Allegro: Se firmando como nome importante no cenário heavy
Postado em 09 de julho de 2002
Entrevistador: Rafael Carnovale
A banda Allegro vem se firmando como um nome importante no cenário heavy metal nacional. Após abrir shows do Angra, Stratovarius e Saxon, a banda começa a aparecer para toda uma legião de fãs, com seu power metal muito peculiar, dada a diversidade de seu som, e pela competência de seus músicos. Muito se evoluiu desde a primeira demo ("Third Millenium"). O vocalista Ilton Nogueira conta algumas boas histórias da banda, bons momentos, e aproveita para fazer um esclarecimento sobre a confusão ocorrida no show do Stratovarius no Rio de Janeiro. Agradecimentos à banda e continuem com metal no sangue.
Whiplash - Como a banda se formou e como surgiu o nome Allegro?
Ílton Nogueira / Eu, o Lula e o Alex éramos vizinhos e formamos a banda em 1995. Esse nome surgiu quando o Lula folheava um dicionário de termos musicais. Achamos que soaria bem e que combinava com o nosso som.
Whiplash! - Algumas pessoas chegaram a chamar a banda de o Angra carioca, por ter aberto o show da tour do Fireworks em 1999. Como vocês reagem a tal situação?
Ílton Nogueira / Ao contrário do que as pessoas possam pensar, essa comparação não nos incomoda nem um pouco. Aliás, é exatamente o contrário. O Angra é um exemplo para qualquer banda que deseje seguir carreira no heavy metal, gostando ou não do som deles. Ter tocado com eles foi uma grande honra para nós. Quem prestar bem atenção nas nossas músicas vai notar que somos bem diferentes do Angra, eles são um referencial e toda banda que seguir dentro desse estilo vai ser comparada a eles.
Whiplash! - Falando em Angra, vocês têm contato com a banda? O que acharam do último cd?
Ílton Nogueira / Encontramos o Aquiles quando estivemos em São Paulo tocando no Da Tribo Rock Festival.Todos nós ficamos muito impressionados com o Rebirth, é um grande disco.
Whiplash! - Sua voz é muito boa, com uma boa dosagem nos graves e agudos. Existe alguma preparação específica para tal? Quais seriam suas influências?
Ílton Nogueira / Muito obrigado pelo elogio. Tenho aulas de técnica vocal e fisiologia da voz há quatro anos e treino uma hora por dia de segunda a sexta. É até meio óbvio dizer isso mas é muito importante não fumar e não beber em hipótese nenhuma. Tomo também alguns cuidados com alimentação mas o principal é ser disciplinado e dedicado. Minhas influências principais são: Freddie Mercury (Queen), Geoff Tate (Queensryche) e Michael Kiske (ex-Helloween).
Whiplash! - Ouvindo faixas como "Third Millenium" e "As one We'll Survive", notamos alguns riffs que lembram desde Metallica até Pantera? O estilo dessas bandas de alguma forma inspira vocês?
Ílton Nogueira / Sim. Lembro bem de termos passado horas assistindo a vídeos do Metallica e principalmente do Pantera. O Marcus, o Alex e o Will tocavam em bandas de thrash antes de entrarem no Allegro e isso certamente se refletiu nas nossas músicas.
Whiplash! - Do mesmo modo podemos ouvir uma faixa com uma pegada mais hard/heavy como "Stormy Nights" Como vocês conseguiram em um cd trabalhar com uma diversidade tão boa de estilos sem perder o foco do heavy metal?
Ílton Nogueira / Partilhamos da opinião que, dentro do heavy metal, podemos fazer tudo o que quisermos. Não perder o foco, para nós, significa continuar fazendo heavy metal, e fazer isso com toda liberdade. É muito importante fazer música sem pensar em encaixá-la num estilo ou rótulo, dessa maneira conseguimos colocar todas as nossas influências sem ter "medo", o que possibilita manter nossas características.
Whiplash! - A arte gráfica do cd está muito boa? Donde saiu o conceito da capa e das ilustrações do encarte?
Ílton Nogueira / Este é o nosso primeiro cd. Queríamos algo que passasse a idéia de início. Na capa, vemos uma obra esculpida no muro. Uma obra sem acabamento, que acabou de ser iniciada, e o Allegro é exatamente isso. Uma banda que deu seu primeiro passo e vai continuar caminhando... Um amigo nosso, Flávio Albino, cuidou de toda a arte do cd. Foi dele a idéia de "dar vida" a uma gravura de Leonardo da Vinci chamada "cabeças grotescas".
Whiplash! - Quais seriam as bandas que vocês apontariam atualmente no cenário internacional como uma fonte de inspiração para o Allegro?
Ílton Nogueira / Sem pensar duas vezes é o Dream Theater. Todos somos muito fãs dessa banda. Evidentemente gostamos de outras muitas mas vamos destacar apenas o Dream Theater.
Whiplash! - Como é ser integrante de uma banda de heavy metal no Rio de Janeiro? O cenário agora mostra sinais de crescimento? E como é tocar em outros estados, do ponto de vista de recepção, cenário local, bandas?
Ílton Nogueira / A coisa aqui no Rio poderia ser melhor. Muito melhor. Temos muita coisa boa aqui no Rio como Sigma 5, Endless, Thoten, Lost Forever, Imago Mortis... Todas essa bandas de qualidade excepcional estão batalhando faz muito tempo e ainda não tiveram o reconhecimento que merecem. Muitas vezes saimos como vilões da história apenas por querermos apresentar ao público um trabalho de qualidade. Por exemplo, quando abrimos o show do Stratovarius, tivemos um desentendimento com a produção. Para tocar com o Stratovarius precisaríamos levar apenas nossa bateria. Assim fizemos e só chegando ao local do show ficamos sabendo que nossa bateria seria usada apenas pelo Stratovarius e que nós, se quiséssemos mesmo tocar, teríamos que arranjar outra. Achamos isso uma tremenda falta de respeito com quem faz heavy metal por amor e nunca ganhou dinheiro algum com isso. Mas nós arrumamos outra bateria e fizemos nosso show de vinte minutos sob a constante ameaça de termos nosso som cortado a qualquer momento. Tocamos, o público aprovou mas, para nossa surpresa saímos como vilões. Estou aproveitando a oportunidade agora que a Whiplash! está nos dando para esclarecer esse assunto. Foi dito que a partir desse dia passamos a odiar Stratovarius e que brigamos com eles e tudo. Isso é mentira, sempre gostamos da banda e continuamos gostando. Embora quiséssemos, mal os vimos porque éramos proibidos de andar no mesmo corredor que eles. Temos consciência também de que o Stratovarius sequer sabia o que estava acontecendo. Chegaram e tocaram, fizeram a parte deles. Foi dito também que a partir desse dia, não tem mais shows de abertura no Rio de Janeiro.. Isso também é mentira. No mesmmo ano nós tocamos com o Dr. Sin. O principal motivo de não haver abertura de shows é que os produtores cobram, e caro, para dar às bandas uma oportunidade dessas. A postura correta é não pagar, não pagando não toca e é por isso que nossas bandas não participam de shows de abertura. Isso é muito ruim e tem que mudar. Quanto a tocar em outros estados, vimos a diferença. Tivemos toda a produção caminhando junto com a banda, encontramos grandes profissionais que se tornaram também grandes amigos. Adoramos ter tocado em BH e no Da Tribo Rock Festival. Não esperávamos ser tão bem recebidos.
Whiplash! - Vocês sofrem alguma pressão ou sentem alguma coisa quando se fala que tal banda pode ser o novo Sepultura ou Angra? Existe algum contato para shows no exterior?
Ílton Nogueira / A única pressão que sofremos vem de nós mesmos. Sepultura e Angra são exemplos e queremos ser como eles. Quanto a contato para shows no exterior não há nada concreto ainda mas existem boas chances de fazermos algo fora do Brasil sim. Mas é cedo para divulgar.
Whiplash! - O Allegro abriu recentemente o show do Saxon. Como foi tocar com uma lenda do metal? O estigma de que banda nacional só cabe como abertura e com limitações de som e luz ainda predomina? Como foi a reação da galera?
Ílton Nogueira / Foi demais tocar com o Saxon. Ele são caras muito legais. Ficamos impressionados como fomos respeitados em BH. Não houve limitações de som e de luz. Quem ganha é o público que recebe um show com maior qualidade. A reação da galera não podia ter sido melhor. Fizemos muitos amigos lá em BH e já estamos ansiosos para voltar para lá e levar nosso show completo.
Whiplash! - "Sweet as Wine, Holy as Blood" é uma grande faixa, muito apegada ao estilo épico que caracteriza o metal... o que é ser doce como vinho, sagrado como sangue?
Ílton Nogueira / Um fanático religioso me parou na rua um dia e me disse essa frase... ele estava se referindo à vida e disse que pecadores como eu não acreditavam nessas palavras (risos). Fiz a música para criticar esse fanatismo que pode ser muito nocivo ao mundo. Fala da chegada de um Messias e das mudanças que ocorreriam depois. Existem pessoas que não fazem nada, não acreditam em nada, simplesmente esperam a chegada de um Messias.
Whiplash! - O mundo vive o fenômeno do New (ou NU) Metal. O que vocês acham destas bandas e o que andam ouvindo atualmente?
Ílton Nogueira / Todos nós temos gostos muito variados. Particularmente, eu não gosto do "New Metal" enquanto que alguns outros da banda curtem. Acredito que dentro de todo o estilo de música é possível encontrar algo que tenha qualidade. Agradar ou não é apenas uma questão de gosto pessoal.
Whiplash! - Como vai a turnê? Existem planos para um novo cd?
Ílton Nogueira / Já estamos ensaiando as novas músicas mas só vamos entrar no estúdio no ano que vem. Precisamos de mais tempo para divulgar nosso primeiro trabalho que está indo muito bem. Estamos muito felizes e gratos com todos que têm nos apoiado.
Whiplash! - Deixe uma mensagem para os fãs. E desde aqui um protesto: "The Show Must Go On" do Queen deveria ter entrado no cd, pois de todas as covers que ouvi dessa música, a do Allegro foi a melhor.
Ílton Nogueira / Mais uma vez muito obrigado. Não gravamos essa música porque Queen tem um nível que na minha opinião é inatingível. Acho uma ousadia tocarmos essa música o que diria gravar. Ficamos muito felizes de saber que as pessoas têm gostado desse cover e pode ter certeza que vamos tocá-lo muitas vezes ainda.
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps