Svnth - Uma viagem diametral por extremos musicais e seus intermédios
Resenha - Pink Noise Youth - Svnth
Por Marcelo R.
Postado em 03 de novembro de 2025
Título pomposo. Um tanto longo e, talvez, pouco claro. Demorado, à extensão daquelas frases que voltamos e relemos, de novo e de novo, até assimilarmos o sentido. Nessa formulação, porém, uma condensação, talvez suficientemente autoexplicativa, da complexa tapeçaria sonora à qual se soergue a musicalidade de SVNTH. Pouco resta, assim, a acrescentar. Quanto ao mais, a experiência de aprofundamento e deleite é tarefa do ouvinte.
Erigindo diretamente da Itália, SVNTH (pronuncia-se Seventh) desenvolve proposta que não se enquadra, confortavelmente, em estratos predeterminados dos gêneros conhecidos. Há um trânsito e um intercâmbio dinâmicos pelos meandros de diversas influências e estilos, alguns, inclusive, alocados para além da linha divisória do metal. E isso espelha largo elogio, frise-se de partida.

Definir sua musicalidade pelo limitado mosaico de palavras é missão espinhosa. Esse é, aliás, um receio pessoal recorrente, que sempre antecipo e advirto: o de me lançar à análise de um material e, ao final, entregar resultado aquém. Insatisfatório. De todo modo, um trabalho monumental como Pink Noise Youth merece o registro de algumas linhas para sua justa exaltação.
O gênero do conjunto define-se, atualmente, como post-black metal/post-rock. Alguns bastiões do estilo são, portanto, evocações naturais, em termos de influências.
Embora sob o molde de veia extrema, que lhe dá o contorno geral, Pink Noise Youth emerge, em sua complexa teia, por multicamadas que lhe dinamizam a musicalidade. Assim, em epopeica peregrinação, o ouvinte também é exposto, absorto, por passagens etéreas, frequentemente presentes ao longo da audição, além de arranjos psicodélico-experimentais desenvolvidos numa transcendentalidade quase sideral, à la space rock em sua melhor expressão.

As influências de Alcest são inafastáveis, ainda que SVNTH possua firme identidade própria. Aliás, o conjunto italiano distingue-se da citada referência por adotar abordagem frequentemente mais pesada, agressiva e frenética, com diversos blast-beats e maior presença de vocais rasgados em comparação com o conjunto francês.
SVNTH mantém, ainda, alguma relação de parentesco musical com os escoceses do Saor, exceto pelas influências celtas e folks, que identificam fortemente apenas o conjunto britânico.
Pincelado o panorama geral de SVNTH, em sua musicalidade e (algumas) influências, avança-se, sem maiores delongas verborrágicas, à análise propriamente dita.
Lançado em 2025, Pink Noise Youth principia-se com Inhale, uma enxuta faixa instrumental, inicialmente acústica, revestida de um quê belo-dramático. Com uma aura envolvente, elegante e doce, sua cadência celestial é, porém, abruptamente rompida por intensa explosão sonora que, a partir de então, prepara o espírito do ouvinte à fervilhante epopeia musical iminente, já à espreita.
A audição avança, então, para Cinnamon Moon, canção que seguramente poderá se tornar hino da banda. A composição compila, nela própria, todas as virtudes que definem a ambiência sonora do conjunto, servindo, inclusive, como perfeito cartão de apresentação.
Cinnamon Moon representa a amplitude do diâmetro musical percorrido por SVNTH. O riff inicial evoca uma linha de black metal com certa camada melancólica. O inspiradíssimo início transportou-me a uma atmosfera taciturna e, em certa medida, emotivamente pranteada, pareando-se com canções como Serpente (Primordial Idol) e Falcula (Dawn), apenas para semear alguns paralelos (que, inclusive, podem interessar ao leitor).
Cinnamon Moon avança com a entrada de imponentes vocais rasgados, potentes e viscerais, acompanhados por uma base pesada e por um ritmo cadenciado e moderado. Progride, porém, para outras influências, para além do circuito de música extrema, temperando-se com caídas de tempo e com inflexões que contrastam com a agressividade inaugural.
Há, assim, o entremeio de vocais limpos e, ainda, um longo e emocionante trecho instrumental. E é justamente nesse núcleo que a faixa evolui, com a inserção de orquestrações e de outros recursos e instrumentações pouco usuais no metal, como a utilização de sitar e címbalos. Aliás, a inclusão de sitar, tanto nessa faixa como em diversas outras, alçou os níveis de Pink Noise Youth a elevadas estaturas de fertilidade criativa, conferindo-lhe, inclusive, alguns contornos exóticos e místicos.
E é nessa ambiência que Pink Noise Youth se desenvolve. Há algumas passagens de frenética velocidade, mas, no espírito geral, o álbum é cadenciado, sem excessos ou exageros. Há vocais rasgados, executados com segurança e imponência, temperados, porém, com passagens de cantos limpos e cristalinos (que mantêm certa afinidade, inclusive, com subgêneros mais contemporâneos do metal).
No aspecto instrumental, as linhas agressivas caminham em par com arranjos mais estruturados e refinados, igualmente protagonistas em Pink Noise Youth. Há, assim, pródiga profusão de ideias, férteis em experimentações, orquestrações e multifacetados arranjos. Nessa síntese, citam-se faixas como Perfume, Narrow, Narrow e Winter Blues, todas costuradas nesse manto de influências.
É digna de menção, ainda nesse contexto, a canção Elephant, cujo solo, elevando-se a patamar de sublime sentimentalismo, representa um dos apogeus de Pink Noise Youth. Um momento catártico em meio ao redemoinho de emoções que brotam das paisagens musicais desse trabalho escultural, milimetricamente esculpido.
Merece destaque enfático, ainda, a enigmática canção Exhale, à qual reservarei alguns parágrafos especificamente para lhe louvar.
No contrafluxo rítmico que, no geral, dita o tom de Pink Noise Youth, Exhale é um ponto de desaceleração. Com ar místico, envolto com um quê de mistério, essa canção aflora a sensorialidade do ouvinte, enredado em oníricos paralelos psicodélico-transcendentais. Há, aqui, rica instrumentação, novamente com a inserção de elementos pouco usuais, como guitarras acústicas, sitar, teclados, tambourine (pandeiro com platinelas) e vibraslap (instrumento de percussão).
Exhale é uma faixa que se distancia do metal, vigorando a audição com uma quebra de expectativa (aqui, no melhor dos sentidos), considerando o espírito até então regente de Pink Noise Youth. É, possivelmente, minha canção favorita nessa árdua disputa, abrindo vantagem pelo seu corajoso arrojo inventivo e pela impecável capacidade de alcançar o ouvinte no âmago de sua sensorialidade.
Exhale é contemplativa e meditativa em proporção quase hipnótica. Uma experiência praticamente extrassensorial. Essa é, talvez, a perfeita definição de Exhale.
Finalmente, Pink Noise Youth encerra-se com a amainada Nairobi Lullaby. Com verve belo-romântica, a canção resfria os ânimos, apaziguando-os após intrincada peregrinação musical, ora épica, ora taciturno-contemplativa. Um cerrar de cortinas emocionante, que se despede do ouvinte com tom de pacificidade leve e celestial.
Nairobi Lullaby resgata influências de dream pop e de shoegaze. Em sua ambiência, parece beber diretamente da fonte de Shelter, escultural álbum do Alcest.
Ao se encerrar, Nairobi Lullaby instiga, imediatamente, a sonoros aplausos, atônito o ouvinte após percorrer tamanho frenesi sentimental nessa intensa experiência músico-contemplativa.
A gravação e a produção são, ainda, pontos de destaque. A audição é cristalina, sem sobreposição autoritária de instrumentos.
Há equilíbrio nos campos reservados a cada músico. Desse modo, todos eles tiveram preservado espaço para exploração de suas técnicas, com momentos particulares de destaque e de exibição técnica, bem distribuídos e bem definidos.
SVNTH não conhece limites. E, sobretudo, não se arreceia de arriscar. É, assim, desafeto de lugares-comuns, de zonas de conforto, de padrões ou de repetições de fórmulas. Atrevendo-se, ocupou espaços inexplorados, elevando Pink Noise Youth a patamar de rara qualidade. Prova disso é a sua fértil instrumentação, desenvolvida com diversos recursos musicais pouco usuais ao universo do metal (alguns deles citados ao longo dessa análise).
E, por fim, o principal: nesse caldeirão, tudo foi executado com coesão e parcimônia, com nortes bem definidos. Os arranjos, embora pródigos em elementos e influências, não desvirtuaram as bases do estilo adotado pelo SVNTH, com fincas em raízes do post-black metal/post-rock. Nada, portanto, soa excessivo ou exagerado, tampouco desconectado. Pink Noise Youth é, em síntese, um todo harmônico. É, sobretudo, prova autoexplicativa da qualidade técnica e criativa de SVNTH.
Seguramente à estatura de clássico, Pink Noise Youth merece ampla projeção. E, se se elevar à estatura de sua indiscutível competência, como merece, apenas o céu será limite ao SVNTH.
Altamente recomendável.
Boa audição.
Resenha originalmente publicada na página Rock Show.
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps



AC/DC confirma show único no Brasil em São Paulo para fevereiro
Show do AC/DC em São Paulo será realizado no MorumBIS; Pretty Reckless fará a abertura
Os melhores guitarristas da atualidade, segundo Regis Tadeu (inclui brasileiro)
As duas bandas que atrapalharam o sucesso do Iron Maiden nos anos oitenta
A banda brasileira que está seguindo passos de Angra e Sepultura, segundo produtor
O disco do Metallica que para James Hetfield ainda não foi compreendido; "vai chegar a hora"
Como era sugestão de Steve Harris para arte de "Powerslave" e por que foi rejeitada?
"Guitarra Verde" - um olhar sobre a Fender Stratocaster de Edgard Scandurra
Regis Tadeu explica por que não vai ao show do AC/DC no Brasil: "Eu estou fora"
As músicas do Iron Maiden que Dave Murray não gosta: "Poderia ter soado melhor"
Mais um show do Guns N' Roses no Brasil - e a prova de que a nostalgia ainda segue em alta
Greyson Nekrutman mostra seu talento em medley de "Chaos A.D.", clássico do Sepultura
Dois fãs tumultuam show do Metallica e vão em cana enquanto a banda continua tocando
Ramones e a complexidade técnica por trás da sua estética
O artista que Neil Peart se orgulhava de ter inspirado

Svnth - Uma viagem diametral por extremos musicais e seus intermédios
Em "Chosen", Glenn Hughes anota outro bom disco no currículo e dá aula de hard rock
Ànv (Eluveitie) - Entre a tradição celta e o metal moderno
Scorpions - A humanidade em contagem regressiva
Soulfly: a chama ainda queima
Quando o Megadeth deixou o thrash metal de lado e assumiu um risco muito alto


