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Red Hot Chili Peppers: John Frusciante faz retorno cansativo, porém triunfal

Resenha - Unlimited Love - Red Hot Chili Peppers

Por Victor de Andrade Lopes
Postado em 08 de abril de 2022

Nota: 8 starstarstarstarstarstarstarstar

Uma das últimas boas notícias que nos agraciaram antes da pandemia de COVID-19 se abater sobre o mundo foi a volta do guitarrista John Frusciante ao quarteto estadunidense Red Hot Chili Peppers - de onde ele não deveria sair, mas vive saindo. Não que o seu mais recente substituto, Josh Klinghoffer, não estivesse à altura da missão. Mas quem estabeleceu o som do RHCP desde o final dos anos 1980 é a formação clássica de John, Anthony Kiedis (vocais), Flea (baixo) e Chad Smith (bateria). O resto foi, se muito, experimentalismo.

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E o que os rapazes têm para nos oferecer nesta terceira temporada da formação? Bem, nada menos que 17 músicas. Num disco - de nome Unlimited Love, ou "Amor Ilimitado" em tradução livre - que sequer é duplo. E ainda tome uma 18ª faixa para os japoneses!

A abertura e primeiro single, "Black Summer", deu até um calorzinho no coração logo nas primeiras notas, pois sabíamos que quem manejava aquela guitarra era, inconfundivelmente, John Frusciante. É uma canção que resume a essência do Red Hot do século XXI. Houve quem dissesse, jocosamente, que ela soava como uma "sobra" do Californication (1999). Não estão errados, mas... e se eu expusesse aqui o incômodo fato de que até uma sobra do RHCP ainda é melhor do que metade do que vem sendo lançado por aí?

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Bom, voltando a falar da obra como um todo: daqui para frente, temos uma jornada com poucas surpresas. Um sentimento fortíssimo de nostalgia, pois parece ser algo que eles lançariam entre o By the Way (2002) e o Stadium Arcadium (2006). Mas uma jornada que uma hora cansa. Falarei disso daqui a pouco nesta resenha.

Antes, quero abordar as poucas, porém relevantes surpresas. A primeira é "Not the One", canção suave marcada pelo piano, instrumento que o baixista Flea vem tocando com certa frequência e que tem trazido um bem-vindo novo elemento ao som do quarteto. Não está no nível de uma, digamos, "Even You Brutus?", mas homenageia bem a era Josh. "Bastards of Light" faz a mesma coisa, desta vez incorporando teclados de um jeito que deixaria Danger Mouse (produtor do lançamento anterior, The Getaway) com um sorriso no rosto.

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Sua sucessora, "Poster Child", poderia ter saído do One Hot Minute (1995), único trabalho de estúdio do grupo com o guitarrista Dave Navarro. Talvez porque ela tenha me lembrado muito "Walkabout". "White Braids & Pillow Chair", por sua vez, transcende dimensões guitarrísticas criando um nível de sofisticação que a tornaria uma possível peça do Stadium Arcadium.

A tríade final (incluindo a faixa bônus) é toda fora da casinha: "The Heavy Wing" nem tanto do ponto de vista instrumental, mas sim porque tem uns bem-vindos vocais de John. "Tangelo" por ser uma levíssima balada em compasso ternário. E a bônus "Nerve Flip". pesada, suja, crua, enfim, grunge no seu ápice. Um tributo à primeira passagem de John.

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Ao lançar "Black Summer", a banda descreveu Unlimited Love como "o passeio que é a soma de todas as nossas vidas". Não posso confirmar isto por não conhecer tanto a vida deles, mas posso garantir que, se fosse "o passeio que é a soma de toda a nossa discografia", aí eu concordaria sem pestanejar, mesmo achando que dava para ter feito isso com menos canções.

E talvez esteja aí o único defeito relevante do trabalho. Será que precisava mesmo de 18 faixas? Se sim, por que não dividi-las em dois discos de um álbum duplo, com um critério minimamente claro para a separação? Ou quem sabe fazer como no I'm With You (2011) e lançar sobras às dezenas? Diferente do que o título sugere, nem tudo precisa ser ilimitado.

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Na verdade, mesmo com esta fartura toda, ainda não deu pra escoar tudo: os caras foram para o estúdio Shangri-La do produtor Rick Rubin com cerca de 100 músicas escritas e saíram de lá com metade delas gravadas. O resto pode virar um festival de lados b ou quem sabe até um disco novo. Mas eu aposto que dava para ter feito uma curadoria mais conservadora para este lançamento aqui.

Que a gente ansiava muito por esta reunião, nem se discute, mas quase 20 composições de uma vez? Rick poderia ter se imposto mais e aparado os excessos. Às vezes, a missão de tirar o melhor dos músicos significa também não tirar tudo até a última gota. Eu senti até certa dificuldade fazendo a resenha, pois quando chegava nos últimos minutos eu já não estava mais tão focado quanto nos primeiros. Uma ópera rock de 70 minutos é uma coisa, um compêndio de quase 20 faixas que parecem quase todas extraídas de uma mesma jam é outra.

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Apesar disso, Unlimited Love já é um dos discos do ano e declara da forma mais cristalina possível que o Red Hot está de volta. Se tinha uma coisa "vintage" que precisávamos que fosse ressuscitada, era a formação clássica da lenda californiana.

Abaixo, o vídeo de "Black Summer".

FONTE: Sinfonia de Ideias
https://sinfoniadeideias.wordpress.com/2022/04/07/resenha-unlimited-love-red-hot-chili-peppers/

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Sobre Victor de Andrade Lopes

Victor de Andrade Lopes é jornalista (Mtb 77507/SP) formado pela PUC-SP com extensões em Introdução à História da Música e Arte Como Interpretação do Brasil, ambas pela FESPSP, e estudante de Sistemas para Internet na FATEC de Carapicuíba, onde mora. É também membro do Grupo de Usuários Wikimedia no Brasil e responsável pelo blog Sinfonia de Ideias. Apaixonado por livros, ciências, cultura pop, games, viagens, ufologia, e, é claro, música: rock, metal, pop, dance, folk, erudito e todos os derivados e misturas. Toca piano e teclado nas horas livres.
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