabalhando em conjunto em favor de um mesmo objetivo, seguindo os mesmos gostos, influências, maneiras e manias, não creio que algo tenha mudado ao ponto de alguém que gostava da banda poder repentinamente mudar de ponto de vista em relação ao que a mesma oferece".

"Se é que existem estas pessoas, analisando este ponto de vista, a única conclusão que posso chegar é que na verdade nenhuma delas era realmente fã do ShaAman, ou da essência do ShaAman. Devem ter outras razões. Como o caso da separação é extremamente delicado e ainda está em andamento, infelizmente nem tudo pôde ser explicado com total clareza até este momento. Mas acredito que depois de tanto tempo e tantos comentários por aí, todos podem ter uma boa noção do que aconteceu, isso é muito claro. Mesmo assim, especulações e dúvidas são inevitáveis. O que pode estar acontecendo é um fato não muito incomum. Uma minoria dos fãs tem o péssimo hábito de se envolver em demasia com a vida pessoal de seus ídolos, deixando-se levar por fantasias que vão além da arte e do entretenimento para uma utopia mais íntima, um tipo de relacionamento mais estreito que acontece somente dentro de suas cabeças. Envolvem-se ao ponto de criarem verdadeiras frentes de batalha quando as coisas esquentam neste tipo de situação. Acho isso errado, pois neste caso os problemas estão além da única obrigação maior de uma banda ou artista em relação ao fã - a música. Se esta minoria de 'fãs' parece agir desta maneira desfavorável em relação à nova banda que foi obrigada a se formar devido ao que aconteceu, posso acreditar apenas que eles têm 'outros motivos' além de suas posições de simples fãs. Podem estar vivendo esta utopia. Não temos nenhuma preocupação com isso, temos a consciência completamente limpa em relação ao caso. Acreditamos que este sucesso duradouro acontece devido a duas coisas muito básicas, trabalho e honestidade. Por isso a melhor atitude agora é simplesmente continuar apresentando um trabalho musical de qualidade, como sempre tentamos fazer, e deixar o caso ser resolvido como se deve por quem entende do assunto".

Qual a sua opinião sobre a indústria musical hoje? E sobre a cena metal nacional?

Fabio: "Neste momento, a indústria musical está vivendo uma de suas maiores revoluções, senão a maior. Isso está influenciando toda a maneira de pensar e agir de todos os envolvidos nesta área. A internet chegou já há um bom tempo e desde então podíamos prever que esta grande mudança seria gerada, desde a época do Napster. Muitos se adaptaram rapidamente, outros não, e estão sendo obrigados a fazer isso agora, em caráter de emergência. Mas o fato é que hoje não é mais possível escapar, este é o caminho. Bom para uns, ruim para outros, não tem mais jeito. O negócio é ser esperto o suficiente para desfrutar dos benefícios, que para falar a verdade são inúmeros".

"Já aqui no Brasil a tal cena metal está bem feia, como há muito não se via. Em primeiro lugar, acho que isso é mesmo decorrente do nosso velho problema social. No Brasil, mesmo para os 'grandes nomes do pop', nem tudo é tão estável, e para os menores, pior ainda. O Heavy Metal continua sendo um mercado pequeno no Brasil, paralelo, undeground, ainda marginalizado, embora alguns árduos e significativos avanços tenham sido feitos de vinte anos para cá. O Brasil ainda é o país do futebol, da bunda de fora no carnaval, do especial do Roberto Carlos na Rede Globo perto do Natal. A ilusão aqui é forte! Até a boa música brasileira anda esquecida, e o que tem de bom por aí anda sempre ao relento. Para a grande maioria, música é aquilo lá que você ouve e vê na TV. O que te fazem engolir caso você não esteja psicologicamente imune. E nem todos estamos, a grande maioria engole qualquer coisa por simples falta de discernimento, de cultura mesmo, de nem saber se é bom ou ruim, porque não tem nem com o que comparar. E aí tem gente esperta que sabe que isso rende grana fácil, e grana infelizmente é algo que o todo mundo precisa. Mas o que rola é que tem gente que leva ao extremo, e ao mesmo tempo é acomodado, entra naquela velha onda de querer levar vantagem em tudo. Isso acontece nos grandes mercados, nos pequenos, em qualquer área. Música boa é difícil de fazer, leva tempo, e tempo é dinheiro. A máquina tem que girar mais rápido. Os chamados 'profissionais competentes', que são as pessoas que tem recursos e capacidade para fazer as coisas bem feitas, prestam mais atenção no que dá dinheiro fácil, seja medíocre ou não. Qualidade musical aqui atualmente está em último plano".

"É claro que isso influencia, e muito, também na área de shows, onde a coisa acontece de maneira muito similar. Os estilos musicais menos evidentes são menos rentáveis para essa gente grande que organiza shows, obviamente, e é aí que pinta o amadorismo. Na maioria das vezes, quando o evento não dispõe de alguém 'de grande porte' por trás, você pode ter uns probleminhas, uns problemas, uns problemões, ou simplesmente ver a imagem do caos! Alguns raríssimos promotores de shows de heavy metal aqui no Brasil fazem a coisa direitinho, e são esses que podem crescer junto com o estilo. Por outro lado, a onda de 'promotores' absurdamente incompetentes anda alta como nunca! São vários casos diferentes. O 'menos pior' é o do cara que é fã e resolve contratar a banda. Alguns são inexperientes e o lance pode dar problema, não é só de boa vontade que o negócio funciona, tem que ter know-how. Mas tem também aquele cara espertalhão, que além da inexperiência, ainda acaba cometendo erros muito graves só para tirar uns trocados a mais em cada detalhezinho da produção, o que muitas vezes prejudica muito o resultado final do evento e tudo mais em volta. Piores ainda são os espertalhões experientes, que planejam o bote, armam a arapuca, visando apenas o sucesso de mais uma de suas facetas para tentar engordar mais ainda seus bolsos ou arrecadar dinheiro para se livrar de pendências e falcatruas anteriores. Os profissionais da sacanagem no mercado musical brasileiro. Esses dois últimos são os que mais inviabilizam o lance, tornam o mercado mais difícil e contribuem para a velha visão distorcida do estilo. De qualquer forma, acho que o buraco é mais embaixo mesmo, não é uma coisa que vai mudar tão cedo neste país culturalmente estagnado em que vivemos".

O que você acha da troca de bootlegs e arquivos em geral que rola na internet?

Fabio: "Depende do caso. O bootleg, por exemplo, é algo obtido na gravação de um show ou outro evento, que não compete com a qualidade de produtos oficiais, algo que não seria vendido pelo artista de qualquer forma e não oferece preocupação. Todavia é necessário saber separar aquele 'download gratuito permitido pelo artista' daquele outro download 'não oficial' ou mesmo o famoso CDR vendido pelo camelô (que é o pior caso), contendo material de produtos oficiais. Trata-se da venda ou distribuição não autorizada de um produto que seria disponibilizado apenas de forma comercial pelo artista, como parte de um processo que visa também manter as condições para o artista continuar atuando. Produto pirata distribuído ou vendido significa menos dinheiro no bolso deste artista e de quem paga por seus projetos, o que pode acarretar em óbvios problemas financeiros que podem limitar a continuidade do trabalho".

"Já para o artista iniciante ou independente, que não possui uma gravadora ou uma distribuidora, ou simplesmente prefere ser dono do seu próprio nariz, esse lance todo é uma mão na roda para a apresentação e divulgação do seu trabalho. O MySpace, por exemplo, é um dos veículos de divulgação mais interessantes, e o download gratuito e a distribuição deliberada na web são ótimas opções para atingir mais público. A venda de músicas via internet também é algo a ser considerado e aproveitado por artistas em qualquer patamar, pois é um processo de fácil administração, rápido e abrangente. Cabe a cada artista avaliar suas necessidades e ambições e se aproveitar de todas estas técnicas. E cabe a nós reconhecermos cada uma destas situações e agir de forma respeitosa e por fim, honesta".

Você é do tipo de pessoa que prefere ouvir músicas já conhecidas, ou sai à procura de novos sons/grupos para ouvir? Tem algum grupo/artista (não necessariamente do estilo heavy metal) com o qual você se surpreendeu recentemente, ou você está numa fase "nostálgica" atualmente?

Fabio: "Eu sempre ouvi muito de tudo, estou sempre procurando as melhores novidades para me manter atualizado com o mundo musical e com o universo do áudio. Tudo isso é muito importante para a minha profissão em ambas as áreas, música e tecnologia. Sou muito aberto a novas tendências e sonoridades, desde que a qualidade musical ou a atitude de determinada banda ou artista me agrade de alguma maneira ou se mostre útil para o meu aprimoramento como profissional. Tenho também o bom hábito de nunca eliminar as antigas influências musicais e experiências do passado. Então todos estes dados vão sendo somados, absorvidos e igualmente aproveitados. Mas as coisas sempre variam de momento para momento, de acordo com o humor, a necessidade de busca por idéias e inovações, ou uma simples crise de nostalgia. Posso estar ouvindo Muse, The Mars Volta, NIN ou Radiohead em um determinado momento, ou ELP, Yes e Gentle Giant em outro, ou Beethoven, Motorhead, Tori Amos, Sex Pistols, Chico Buarque e Bezerra da Silva, tudo no mesmo dia".

Hoje, juntamente com o Hugo Mariutti, você está com uma nova banda, o Remove Silence. Já sabemos que é um som diferente do que vocês apresentam na banda Andre Matos. De onde surgiu essa idéia? Há alguma definição para a sonoridade? Quais foram as influências?

Fabio: "Esta nova banda foi formada de uma maneira muito natural. Na verdade, eu e o Ale Souza (baixista e vocalista) desenvolvemos muitas idéias paralelas aos nossos outros trabalhos com o passar do tempo. Somos sócios no estúdio e nos conhecemos e trabalhamos juntos com música há uns bons dez anos. Ele foi um dos baixistas do segundo álbum do Blezqi Zatsaz. Sempre que possível inventamos algo inusitado e diferente. Todavia, muitas destas idéias acabaram ficando na gaveta, por pura falta de tempo ou direcionamento para levá-las adiante. Um destes projetos tinha o nome de The Brainless Brothers, o nome do estúdio. Em alguns destes casos, costumávamos chamar o Hugo para contribuir com as guitarras. Eventualmente ele começou a aparecer com composições dele que se encaixavam muito bem em alguns dos contextos e começamos a trabalhar juntos, nós três. Quando oficializamos a banda, no final de 2007, o próprio Hugo indicou o baterista Edu Cominato. A primeira música que gravamos foi a versão de Dream Brother do Jeff Buckley, que acabou entrando para o álbum de estréia. Estamos lançando este álbum - 'Fade' - e pretendemos começar a fazer shows muito em breve. Um curta-metragem, chamado 'Bats In The Belfry' está sendo disponibilizado agora também, e mostra de uma maneira descontraída o processo de gravação do álbum".

"O Remove Silence não é uma banda formada para seguir rótulos ou se comprometer com um mercado específico, fazemos apenas o que gostamos, misturando praticamente todas as nossas influências pessoais. Não sei se há uma definição específica para a sonoridade. Nós quatro somos muito abertos em relação à música e ouvimos de tudo. Naturalmente isso se mistura na sonoridade da banda, que toma sua forma única. Muita gente diz que temos um pouco de Nine Inch Nails, Radiohead, Muse, ou até mesmo Black Sabbath. Eu prefiro dizer que o Remove Silence soa como o Remove Silence, porque tudo ali foi feito sem compromisso algum, sem querer agradar ninguém ou conquistar um público definido. É apenas música, feita com naturalidade e sinceridade".

Exceto o trabalho como músico, você trabalha em alguma outra coisa? Você tem um estúdio juntamente com o Ale Souza, e em diversas entrevistas se referiu à área de tecnologia musical. Fale um pouco sobre o que você faz.

Fabio: "Profissionalmente, sou consultor de tecnologia musical há 15 anos. Trabalhei para empresas fabricantes de instrumentos musicais como a Korg e posteriormente Kawai, Gulbransen, Music Systems Research, PianoDisc, E-mu Systems e Novation. Atualmente sou especialista de produtos e consultor da Clavia, fabricante dos instrumentos Nord. Regularmente, neste tempo todo, venho escrevendo matérias didáticas, clínicas e reviews de instrumentos para diversas publicações especializadas daqui e de fora".

"O estúdio The Brainless Brothers tem cerca de oito anos de existência. Foi construído mais com a ambição de possuir um local próprio para trabalhar, para me livrar definitivamente das pressões e tensões que ocorrem em estúdios alugados em função do tempo, dinheiro, etc. Isso sem falar que se movimentar dentro de São Paulo já está beirando o impossível! Um lugar para fazer as minhas coisas, de pijama às quatro da manhã se me der na telha. Não há nada melhor nesse mundo quando há a necessidade de registrar um trabalho do que tempo, flexibilidade de horários e, principalmente, orçamento basicamente zero. O investimento está pago faz tempo! Acabei me aprimorando muito aqui. A tendência hoje é esta. Praticamente todo mundo que toca tem pelo menos um home-studio dentro do quarto. É a independência. Hoje isso está mais fácil que nunca! Desde o início, também alugamos o estúdio para gravação. Já fizemos muitos trabalhos aqui, como Henceforth, ShaAman, Violeta de Outono, Fuga, Headgear, e mais recentemente Andre Matos. Nós mesmos, eu, o Ale Souza e o Hugo Mariutti, administramos tudo, procuramos ser auto-suficientes na medida do possível".

"Mas não hesitamos em procurar serviços externos e auxílio quando isto se faz necessário. Não fazemos masterização profissional, por exemplo. Isto está um patamar acima dos nossos recursos técnicos e tecnológicos, por assim dizer. De qualquer forma, devo dizer que a gente tira água de pedra, talvez por termos feito isso ao longo de mais de duas décadas. A gente acaba aprendendo a fazer direito, ou pelo menos o melhor possível. O estúdio é pequeno, não tem nenhuma frescura nem milhões em equipamento. Ironicamente, e por sorte nossa, no grau que a tecnologia está hoje, o que mais importa é a 'pecinha atrás da mesa de som'. É esta peça que eu pretendo ser aqui, dar o meu melhor porque é o que eu gosto de fazer. Não me considero um produtor, embora me sinta até confortável para me arriscar nessa área aqui. Apesar do tempo experimentando em vários estúdios de diversos calibres, e compartilhando idéias com gente capacitada, este é um cargo que ainda almejo alcançar, mas o assumirei somente quando tiver plena certeza de que já aprendi o suficiente para isso. Eu gostaria de transcender definitivamente para esta área, me agrada a idéia".

"Mas é trabalhando de perto com gente grande, como com o Roy Z, horas e horas todos os dias durante meses, que a gente vê o quanto ainda estamos engatinhando nesse sentido aqui no Brasil, principalmente neste estilo peculiar que é o heavy metal e no rock em geral. Esta experiência foi muito interessante para nós todos, pois pudemos aprender muito. Trabalhamos juntos, operamos o estúdio e o equipamento juntos. A banda toda formou um time para este trabalho, e aprender com isso era inevitável. Prefiro dizer que sou um músico que possui um estúdio no qual eu sei trabalhar, conheço seus equipamentos e seu som. Uso meus conhecimentos musicais em conjunto com a experiência em tecnologia para extrair o melhor daqui. O Remove Silence tem sido muito elogiado neste sentido por muita gente grande na área, o que é gratificante. Agora estamos começando a gravar o segundo álbum da banda Andre Matos aqui, vamos ver o que mais podemos aprender".

Você dá aulas de teclado ou piano atualmente?

Fabio: "Dou aulas particulares de tecnologia musical, o que inclui muita coisa, como programação de sintetizadores e demais aparatos musicais eletrônicos, sampling, MIDI, gravação digital, edição, mixagem, etc. Não dou aulas de música neste momento, pois a demanda pelo que eu ensino é grande. São raros os cursos de qualidade no Brasil. Com os aprimoramentos exorbitantes da tecnologia, mais e mais músicos estão sendo obrigados a lidar com isso, mesmo aqueles que não são tecladistas. Aperfeiçoei-me nisso e quero compartilhar meus conhecimentos. Acho esta uma área ainda pouco explorada pelos músicos brasileiros, muitos deles excelentes instrumentistas, porém atrasados neste aspecto. Neste momento, precisamos estar antenados e atualizados para que possamos nos desenvolver ainda mais e também tirar proveito disso tudo para nossa própria sobrevivência como músicos. Além disso, acho muito mais divertido ensinar esse tipo de coisa!"

Tem dicas para quem está começando a aprender teclado (mesmo que tardiamente)? Deixe uma mensagem para os jovens que estão entrando agora no meio musical e também uma mensagem aos fãs.

Fabio: "Para quem está entrando na música, costumo dizer sempre uma coisa - tenha paciência e perseverança. O caminho é longo, árduo e instável, principalmente aqui no Brasil. É importante ter foco desde o princípio e não se deixar abater pelas pedras no caminho. Se isso é mesmo o que você quer, leve adiante com naturalidade, e preserve em primeiro lugar a essência maior da coisa - a arte".

"Para os que estão interessados em se aventurar no universo das 'brancas e pretas', saiba que este é o instrumento mais divertido do mundo! Mas precisa ser conhecido a fundo para que se possa obter o melhor que ele pode proporcionar. Procure em primeiro lugar um bom professor de música, e invista também em um bom curso de tecnologia. Isso é importantíssimo se você quer ter mais personalidade quanto à sonoridade do seu instrumento. Seja único, seja inovador! Não se sinta intimidado pela aparente complexidade. Você está se envolvendo com um instrumento que possui duas áreas extremamente extensas a serem exploradas, que juntas tornam este instrumento tão único. Trate ambas com o mesmo carinho e dedicação".

"Para os fãs... Bem, o que seria de um artista sem os admiradores do seu trabalho? No mínimo, o que posso dizer é o bom e velho 'muito obrigado'!"

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Sobre Raoní Teixeira

Estudante de Publicidade & Propaganda, fã da boa música e apoiador direto do metal nacional. Residente em Pouso Alegre, Minas Gerais, vocalista da banda sul-mineira de power metal Soulfire. Grande fã de Andre Matos, Hangar, Hibria, Viper, Sepultura, Soulfly, Made in Brazil, Rita Lee, Nando Reis, Raimundos, e várias vertentes do rock/metal brasileiro. Também grande fã de Phil Collins, Metallica, Red Hot Chilli Peppers, Skid Row, HIM, Edguy, Rhapsody, The Beatles, Pink Floyd, Queen... Tem como ídolos, seu pai, Freddie Mercury e Andre Matos. Presidente do fã clube do Andre Matos e banda: www.andrematossolo.com.br.
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