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Claustrofobia: arquivo do metal nacional (Parte I)

Por Bruno Sanchez
Postado em 30 de dezembro de 2006

De todas as bandas da nova safra do Metal nacional (nova entre aspas porque esses caras já têm quase 15 anos de estrada), o Claustrofobia sempre foi um nome marcado por muita criatividade nos trabalhos de estúdio, mas sobretudo muita energia no palco, energia essa que cativa mesmo quem não tinha muito contato com o som deles.

Fotos: Thierry Alexandre Zambo

Foi exatamente isso que aconteceu comigo no Sepulfest de 2004. Lembro que todos os shows foram bons e marcantes (qualquer dúvida, leia minha resenha nos arquivos do Whiplash!), mas esse do Claustrofobia foi um dos que mais chamou a atenção do público. Desde aquela época, planejo uma entrevista com os caras, que por um ou outro motivo, foi adiada e a idéia acabou esquecida por alguns anos.

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Nos últimos meses, no entanto, acompanhei de perto o lançamento do ótimo terceiro trabalho, "Fulminant", e a oportunidade bateu na porta quando cruzei com o vocalista e guitarrista, Marcus, no show do Slayer aqui em São Paulo. Não perdi tempo e marcamos um bate papo completo, com toda banda presente, para dissecar a história dos caras, as frustrações e, logicamente, as importantes vitórias que eles tiveram em todos esses anos. De um bate papo totalmente descontraído, regado a cerveja, surgiu um arquivo completo para os fãs, não apenas deles, mas também do Metal nacional. Como a entrevista ficou bem longa (tenho quase 4 horas de gravações), optei por dividi-la em duas partes. Nesta primeira, Marcus, Caio, Alexandre e Daniel nos contam um pouco sobre os primórdios da banda e as primeiras gravações. Divirta-se com a primeira parte do dossiê Claustrofobia e entenda como é difícil entrar na cena do Metal brasileiro.

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Vocês começaram bem novos, no início dos anos 90, na cidade de Leme (interior de São Paulo), como era a cena Metal naquela região?

Marcus - Não era uma cena tão grande quanto é hoje, hoje existem bem mais bandas. Na época tinham umas três por lá, mas de Metal tinha uma chamada Destroçus, que inclusive era do Carlinhos que é nosso brother até hoje, trampa com arte e faz as artes do Claustrofobia e era essa banda que fazia a cena. Hoje, o Carlinhos toca no Gammoth. Tinha punk, careca, headbanger e rolavam até umas tretas. Nós éramos moleques e tinha o Marcão, que é banger até hoje, e eu conhecia o irmão mais novo dele o Tueio, que por acaso foi o primeiro baterista do Claustrofobia, e começamos a curtir. O Marcão que me apresentou várias bandas mesmo, Death Metal,Thrash, Metal Nacional, essas coisas.

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Quais bandas vocês curtiam?

Marcus - A primeira banda de Metal que eu curti foi Iron Maiden. Um brother tinha uns discos, nós íamos a casa dele, pirávamos nas capas e começamos a ouvir o som, depois veio o Metallica, até que conhecemos Sepultura, Ratos de Porão e Slayer e veio aquela luz.

E como foram os primórdios do Claustrofobia?

Marcus - Sempre tive apoio dos meus pais, até hoje é assim. Éramos muito novos e não tinha ainda como conseguir tudo sozinho. Mas meu pai nunca me ajudou no sentido de dar as coisas de mão beijada e sim nos conselhos de você querer algo e ter que ralar para isso, se dedicar e eles nunca implicaram com o nosso estilo. Meu pai sempre gostou de música, toca violão e curtia Rock. Tinha um violão em casa e comecei a aprender a tocar, fazia aula, tocava Raul Seixas, Sertanejo, pra aprender mesmo. Para mim, o cara que me ensinava violão sabia tocar Metal e fui aprendendo mas na real ele não sabia nada de Metal (risos) mas de qualquer forma foi importantíssimo pra mim pois tive muita musicalidade e noção com essa aulas. Tinha um cara que chamava Marquinho Halas lá em Leme, um puta guitarrista e que tocava Metal e ele nos deu aulas também, para o Caio, Daniel e eu. Quando fui visitá-lo para começar a fazer aula, ele ligou a distorção e deu umas palhetadas, foi emocionante mano, inexplicável, quase chorei (risos). Quando o Claustrofobia começou mesmo, era eu, o Tueio na bateria, Ricardinho no baixo e o Marcelo na outra guitarra e foi com essa formação que gravamos na coletânea Falange Rock III e ganhamos um festival em Americana chamado FECA. Eu tinha 13 anos na época e inclusive um dos jurados desse festival era o ACM (Antônio Carlos Monteiro) da Rock Brigade, ele nos conhece desde essa época. Naquele festival, tocou o Dark Avenger também e pegamos terceiro lugar, foi muito legal e a banda começou mesmo, começamos a acreditar na parada.

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Por que a escolha do nome Claustrofobia?

Marcus - Na verdade não teve nenhuma discussão sobre isso, o nome surgiu de maneira natural. O sentido da palavra meio que significa o nosso estilo, combinou com a proposta da banda. Mas como acho que nada é por acaso, hoje em dia o nome é perfeito.

Caio – O sentido da palavra reflete nosso estilo de vida, sem ser uma banda bitolada, nosso objetivo é expandir ao máximo o som e o nome combina com essa proposta.

Assim como o Sepultura no começo, vocês também procuravam mesclar o Metal com o Punk e Hardcore, mas tinha aquela rivalidade na época com Bangers, Punks e Skinheads, como vocês viam essa mistura?

Marcus - Eu achava legal, era uma coisa natural. Nós curtíamos Metal mas Punk também, Garotos Podres, Ratos de Porão. Para nós era natural, não tinha porque ter treta, mas acontecia.

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Vocês chegaram a ter problemas com Punks ou Skinheads?

Marcus – Não, porque pegamos o final dessa época das tretas. Tinha um pouco disso, mas o cara olhava, esbarrava e ia embora. Não tenho preconceito com quem ouve nosso som, Punk, Skinhead, Boy, o importante é curtir e saber que é Metal. O nosso som é porrada com atitude, então não vejo porque separar as coisas e todo mundo pode curtir. Temos a nossa postura, o nosso som é Metal, não tem jeito, mas a música é tudo cara, nós ouvimos de tudo.

A primeira apresentação da banda rolou em uma festa na casa do Marcus com alguns amigos. Como foi isso?

Marcus - Antes desse ainda, teve um show onde iríamos tocar mas rolou uma treta entre os Punks e cancelaram. Era o primeiro show que eu faria na vida, o nome da banda não era nem Claustrofobia.

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Como era o nome da banda?

Na época (pensativo), era Extermination (risos)...marcamos esse show que era mais Punk, eu era pivete, tinha 12 ou 13 anos e o show seria em uma pastelaria. Lotava de Punks, Carecas e Headbangers. Na hora da nossa vez, estávamos nervosos, primeiro show, aí saiu uma treta, garrafadas, sangue e não tocamos. Mas o primeiro show oficial que rolou mesmo foi nessa festa em casa (risos).

E como foi a festa?

Marcus - Putz, chamamos uns amigos da escola...

Caio – Uma galera do bairro, uns amigos, eu nem estava na banda ainda, mas já acompanhava tudo de perto. Tinha uma outra banda de uns camaradas que a gente chamou também.

Marcus – Vários moleques curtindo o som, tocamos uns covers de Garotos Podres, Ratos de Porão, até Titãs e fazíamos umas músicas nossas, tinha uma que chamava Morte Alienada. Essa foi a primeira festa, foi legal pra caralho, depois fizemos mais algumas, curtíamos tocar e já visávamos os shows, o crescimento da banda.

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Mas naquela época vocês já tinham a idéia fixa de transformar o Claustrofobia em uma banda de destaque, sem ser apenas um hobby ou uma brincadeira?

Marcus – Vou falar pra você que quando comecei a curtir o som, comecei a aprender a tocar, falei "é isso que eu quero"...nosso objetivo sempre foi esse, de lá pra cá, nunca pensamos em parar.

Logo nesse começo já rolaram as primeiras trocas de formações. Como se deram essas mudanças?

Marcus – Na primeira mudança de formação, rolaram umas tretas inocentes (risos). Eu comecei com o Daniel, mas ele logo saiu. Éramos moleques, tretávamos pelo lance do direcionamento musical, não ter limites ou ficar preso a uma determinada fórmula. Mas hoje em dia já não tem mais nada a ver, temos uma puta consideração por todos que saíram, o Marcelo, o Ricardinho era um puta baixista e voltou o Daniel, veio o Ivan. Depois, mais pra frente, o Ivan acabou saindo porque ainda éramos muito novos e a mãe dele não deixou que ele continuasse com a gente. Conversamos também na época com a família do Daniel e eles apoiaram pra caramba, nessas que entrou o Caio também.

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Caio – Eu já tocava em uma banda chamada Nuclear, tocava Baixo e Bateria mas sempre estava presente nos ensaios do Claustrofobia. Era mais novo que o Marcus, mas curtia o som e nossa mãe que chegou e falou pro Marcus, "por que não colocar o seu irmão, o Caio?".

Marcus – Ele não tocava bem ainda, mas já tinha noção das músicas. Rolou um show em Americana e o Caio estreou bem. Depois o Marcelo, que já era um pouco mais velho que a gente, foi saindo aos poucos, pegou exército, mas todos que já saíram ainda são do Claustrofobia, fazem parte da família da banda.

E como vocês chegaram ao Alê?

Marcus - Pois é, nós já morávamos aqui em São Paulo, viemos de Leme um pouco antes porque meu pai veio morar aqui. Eu tinha um amigo chamado Death (risos), curtia só desgraceira e ele era amigo do Alê e nos apresentou. Eu sabia que ele tocava guitarra.

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Alê – Eu tocava em uma banda cover já há algum tempo.

Marcus – É aquela história que eu acredito que nada é por acaso. Liguei, chamei para fazer um ensaio e ele logo colou em casa para ensaiarmos e eu sempre fui mais um guitarra base e o Alê é um cara que curte solos. Lembro que a primeira música que tocamos foi Orgasmatron e ele chegou falando "deixa que o solo é comigo". Na hora já pensei que esse era o cara (risos).

Alê – Essa música e alguns outros covers eu já tinha tirado na outra banda e basicamente solei igual, sem problemas (risos).

A banda também conseguiu um bom trunfo neste começo quando vocês participaram da coletânea Falange Rock III, a primeira gravação oficial da banda. Como rolou essa oportunidade?

Marcus – Eu achei um anúncio na Rock Brigade sobre o projeto e mandamos uma demo para os responsáveis. A demo nós gravamos em um gravador de rolo pequenininho (risos). O cara aprovou mas tivemos que pagar pra rolar a oportunidade, foram uns R$ 300,00 mais ou menos, mas ganhamos um festival em Araras e um teclado. Rifamos o teclado, meu pai organizou a rifa. Foi foda ter que pagar mas não tem jeito, ninguém nos conhecia lá no interior. Demos sorte porque as nossas foram as duas primeiras músicas do CD, abrimos o disco. Não rolou uma distribuição muito boa mas saíram umas resenhas em algumas revistas. O próprio ACM fez a resenha pra Brigade e falou bem pra caralho, disse que o nome da banda era horrível mas o som era excelente (risos), foi uma das primeiras resenhas que saíram.

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Em seguida vocês gravaram a demo Saint War e a banda começou a ganhar destaque no cenário nacional. Como foram esses momentos?

Caio – Quando eu e o Alê entramos na banda e estabilizamos a formação, começamos a compor as primeiras músicas novas com os novos integrantes e fazer vários shows, achamos que era a hora de registrar o momento e gravar uma demo com essa formação. E foi a partir dessa demo, que começamos a crescer e pensar em gravar um CD oficial. A gravação foi em um estúdio onde ensaiávamos e a qualidade do som ficou muito boa, fomos bastante elogiados na época pelas revistas e foi essa demo que possibilitou a abertura do show do Soulfly no estádio do Canindé em São Paulo em 1998. A banda viria pro Brasil e o Max exigiu a presença do A.N.I.M.A.L da Argentina e do Devotos do Brasil e era para ter mais uma banda. Conseguimos através de alguns contatos deixar a demo em um prédio, na portaria e teoricamente estava tudo certo, mas eu só acreditava quando subíssemos no palco. Não tínhamos nem CD e de repente iríamos tocar com o Max Cavalera. Inclusive muita gente acha que pagamos para abrir para o Soulfly, mas nós nunca pagamos e nunca vamos pagar para tocar em nenhum show.

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Vocês tiveram contato com o Max?

Marcus – Não, ele só nos cumprimentou, um por um, minutos antes de subir ao palco para o show do Soulfly quando já estava rolando a intro da banda. Ele ficou no camarim o tempo todo fazendo as macumbas dele (risos) e um pouco antes do show começar, saiu, nos cumprimentou um por um, e foi pro palco.

O fato das rádios e da MTV, em meados dos anos 90, terem decretado a morte do Metal e voltarem sua programação para um lado totalmente comercial (com o fim do Fúria Metal, por exemplo), afetou os planos da banda e o cenário como um todo?

Marcus – Cara, não afetou porque não estávamos ainda dentro do cenário. Quando o Alê entrou, começamos a fazer uns showzinhos aqui e ali, tocamos no Aeroanta. Saíamos à noite na rua e colávamos cartazes da banda em ônibus, cabines telefônicas, precisávamos divulgar de alguma forma. Chegamos a colar demo na parede (risos). Tudo para divulgar um show. Fora isso, sempre nos preocupamos em ensaiar muito, subir no palco e fazer um puta show. Ainda nesse começo, fizemos uma apresentação histórica no Aeroanta com os caras do Torture Squad e tinha muita gente da cena por lá, o Toninho do fã-clube do Sepultura, os caras do Siegrid Ingrid, os próprios caras do Torture, esse show foi importante para abrir nosso espaço.

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1996 foi um ano de viradas importantes para a banda quando vocês conseguiram se apresentar no show da Brasil 2000. Como rolou essa apresentação?

Marcus – Pois é, esse foi O show. O cara que gravou o Falange Rock III trabalhava no Aeroanta e esse lugar era uma das principais casas de show (NR: de São Paulo). Nós tocamos, conhecemos os caras que trabalhavam lá e eles nos apadrinharam. Aí um cara da Brasil 2000, que era conhecido do Alê, nos viu em um show lá, curtiu e colocou a gente pra tocar nesse festival misturado com umas bandas Pop até. Nós abrimos o show e a casa caiu, tinha uma galera da cena Metal vendo o show, o Vitão Bonesso, o Toninho. Foi animal e tinha muita galera que não era do Metal que curtiu a gente também.

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Como foi dividir o palco com nomes que estavam em destaque como o Raimundos e o Dr. Sin?

Alê – Cara, nós nem conversamos com esse pessoal no show....

Marcus – Naquele dia conversamos só com o Ronaldo, goleiro do Corinthians, que tinha uma banda que chamava Ronaldo E Os Impedidos e ele foi o único que chegou e falou que curtiu nosso som.

Vocês chegaram a enfrentar algum tipo de preconceito das bandas mais veteranas?

Marcus – Olha, vou falar para você que isso rola sim, especialmente porque sempre fomos Metal, sempre fizemos a música com o coração, nunca quisemos ser igual a ninguém, éramos moleques, mas sempre tivemos uma identidade e às vezes, nessa fase, encontramos pessoas que torciam o nariz e falavam que tocávamos aquilo porque ainda éramos novinhos. Então rolou, mas nunca afetou nosso trabalho e foi até bom porque hoje em dia sabemos quem é quem, quem sobreviveu, quem tem atitude, então ninguém pode falar nada de ninguém, só o tempo mesmo pra dizer quem é quem, até porque é muito difícil sobreviver tocando Metal no Brasil.

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Sobre Bruno Sanchez

Paulistano, 26 anos, Administrador de Empresas e amante de História. Bruno é colaborador do Whiplash! desde 2003, mas seus textos e resenhas já constavam na parte de usuários em 1998. Foi levado ao Rock e Metal pelos seus pais através de Beatles, Byrds e Animals. Com o tempo, descobriu o Metallica ainda nos anos 80 e sua vida nunca mais foi a mesma. Suas bandas preferidas são Beatles, Metallica, Iron Maiden, Judas Priest, Slayer, Venom, Cream, Blind Guardian e Gamma Ray.
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