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Extreme: Nuno Bettencourt comenta a provável volta da banda

Por Thiago Coutinho
Fonte: Rock Hard Magazine
Postado em 17 de outubro de 2007

O guitarrista Nuno Bettencourt concedeu uma entrevista à revista francesa Rock Hard Magazine e confirmou o que estava sendo especulado há alguns meses: o EXTREME vai mesmo voltar à ativa.

A entrevista aconteceu em meados de julho, momentos antes de Nuno se apresentar junto ao SATELLITE PARTY — projeto capitaneado por Perry Farrell, (ex-JANE’S ADDICITION) — no The Trabendo, na França. Este acabou sendo um dos últimos shows de Nuno com o SATELLITE PARTY, diga-se de passagem.

Na entrevista, Nuno falou sobre seu envolvimento com Perry Farrell, a formação que provavelmente gravará o novo trabalho do EXTREME, sua saída do grupo, entre diversos assuntos.

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Rock Hard: Como está indo essa turnê européia do SATELLITE PARTY?

Nuno Bettencourt: "Bem, está indo! [risos]. Tudo tem sido bem legal até agora. Para mim, tem sido um projeto interessante e bem diferente do que já fiz com o EXTREME, por exemplo".

Rock Hard: Como essa aventura começou?

Bettencourt: "Perry e eu nos encontramos em uma festa. Ele me mostrou algumas fitas demo na garagem de sua casa e comecei a colocar as guitarras no que eu ouvia. Até onde sei em como tocar guitarra, foi algo totalmente novo para mim, mas em termos de composição, fiz do modo habitual, tentando encontrar as melhores partes de guitarra que se encaixavam nas músicas. No início deste projeto, não tínhamos a vaga idéia se conseguiríamos ou não um contrato, ou mesmo se sairíamos em turnê. Tudo saiu bem naturalmente... e aqui estamos hoje!"

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Rock Hard: Já se passaram dez anos desde a última vez que você nos visitou na França...

Bettencourt: "Eu sei... eu mesmo não posso acreditar! Mas obrigado por tudo isso acontecer e eu estar aqui".

Rock Hard: E como é estar de volta à Europa?

Bettencourt: "Estou muito contente com isso tudo, mesmo desapontado por ter demorado tanto. De volta a 1997, quando lancei meu primeiro álbum solo [N. do T. ‘Schizophonic’], vim até aqui e estava bem otimista em promovê-lo, mas no fim não consegui agendar nennhum show. Minha gravadora queria que eu me focasse nos Estados Unidos, o que foi um erro. Você nunca sabe o que pode acontecer. Eu voltarei logo, nós voltaremos logo... com sorte, a partir de agora, eu virei visitá-los todo ano... quem sabe com quem ou em qual contexto? [N. do T.: o repórter insiste em saber com qual banda o guitarrista voltaria]. Bem, vamos dizer que será com uma banda cujo nome começa com a letra ‘E’..."

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Rock Hard: Você está anunciando uma volta definitiva do EXTREME?

Bettencourt: "Bem, não tenho falado com ninguém a respeito disso, mas durante os seis ou oito meses, Gary [Cherone, vocalista] e eu temos composto material inédito juntos. Isso agora só fica entre mim e você! [risos]"

Rock Hard: Até o momento, quantas músicas vocês já escreveram?

Bettencourt: "Acho que temos algo em torno de 21 ou 22 músicas. No EXTREME, sempre começamos compondo umas 50 músicas antes de fazermos uma seleção. Quem sabe como isso tudo vai acabar? Mas tudo poderá ser bem divertido... fizemos alguns shows pelos Estados Unidos que foram simplesmente demais. Foi como se nunca tivéssemos parado de tocar juntos".

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Rock Hard: Como você descreveria o que vocês compuseram até agora?

Bettencourt: "(Colocando a mão no bolso da jaqueta) Quer ouvi-las? (risos). Há, é claro, elementos funky e uma veia mais punk aqui e ali. O EXTREME desenvolveu um estilo distinto em cada um dos álbuns, e as faixas novas certamente vão soar como... EXTREME. Gary ficou por algum tempo na minha casa e trabalhamos como nos velhos tempos. Exceto pelo fato de que, naquela época, eu costumava dar a ele a música totalmente composta e ele começava a trabalhar nas letras. Agora estamos fazendo algo mais como ‘quatro mãos trabalhando’, e nós dois contribuímos tanto nas músicas quanto nas letras".

Rock Hard: Bem, essas notícias são ótimas para os fãs do EXTREME.

Bettencourt: "É muito importante que as pessoas não confundam nossas motivações. Sempre recusamos organizar uma ‘turnê de reunião’, promovendo uma vulgar coletânea de sucessos, como muitas bandas já fizeram. Gary e eu concordamos que se voltássemos a tocar juntos, voltaríamos do ponto em que paramos. Dando tempo e paixão para que possamos produzir um álbum novo. Então, veremos (risos)".

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Rock Hard: Paul Geary, o baterista original, tem estado muito ocupado como empresário. Seu amigo Kevin Figueiredo, que tocou com vocês no DRAMAGODS e no SATELLITE PARTY, fará parte do EXTREME agora?

Bettencourt: "Sim, certamente. Paul está muito ocupado empresariando bandas como o SMASHING PUMPKINS, FUEL e o GODSMACK. Ele sempre teve uma alma de empresário, mesmo quando tocava no EXTREM (risos). Mas para este novo álbum, ele seria o primeiro a admitir que não seria capaz de participar em um projeto como esse sem ter que parar com as outras coisas que ele desenvolveu. Ele até poderá se juntar a nós de tempos em tempos, para algumas músicas, mas Kevin o cara certo para o trabalho. Quando ele toca EXTREME, a banda soa ainda mais pesada. Quando Pat (Badger, baixista) subiu no palco em Nova Iorque, para tocarmos ‘Kid Ego’, ficamos mais do que impressionados com as batidas de Kevin. O Kevin chegou a pensar que o Paul não tinha gostado do seu estilo de tocar, quando, na verdade, o Pat estava assustadíssimo! (risos)"

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Rock Hard: Depois deste parênteses, vamos voltar a falar do SATELLITE PARTY. Como você descreveria sua colaboração com Perry no álbum ‘Ultra Payloaded’?

Bettencourt: "Trabalhar com Perry foi completamente diferente do que fiz anteriormente. A primeira vez que ouvi as composições do SATELLITE PARTY, elas eram completamente eletrônicas, soando quase como house music. Eu perguntei a mim mesmo o que eu seria capaz de fazer com aquilo tudo. Então, trabalhando em cima de samples e pré-refrões, tentei transformar esses longos pedaços musicais em músicas de verdade. E isso não foi fácil, e não vou esconder que isso deu umas boas dores de cabeça para mim e o Perry. Ele tem seu jeito de trabalhar, eu tenho o meu... mas depois de um tempo ele cedeu um pouco e eu pude tomar parte da produção e mixagem do álbum. Meu ‘campo de trabalho’ estava delimitado pelos gostos de Perry, e eu gostei disso porque me obrigou a tentar coisas que jamais tentei antes".

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Rock Hard: Especificamente, você cuidou de muitas partes de teclado, algo que normalmente não esperaríamos de você...

Bettencourt: "Sim, é verdade. Falando de um modo geral, esse álbum acabou sendo uma colaboração entre mim e Perry. As pessoas se focaram demais em quantos convidados tocaram no álbum, como Flea e todos os outros. Mas, na verdade, esses caras não ficaram ‘lá’. Eles passaram duas horas no estúdio, gravaram suas partes e então não os vimos pelos próximos três anos! Não foi como se eles passassem um bom tempo criando algo conosco".

Rock Hard: Muitos se surpreenderam por não haver muitos solos no álbum ‘Ultra Payloaded’. Por quê?

Bettencourt: "Simplesmente porque não senti que essas músicas precisavam de solos. Perry a todo momento ficava falando na minha cabeça sobre colocar mais solos, mas não senti que havia necessidade disso. Talvez porque essas músicas acabaram nascendo de jam sessions... não sei. Mas quando tocamos essas músicas ao vivo, daí a história é diferente. Quanto mais as toco, mais sinto que posso deixar aqueles solos mais longos. E adicione o fato de que ainda tocamos algumas músicas do JANE’S ADDICTION, que caem muito bem nesse sentido".

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Rock Hard: Havia ficado claro para você que o SATELLITE PARTY incluiria músicas do JANE’S ADDICTION nos shows?

Bettencourt: "Sim, porque o SATELLITE PARTY foi formado em torno do nome de Perry Farrell. Então é normal que ele toque essas músicas do JANE’S ADDICTION, que fazem parte dele. E, além do mais, adoro essas músicas! Antes de vir à Europa, ele sugeriu que eu adicionasse algumas músicas do EXTREME também. Mas eu não quis. Meu objetivo aqui é tocar guitarra, queria deixar isso bem claro. Ele insistiu bastante, especialmente depois do show de Londres, quando a platéia gritou meu nome bem alto. Alguns chegaram, inclusive, a levantar cartazes! Foi bem embaraçoso. Foi quando Perry percebeu o tamanho do impacto do EXTREME na Europa".

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Rock Hard: Qual sua opinião a respeito da mensagem do SATELLITE PARTY contra o aquecimento global e todo aquele conceito ecológico que envolve o álbum? Não é algo fácil de se promover...

Bettencourt: "Concordo com você nesse ponto. E tudo isso corresponde à visão de Perry da coisa toda, trata-se de seu envolvimento pessoal. Até onde sei, eu me envolvi com isso tudo de forma mais privada. Com o EXTREME costumávamos oferecer nossos shows como apoio ao Greenpeace, mas não sou aquele tipo de cara que costuma ditar as coisas aos outros. Isso é inútil, porque as pessoas têm que pensar sozinhas para mudar os seus comportamentos. Tudo que pode ajudar é bem-vindo. A banda se associou com a Global Cool e chegamos a nos encontrar com Tony Blair para discutir esses assuntos. De qualquer forma, uma coisa é certa: não me vejo como um Bono!"

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Rock Hard: Durante dez anos você lançou muitos álbuns usando diversos nomes, como POPULATION 1 ou DRAMAGODS, sem contar suas inúmeras participações em álbuns-tributo, singles, videoclipes. Você se vê envolvido nesses tipos de projeto nos próximos anos?

Bettencourt: "Não, acho que não. Já fiz estragos demais! (risos). Hoje em dia me sinto muito mais próximo ao trabalho do DRAMAGODS, o único álbum que gosto de ouvir. Mas foi uma vergonha este trabalho não ter sido lançado fora do Japão. Kevin e eu estávamos negociando para uma lançamento mundial, mas então o SATELLITE PARTY nos apareceu. No começo, cheguei a pensar que seria um projeto simples, mas então a banda assinou com a Sony/BMG. Então, pensei que o DRAMAGODS se beneficiaria com isso quando me vissem com o SATELLITE PARTY. E eu adoraria isso, porque as músicas do DRAMAGODS realmente se revelam quando tocadas ao vivo. Mas você não faz idéia como é difícil para mim conseguir um contrato com uma gravadora. Algumas vezes, elas se assustam com meu passado. Estou convicto de que se meu nome não fosse mencionado no DRAMAGODS, quatro ou cinco gravadoras lutariam para nos ter. Com o nome ‘Nuno Bettencourt’ na banda, foi como se ela ficasse datada ou ultrapassada para os executivos, que apenas dão seu suor pela juventude. Eles só querem saber quem será o próximo ‘Chemical Romance’. Eles até assinam algumas bandas legais, mas a maioria é muito ruim".

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Rock Hard: Mas me parece que foi bem mais fácil para você arrumar uma gravadora no Japão, onde você realmente esteve nos últimos anos.

Bettencourt: "A única razão pela qual meus álbuns foram lançados no Japão é que lá eles sempre mantiveram um contrato comigo. Logo que anunciei minha saída do EXTREME, a gravadora japonesa da banda me disse: ‘qualquer coisa solo que você fizer, nós o queremos conosco’. Eles me deram dinheiro e eu tinha que gravar álbuns. Não estou dizendo que não queria, mas às vezes a situação era um pouco difícil... eu lançava um álbum, fazia uma pequena turnê e bum, estava de volta para casa! [N. do T.: neste momento, o repórter da Rock Hard Magazine relata que Perry Farrell e sua esposa, Etty Farrell, entram na sala em que a entrevista se realizava após um incidente. Irritado por ter sido interrompido bruscamente, Nuno de repente deixa a sala e só retorna depois que Perry e Etty deixam a sala. O guitarrista insistentemente se desculpa pelo ocorrido]. Bem, eu realmente tenho ótimas lembranças do Japão. Sempre fiquei feliz por ver os fãs em meus shows, mesmo em lugares pequenos. Foi muito revigorante ver que em algum lugar do planeta algumas pessoas ainda prestava atenção em mim".

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Rock Hard: Na verdade, você sempre esteve bem ocupado nesses anos todos.

Bettencourt: "Absolutamente. Algumas pessoas me encontravam algumas vezes e perguntavam: ‘Nuno, em diabos de lugar você estava?’ Mesmo que poucas pessoas tenham prestado atenção em mim, nunca deixei de trabalhar. Assim que um projeto terminava, já estava pensando no próximo. Era o único jeito de me convencer que ainda tinha 18 anos".

Rock Hard: Então, é justamente por causa do tempo que você quer voltar com o EXTREME?

Bettencourt: "Há certamente inúmeras razões. Quando deixei o EXTREME, foi estritamente por problemas não relacionados à música. Nós não estávamos nos dando bem como antes. Havia alguns assuntos a respeito de dinheiro, e quaisquer pequenos assuntos tomavam proporções imensas. Hoje em dia, vejo que isso era infantilidade, mas o fato era que não saíamos mais em turnê por amor à música e o lado financeiro começou a falar mais alto. Eu precisava começar uma nova aventura. Queria escrever mais letras, cantar as minhas músicas e estou feliz por ter feito tudo isso! Mas estou cansado de ter que brigar a todo momento, especialmente com as gravadoras. Relançar a carreira do EXTREME hoje em dia me parece um caminho bem mais fácil, além de que ainda há um curto espaço de tempo em uma aventura que nos dê prazer em fazer. E também antes que nossos fãs fiquem muito velhos para se lembrarem que nós existimos! (risos)"

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Sobre Thiago Coutinho

Formado em Jornalismo, 23 anos, fanático por Bruce Dickinson e seus comparsas no Maiden. O heavy metal surgiu na minha vida quando ouvi o vocalista da Donzela de Ferro em "Tears of the Dragon", em meados de 1994. Mas também aprecio a voz de pato bêbado do controverso Dave Mustaine, a simplicidade do Ramones, as melodias intrincadas do Helloween, a belíssima voz de Dio ou os gritos escabrosos de Rob Halford. A Whiplash apareceu em minha vida sem querer, acho que seus criadores são uns loucos amantes de rock e acredito que este seja o melhor site de rock do país, sem qualquer demagogia!
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