Paul Di'Anno e Rockfellas: saiba mais e confira entrevista
Por Maurício Dehò
Postado em 22 de setembro de 2008
Ele parece um garotão. Sorridente, veste uma camiseta do Ratos de Porão, usa brinco, anéis, piercing na sobrancelha e muitas tatuagens, inclusive na vasta careca. Mas chega mancando – um problema na perna, diz -, seu rosto já não tem a jovialidade que o marcou como astro no início dos anos 80, e uma característica comprova tudo isso, aquela coisa que só com certa idade se começa a aparecer: falar o que vier à cabeça, mesmo que não seja nem um pouco politicamente correto. Este é Paul Di'Anno, que aos 50 anos redondos segue por aí cantando, causando polêmica e pouco ligando para isso. Abaixo, saiba mais sobre o Rockfellas e confira entrevista com o vocalista.
Foto: Rafael Karelisky
Desta vez, seu novo projeto já deu muito que falar. O que um ex-vocalista do Iron Maiden faz ao lado de três brasileiros tocando apenas covers pelos bares tupiniquins? Diversão ou decadência? Esta resposta fica para cada um, mas quem tem a chance de assistir ao Rockfellas ao vivo, como no show acontecido na quinta-feira, dia 11 de setembro, no Manifesto, em São Paulo, não deixa o local sem um bom sorriso no rosto.
Infelizmente, a decadência é um fato, mas realmente parece que Di'Anno não liga. Solta pérolas impensáveis ao ver que menos de 100 pessoas assistem à apresentação: "na minha casa tem mais gente", diz, antes de advertir, "precisamos fazer melhor propaganda que isso". Já para quem berra e suplica por sons do Iron Maiden, não pega leve: "que parte de ‘não tocamos isso’ você não entende?".
No show, as três primeiras músicas já mostram a salada que faz o Rockfellas: "Detroit Rock City" (Kiss), "Symphony of Destruction" (Megadeth) e uma versão pesadona de "You Really Got Me" (The Kinks). O vocalista, com o seu timbre hoje em dia bem mais rasgado, indo dos agudos (que nem sempre atinge) aos guturais, não esconde que não gosta de tudo que tem tocado, "você sabe, meu negócio é punk". Antes de "Seven Nation Army", do White Stripes, esbraveja no microfone: "Deus, como odeio esta música".
Mesmo assim, é um momento único de festa, como todos os envolvidos procuram salientar. Jean Dolabella (Sepultura), o mais empolgado, sempre espancando seu kit de bateria, define: "é só diversão". Se ele é o destaque claro do quarteto com sua energia, Marcão, ex-Charlie Brown Jr., mostra seu potencial como um grande guitarrista. Rápido, não hesita em imitar com precisão os solos dos clássicos, esbanja técnica e manja de efeitos com seus pedais como poucos – portanto, deixem de preconceito e dêem uma olhada no trabalho deste cara! Já Canisso, do Raimundos, não sai do seu arroz com feijão, mas deixa o semblante sério que o caracteriza muitas vezes.
Ao fim de uma hora e quinze de show, Di'Anno se despede com carinho dos fãs que sempre o acolhem em São Paulo e no Brasil de modo geral. Polêmico ou não, garante que o que ainda lhe dá prazer é subir ao palco. E, aos 50 anos, seu prazo de validade está para expirar...
Confira abaixo uma rápida entrevista concedida por Di'Anno pouco antes de subir ao palco. Solicito, apesar de ser um pouco avesso a entrevistas, o "velhinho", com seu gorro do Corinthians, esbanjou bom humor e explicou um pouco desta curta empreitada, que deve durar três meses.
Como você surgiu com esta idéia de formar o Rockfellas e sair tocando covers?
Paul Di'Anno: A idéia não foi minha, na verdade Monika (Cavalera, empresária do Sepultura) foi quem teve a idéia. Eu estava em turnê na América do Sul com minha banda formada por caras do Paraguai e achei que podia funcionar tocar com esses caras. Porque é diferente do que fazemos, pegar e tocar músicas de outras pessoas, achei legal. Pegamos muitas canções, cerca de 50, e começamos a trabalhar. Cortamos para 30, e disso para 25. Hoje temos cerca de 18 covers que temos feito e tem sido bem legal.
Como você se sente fazendo um show completo em que canta estas músicas que não são suas?
Di'Anno: É estranho, mas é legal, sabe? Eu estou um pouco sob pressão porque nem sempre lembro das letras e odeio algumas coisas que tocamos. Você sabe, meu negócio é punk. Mas temos feito um trabalho muito bom até agora. Apesar disso, não tocamos faz semanas, então pode sair uma bosta esta noite (risos). Também estou com um problema na perna desde o ano passado, que devo fazer uma operação para melhorar. Então, é um pouco mais difícil, mas tenho gostado.
Você prefere tocar com pessoas jovens, como fez, por exemplo, no CD "Nomad" (2000), com uma banda de brasileiros? É diferente ter este sangue novo?
Di'Anno: Sim, eles são muito talentosos. Na verdade não interessa a idade da banda, estes são jovens... Os com quem toco do Paraguai tem de 21 a 23 anos, mas já sabem o que fazer quando sobem num palco. É legal, não me importo com as idades, contanto que esteja trabalhando com bons músicos ao meu lado.
Com quantos anos você está?
Di'Anno: Agora? Acabei de fazer 50 (risos)!
E você já sabe quanto tempo ainda deve permanecer no palco?
Di'Anno: Não tanto quanto Ozzy Osbourne, nem tanto quanto Lemmy, que já vai fazer 63 (risos). O Steve Harris já deve estar com 51 ou 52 (fez 52 este ano), eu era o membro mais novo do Iron Maiden. Mas não sei. Enquanto eu ainda fizer isso (N.R.: balança as mãos, como se estivesse tremendo) a cada noite antes de entrar no palco, eu continuo. Se não estiver mais assim, quer dizer que parei de ligar para os shows, então me aposentarei. Não toco por dinheiro, se precisar toco de graça, apenas para me divertir. É apenas o que eu quero fazer, sair tocando pelo mundo.
* O Rockfellas segue se apresentando no Manifesto nas quintas-feiras deste mês. Clique aqui para mais informações.
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