30 anos de um clássico do metal alternativo; "Weight" - Rollins Band
Resenha - Weight - Rollins Band
Por Fernando Claure
Postado em 29 de outubro de 2024
Nota: 8
Após o sucesso de "The End of Silence", a Rollins Band passou por um momento conturbado. O trauma da morte de Joe Cole para Henry Rollins ainda era muito recente e Andrew Weiss foi demitido da banda pouco tempo após o fim da turnê de promoção do álbum. Mas tudo isso era como um almoço para a criatividade de Rollins. Suas músicas deste momento em diante seguiram os fundamentos estabelecidos no álbum anterior, mas agora com uma base ainda mais aprofundada e repleta de contexto. 30 anos depois, o LP soa tão atual como nunca.
No mesmo ano de gravações para "Weight", a banda contratou o baixista Melvin Gibbs, que possuía grande experiência com jazz, colaborando até mesmo com artistas brasileiros como Caetano Veloso e Marisa Monte. A técnica de Gibbs e seu estilo deram um novo ar para a banda, que agora buscava um som ainda mais desenvolvido e pensado, mas que retivesse também a atitude agressiva e direta dos LPs passados. O resultado foi um dos melhores álbuns da banda e um dos maiores de alt-metal da década de 1990. O próprio nome já pode ser associado ao estilo de Rollins na época. Um ávido entusiasta de treinos de academia, chegando até mesmo a afirmar em entrevista que se exercitava seis dias na semana e por volta de 90 minutos antes de subir nos palcos. Henry definitivamente levava uma vida regrada e intensa.
"Weight" provou ser uma nova forma para a banda expressar sua criatividade como um ato de alt-metal e post-hardcore. Após "The End of Silence", o grupo conseguiu encontrar um som único e com este novo projeto, agora viriam a tentar acertar um trovão metafórico no mesmo lugar, para conseguirem uma sonoridade única para eles, com Gibbs no lugar de Weiss. O sucesso do álbum se deu também por conta de maior exposição na TV. Uma das canções mais famosas da banda, "Liar", que foi o primeiro single do álbum a ser disponibilizado, apareceu na série "Beavis and Butt-head", que na época da década de 1990 era um ícone cultural nos EUA. O segundo single, "Disconnect", também apareceu na série.
A imagem da capa parece ser um flash (não faço ideia do que esteja representando), enquanto a parte de trás possui uma imagem dos membros da banda em um estúdio que parece estar montado na garagem de alguém. O restante do conteúdo do encarte é básico, com as letras das músicas ao redor de imagens centrais, cada uma de um membro do grupo em cada página. Na parte final de agradecimentos, há menções sobre as famílias dos músicos e até mesmo a banda Tool. No final, há uma dedicatória para Joe Cole, escrita "Joe Cole 4.10.61 - 12.19.91". O CD utilizado para a resenha foi um nacional da época de lançamento.
1. Disconnect
Início sombrio, com o baixo de Melvin Gibbs voltado para o groove metal, dando uma quebra na guitarra e bateria de Haskett e Cain, respectivamente. O refrão é explosivo e contagiante, com Rollins energético mas sem os gritos viscerais do primeiro álbum, "Life Time". Haskett e Gibbs criaram uma parceria perfeita, revezando os holofotes entre si, até que Rollins volta a marcar sua presença no refrão. Uma ótima faixa inicial, com a sonoridade similar ao material inicial do Rage Against the Machine, divergente principalmente na questão vocal e com uma melodia menos funk metal e mais post hardcore.
2. Fool
Começo mais forte que a música anterior. Agora a guitarra de Haskett encorpa a melodia. A bateria de Cain providencia uma estrutura sólida, enquanto os vocais de Henry voltam ao seu estilo intenso apresentado em "End Of Silence". O baixo de Melvin Gibbs fica um pouco demais no fundo, mas não arruína a música. O ritmo dos instrumentos é extremamente contagiante e acessível, principalmente para quem não é acostumado com o estilo da banda.
3. Icon
Voltando para uma harmonia mais simples, o foco é voltado para os vocais de Henry Rollins, que transfere sua força física para suas cordas vocais. Os versos e riffs são excelentes em conjunto com a performance de Henry, mas a faixa não se destaca muito além disso.
4. Civilized
Audioslave antes do Audioslave. O instrumental e o jeito que Rollins canta suas letras formam um tipo de funk metal com "metal spoken word" (caso esse gênero não exista, acabou de ser inventado). A faixa não é ruim, mas para quem já passou um tempo ouvindo os projetos de Tom Morello, Brad Wilk e Tim Commerford, é difícil dissociar esta faixa das músicas do trio com Zack De La Rocha no RATM e Chris Cornell no Audioslave. "Civilized" é um experimento.
5. Divine
Rollins inicia a música expressando "Kill me". Aos poucos, Gibbs vai se soltando no baixo, Haskett rasga a guitarra e Cain destroi a bateria. A música é como uma ode ao narcisista que não enxerga as diferenças de atenção, uma alegoria ao ditado "falem bem ou falem mal, mas falem de mim" só que na versão Henry Rollins. A vocalização incorpora intensidade e paixão derivadas de raiva, com cada palavra pronunciada batendo no microfone como um tijolo. Uma das faixas mais intensas do álbum.
6. Liar
O maior hit do álbum, que chegou a ganhar um clipe e uma aparição em "Beavis and Butt-Head". A música começa tranquila, em um ritmo de jazz, com Rollins narrando uma história sem comparações e metáforas, descrevendo exatamente as ações de um mentiroso "pathological". No refrão, o vocalista lidera uma erupção vulcânica por parte de todos da banda. O estilo de narrativa escolhido é interessante e acaba casando muito bem com a letra e os instrumentos, até melhor que em "Divine". O baixo de Melvin flutua entre jazz suave e jazz fusion, principalmente o presente nas músicas de sua banda com Sonny Sharrock.
7. Step Back
A música começa com um estilo brutal, com Rollins dizendo "You're so fucking weak". O resto da letra tenta continuar com essa linha de raciocínio intimidadora, que possui mais substância nos instrumentos. Essencialmente, Henry transformou a frase "Vem então" em uma música. Enquanto isso, o baixo de Gibbs providencia um groove excelente, que remete a Rex Brown do Pantera. Mesmo que sua habilidade seja espetacular em todas as faixas, Sim Cain sempre acaba ficando um pouco atrás de Melvin e Chris nos destaques instrumentais.
8. Wrong Man
De volta com o estilo presente em "Civilized", Sim Cain finalmente começa a se soltar e tomar algumas liberdades, mesmo que estas sejam sutis. Chris e Melvin criam uma harmonia carregada, acompanhando o vocal rápido de Henry. É uma ótima faixa, uma das melhores do álbum, mas Henry grita tantas vezes a palavra "Man" que começa a ficar enjoativo.
9. Volume 4
Cruel, melancólica e intensa. Essas são as características que descrevem uma música com grande significado pessoal para Rollins, que parece conversar consigo mesmo sobre seu momento de luto após o assassinato de seu melhor amigo, Joe Cole, que foi executado ao seu lado durante um assalto na casa do vocalista. Cada palavra de Henry, mesmo que saia em um ritmo um pouco descoordenado, soa como um desabafo carregado de raiva, ceticismo e depressão. Com essa entrega vocálica, os instrumentais de Haskett, Gibbs e Cain que seguem a liderança de Rollins soam fortes e expressivos, principalmente as marretadas na bateria de Sim Cain e os riffs de Chris Haskett que flertam com funk metal.
10. Tired
Com uma letra que muitas pessoas podem se identificar, Henry Rollins canta exatamente como uma música chamada "Tired" (Cansado) deveria ser. Com o instrumental mais contido, Henry proclama suas palavras como se estivesse no limbo entre o sono e o despertar. A bateria e o baixo seguem em sincronia, enquanto a guitarra começa a devanear, como se Haskett estivesse quase dormindo também. Esse estilo, apesar de estar a par com o tema da faixa, foge um pouco da sonoridade estabelecida pelas músicas anteriores, o que é bom para dar uma quebra na expectativa de quem ouve o álbum pela primeira vez ou pega para relembrar.
11. Alien Blueprint
Voltando para o agito de antes, a penúltima faixa do álbum apresenta um vocal menos intenso, com os instrumentais assumindo esse papel. A distorção no baixo relembra "Disconnect" e "Civilized" pelo som similar ao RATM, enquanto a guitarra e a bateria colaboram mais entre si. Talvez seja pela diminuição na força dos vocais de Rollins, mas essa acaba sendo uma das músicas menos marcantes do álbum. Não que seja ruim, mas não haveria problema se fosse apenas um lado B de um single.
12. Shine
Última música do projeto, a mistura de funk moderno (para os anos 1990) com metal apresenta uma enorme peculiaridade: As letras de Rollins são como um discurso motivacional, falando sobre deixar de lado as drogas e vícios para focar em aproveitar o seu tempo de vida. Uma mudança marcante, considerando que muitas das outras músicas da carreira inteira de Henry Rollins se tratam de temas mais pesados. A banda faz um trabalho tão incrível que mesmo sendo a segunda faixa mais longa do álbum, ela passa voando. Um excelente encerramento para um excelente LP.
"Weight" é um álbum incrível, simples assim. A evolução que Melvin Gibbs trouxe para o grupo possibilitou uma nova onda de experimentação não só para o grupo, mas para a cena inteira de metal alternativo na época. As letras de Rollins, os riffs de Haskett e a base que Cain proporciona em cada faixa do álbum foram inovadoras em todos os sentidos, seja para a carreira dos músicos ou para os ouvintes. Desde a época do Black Flag até a entrega deste projeto, é possível perceber a mudança na criatividade de Rollins, principalmente no jeito que ele usa suas vivências para expressar uma ideia.
Infelizmente, Rollins Band é uma das bandas a compor o limbo de grupos da década de 1990 que não conseguiram manter um legado tão forte com as gerações subsequentes. Por mais que a cena do metal alternativo dessa época não seja tão reconhecida como deveria, são álbuns como "Weight" que ocasionalmente irão aparecer no caminho de muitas pessoas e mudar a visão delas, abrindo um espaço para pensar em combinações que já haviam sido experimentadas e tiveram um bom resultado. Funk, jazz, metal, recitação, hardcore e tantos outros estilos misturados. Bandas como Rollins Band já faziam isso e faziam muito bem. Cabe a nós desenterrar clássicos como este de tempos em tempos na esperança de que possa tocar na cabeça de novos fãs de música.
Faixas
1. Disconnect
2. Fool
3. Icon
4. Civilized
5. Divine
6. Liar
7. Step Back
8. Wrong Man
9. Volume 4
10. Tired
11. Alien Blueprint
12. Shine
Vocais - Henry Rollins
Guitarra - Chris Haskett
Baixo - Melvin Gibbs
Bateria - Sim Cain
Produção - Theo Van Rock
Tempo: 53min 26seg
Selo: Imago Records
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