O velho Red Hot Chili Peppers é... Novo?
Resenha - Unlimited Love - Red Hot Chili Peppers
Por Eduardo Quagliato
Postado em 06 de abril de 2022
Nota: 7
E o que parecia impossível, aconteceu. No fim de 2019, o mundo do rock foi sacudido com a notícia de que depois de mais de 10 anos, o guitarrista John Frusciante estava de volta - pela terceira vez - aos Red Hot Chili Peppers. A notícia foi um bálsamo para os fãs antigos e mais ainda para aqueles que, dentre esses, já tinham o pé atrás com o substituto Josh Klinghoffer e se frustraram de vez com o péssimo The Getaway (último disco de inéditas do quarteto, lançado em 2016). Me incluo em ambas as categorias, e na época até publiquei uma resenha/desabafo sobre esse álbum que foi o responsável por me fazer perder o interesse numa das minhas bandas favoritas de sempre - confira: Red Hot Chili Peppers: O pior trabalho da banda?
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Pois bem. Foram 6 anos de lá pra cá (o maior hiato da carreira do grupo), 11 anos desde o último disco minimamente razoável (I'm With You, de 2011), e nada menos que 16 anos desde o último trabalho com Frusciante (Stadium Arcadium, de 2006 - o qual foi, pra mim e pra muitos fãs, o auge de uma formação que sempre só lançou álbuns excelentes). A propósito, costumo dizer que se o Stadium Arcadium fosse "enxugado", tirando os excessos pra transformá-lo de um disco duplo em um simples, teríamos aquele que seria o melhor trabalho da história da banda; totalmente formado por hits, ele bateria de frente com os dois álbuns que, historicamente, são os mais celebrados dos californianos: Blood Sugar Sex Magik (de 1991) e Californication (de 1999).
Tudo isso, pra dizer que a expectativa em cima de Unlimited Love era simplesmente ABSURDA. Fora o tempo de espera (aumentado ainda mais por causa da pandemia do Covid-19), além do sonhado retorno de John, também houve a volta de Rick Rubin, o estrelado produtor que foi responsável pelos maiores sucessos da banda. E ele até chegou a dizer, numa entrevista recente, que o novo álbum seria um novo Stadium Arcadium...
... Será mesmo? É o que vamos ver no breve faixa-a-faixa a seguir:
BLACK SUMMER: desde os primeiros segundos, o timbre típico da guitarra de John Frusciante já chama a atenção, e com certeza a escolha para começar o disco não foi por acaso - é pra mostrar que o homem está de volta mesmo! A música cumpre bem o papel de um single: é legalzinha, tem melodias bonitas e um bom refrão. Porém, não chega a ser "explosiva" como outras aberturas da banda.
HERE EVER AFTER: introdução atmosférica, baixo marcante, uma levada diferente nos tons da bateria... E sim, a guitarra está de volta e bem presente nesse novo/velho RHCP! A música dá a impressão que vai "deslanchar" a qualquer momento, mas esse momento não vem. De qualquer forma, é uma preparação de terreno para...
AQUATIC MOUTH DANCE: quase impossível não gostar dessa aqui logo de cara! O baixão de Flea domina toda a música, que entrega uma performance inspiradíssima, e... Os backing vocals de John Frusciante voltaram!! Trompetes, saxofone e um trombone completam essa divertida faixa, que é, talvez, o maior destaque do álbum.
NOT THE ONE: a baladinha do disco, com uma pegada meio "The Getaway": há de novo aquele mesmo piano lento, efeitos tímidos de guitarra e a bateria monótona, que só marca o tempo. Não empolga muito, seja por sua semelhança com o disco mencionado (que é fraquíssimo), seja porque realmente não se compara com as muitas boas baladas que a banda já produziu no passado.
POSTER CHILD: o segundo single e videoclipe do álbum trazem uma graaande "homenagem" ao RHCP antigo! Guitarra funkeada, vocal de rap na maior parte do tempo... Mas quero só ver o Anthony cantar ao vivo toda a letra, que é enorme e cheia de nomes e referências, sem errar! Bacaninha.
THE GREAT APES: chegar aqui já é bom só por se constatar que o RHCP voltou a ser uma BANDA; tem guitarra, baixo, bateria, backing vocals de verdade, tem pegada - muito diferente daquela chatice água-com-açúcar e sem alma que foi o The Getaway. Agora, quanto à sexta música do novo disco, ela é mais "séria", quase pesada em alguns momentos, e os solos de John Frusciante são o que mais chama a atenção.
IT'S ONLY NATURAL: que delícia ouvir de novo uma faixa com tantos elementos clássicos do RHCP: o baixo que "canta", um ritmo levemente quebrado e com as características "ghost notes" de Chad, a guitarra com os agradáveis efeitos de John (que também manda ver nos backing vocals), melodias bacanas de Anthony... Boa música!
SHE'S A LOVER: uma faixinha "leve", com uma pegada alegre, mais uma linha de baixo criativa, vários backing vocals de John e uma performance mais contida de Chad na bateria. Integra o time das que não se destacam muito no álbum.
THESE ARE THE WAYS: a terceira a ganhar um videoclipe é, na verdade, uma música um pouco estranha, que alterna partes calmas com pesadas (as quais chegam a beirar um heavy metal, principalmente no final). Chad Smith desce o braço!
WHATCHU THINKIN: mais uma faixa marcada pela melodia de baixo, que é acompanhada pelo vocal. No solo, há duas guitarras bem evidentes, o que levanta a questão: se tocarem essa ao vivo (e outras músicas do disco também), haverá um segundo guitarrista como na turnê do Stadium Arcadium?
BASTARDS OF LIGHT: o teclado e os efeitos sonoros têm uma pegada anos 80, que certamente saiu das ideias eletrônicas de John Frusciante (que já lançou muita coisa do estilo em sua carreira solo). O refrão é agradável e é nele que, pela primeira vez no álbum, ouvimos violões. Mais uma faixa legalzinha, que deve ficar entre as preferidas de vários fãs.
WHITE BRAIDS & PILLOW CHAIR: mais cadenciada, é uma semi balada um tanto quanto "inofensiva", mas que mais para o final, dá uma acelerada e ganha um quê de... Country?!
ONE WAY TRAFFIC: não fosse pelo refrão, que destoa do restante da música, essa aqui parece algo tirado do Blood Sugar Sex Magik (o que é ótimo); o vocal é "rapeado", a guitarra tem o mesmo timbre e a levada típica daquela época... E no final ainda tem solo de baixo com efeitos! Bacana.
VERONICA: essa semi balada é outra música meio estranha, devido às várias mudanças drásticas e os diferentes efeitos sonoros que se ouvem (tanto instrumentais quanto vocais). Por isso, assim como ocorre com algumas outras faixas do álbum, é um pouco difícil de "absorver" - ao menos nas primeiras audições.
LET 'EM CRY: o trompete de Flea e até um órgão dão as caras aqui, elementos que, somados à levada meio reggae/ska de guitarra, fazem dessa a música com pegada "caribenha" do álbum - algo que já ouvimos em outros discos, como por exemplo em On Mercury (do By The Way) e Did I Let You Know (do I'm With You).
THE HEAVY WING: as partes cantadas por Anthony são bonitas, com boas melodias. Já o refrão, mais pesado, é inteiramente cantado só por John Frusciante! O solo lembra um pouco Emit Remmus, do Californication... Com certeza, é uma das músicas com mais "impressões digitais" do guitarrista em Unlimited Love!
TANGELO: até que enfim, violões. Uma baladinha leve, ornamentada por diferentes sons de teclado. Chad Smith não participa aqui, neste que é outro encerramento acústico e com uma pitada melancólica de um disco do RHCP (alguém falou em Road Trippin'?).
E então... Temos um novo Stadium Arcadium?
Bom, parece que não.
Contrariando as expectativas de que fariam um disco cheio de referências ao seu passado glorioso (o que seria ótimo), de certa forma a banda surpreendeu ao trazer algo diferente. Claro que aqui e ali, há coisas que lembram músicas de outros álbuns, mas no geral, pode-se dizer que o "velho" RHCP é, na verdade, "novo", pois além de algumas influências do último disco que também estão presentes, é notório que a banda teve fôlego pra criar uma sonoridade inédita na maior parte do tempo. Se ela é melhor ou não, é discutível, mas só o fato de não terem se limitado à sua zona de conforto já é algo notável.
[an error occurred while processing this directive]Isso, somado a fatores como a longa duração do álbum (mais de 70 minutos) e as músicas "frankenstein" (aquelas cheias de pedaços muito díspares), faz de Unlimited Love um disco que não é de fácil digestão. Há bastante coisa a ser absorvida, de modo que é difícil formar uma opinião com apenas algumas poucas audições.
Contudo, dá pra dizer que, ao menos com base nessas primeiras impressões, não se trata de um trabalho "grandioso"; há bons momentos, sim, mas no geral, sobram músicas apenas medianas e faltam aquelas candidatas a hit, como tantas que as multidões cantam em estádios do mundo todo quando a banda se apresenta. É possível que, com o tempo, essa percepção mude (eu mesmo demorei muito até assimilar o Stadium Arcadium e passar a adorá-lo, por exemplo), mas o fato é que, na vida, sempre quando há expectativas em excesso, a chance de haver pelo menos um pouco de frustração é de praticamente 100%; e, como já explicado, era esse o caso de Unlimited Love, pois muitos fatores contribuíram pra que se esse esperasse algo no mínimo sensacional.
Senti falta, principalmente, de uma boa balada. O RHCP sempre foi muito competente nisso, mas a "dívida" criada em tal quesito no The Getaway acabou perdurando no novo álbum. Também gostaria de mais momentos acústicos, ao menos uma música mais longa, e pelo menos umas três faixas que fossem memoráveis. Não aconteceu.
Minha opinião (por ora!) é a de que Unlimited Love é muito melhor que o último disco, mas convenhamos: isso não era difícil. Já se comparado com as outras obras que essa mesma formação concebeu, creio que o novo trabalho disputa o título de "menos bom" com Mother's Milk - obs: antes de chorar, leia o começo do parágrafo de novo (essa é a MINHA opinião)!
O fato é que, depois de 40 anos de carreira, mais de uma dezena de álbuns lançados e quase 60 anos de idade nas costas, é realmente muito difícil, para qualquer músico, reinventar a roda e/ou continuar lançando coisas novas que sejam incríveis. Mas a essa altura do campeonato, o que importa de verdade é que: 1) os caras estão de volta; 2) é muito bom ouvi-los juntos de novo; e 3) vê-los dividindo o palco mais uma vez será fantástico.
[an error occurred while processing this directive]Assim, no fim das contas, temos que, se o disco do tão aguardado retorno não chega a ser impressionante, pelo menos há, nele, elementos clássicos e também ideias novas que são interessantes - o que mostra que o RHCP ainda tem, sim, lenha pra queimar!
1. "Black Summer" 3:52
2. "Here Ever After" 3:50
3."Aquatic Mouth Dance" 4:20
4. "Not the One" 4:26
5. "Poster Child" 5:16
6. "The Great Apes" 5:03
7. "It's Only Natural" 5:34
8. "She's a Lover" 3:41
9. "These Are the Ways" 3:56
10. "Whatchu Thinkin'" 3:40
11. "Bastards of Light" 3:38
12. "White Braids & Pillow Chair" 3:40
13. "One Way Traffic" 4:10
14. "Veronica" 4:28
15. "Let 'Em Cry" 4:23
16. "The Heavy Wing" 5:31
17. "Tangelo" 3:27
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