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Leprous: disco intuitivo desnuda a banda como nunca

Resenha - Aphelion - Leprous

Por Victor de Andrade Lopes
Postado em 05 de setembro de 2021

Nota: 7 starstarstarstarstarstarstar

Em menos de dois anos, o Leprous já colocou nas plataformas um novo disco, sendo que muitos ainda nem tinham acabado de digerir Pitfalls, de 2019. Eu mesmo devo ser um deles, e olha que tive de mastigá-lo e engoli-lo várias vezes para poder fazer minha resenha, disponível aqui no Whiplash.

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Com Aphelion, o quinteto norueguês de gênero que não mais me atrevo a definir emerge da melancolia da pandemia fazendo o que faz melhor: música incômoda para processar pensamentos negativos - aqueles que não nos faltaram no último 1,5 ano.

Mas o próprio título já dá a letra, se me permitem o trocadilho, de que há uma luz no fim do túnel. Ou talvez bem distante no céu. Traduzido para o português, ele fica como "afélio", o ponto no qual um determinado objeto está mais distante do Sol. A ideia era mostrar que mesmo neste ponto, em que a luz está mais longínqua, ainda é possível encontrar algo de positivo. Profundo, não?

E, bem, o grupo com certeza tirou algo de positivo. O sétimo lançamento de estúdio deles pode ser até mais difícil de digerir que o seu antecessor, mas não merece menos que elogios.

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Abrindo com "Running Low", ele já mostra desde o início que a banda não abandonou sua "fórmula", que prevê atmosferas densas e dinâmicas sofisticadas. É curioso notar que quanto mais os rapazes noruegueses se afastam do progressivo, menos óbvia, palatável e rasa sua música fica.

Tanto aqui quanto em outros momentos, o lado melancólico do grupo é realçado pelas cirúrgicas participações de Raphael Weinroth-Browne e Chris Baum no violoncelo e no violino, respectivamente. A presença deles soa tão natural que eu não me surpreenderia se fossem promovidos a integrantes oficiais um dia.

No decorrer da obra, a maior parte das faixas parecem replicar a mesma fórmula: começa-se com serenidade e melancolia, cresce-se com densidade e energia e atinge-se um refrão explosivo e gritado. E é aí que reside o único problema do álbum: pela primeira vez com o Leprous, tenho a impressão de ouvir várias versões de uma mesma música, algo que só começa a ser dissipado após várias audições, que nos permitem conhecer melhor as especificidades de cada canção.

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São essas várias audições que me permitiram ver que "Silhouette", "Have You Ever?" e "The Shadow Side" formam um subgrupo no qual uma roupagem eletrônica se mistura às cordas como condimentos essenciais para torná-las tudo, menos ordinárias.

A que mais surpreende provavelmente é a dinâmica "All the Moments", que abre com guitarras que parecem vindas dos crus sons desérticos estadunidenses e evolui para mais exercícios com a fórmula leprousiana, evocando melodias de Coldplay e U2.

Outra que destoa, e não por acaso, é "Castaway Angels", bastante orgânica e com mais ênfase em violões. Criada numa época em que a banda ainda nem sabia que acabaria preparando um disco cheio, teria ficado bem como uma faixa bônus.

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"Nighttime Desguise" é outro ponto alto. Foi concebida com a ajuda dos fãs, que escolheram por meio de enquetes coisas como o andamento, o compasso, o tom, a instrumentação e outros elementos. O quinteto, então, compôs e arranjou a peça ao longo de uma semana em um processo transmitido ao vivo para um público pagante. O resultado, de forma até um tanto irônica, é a música mais progressiva e crua das dez apresentadas. Recado dos fãs?

Além de Einar Solberg, que vem conquistando mais espaço como compositor e letrista e cuja voz é indispensável para dar o tom dos versos deles, o outro destaque continua sendo o baterista Baard Kolstad, que sempre detona seu instrumento sem dó nem piedade mesmo que o arranjo seja francamente pop.

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Descrito como um álbum mais "livre", em que as músicas foram criadas de forma mais instintiva e menos planejada, Aphelion desnuda o Leprous como nenhum outro trabalho deles, evidenciando o que eles têm de melhor, mas denunciando também que uma dosagem menor de espontaneidade pode fazer muito bem para um nome que sempre se beneficiou de sua capacidade invejável de criar boa música, mesmo que "prendendo-a" a ideias preconcebidas.

Abaixo, o clipe de "The Silent Revelation":

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FONTE: Sinfonia de Ideias
https://sinfoniadeideias.wordpress.com/2021/08/30/resenha-aphelion-leprous/

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Sobre Victor de Andrade Lopes

Victor de Andrade Lopes é jornalista (Mtb 77507/SP) formado pela PUC-SP com extensões em Introdução à História da Música e Arte Como Interpretação do Brasil, ambas pela FESPSP, e estudante de Sistemas para Internet na FATEC de Carapicuíba, onde mora. É também membro do Grupo de Usuários Wikimedia no Brasil e responsável pelo blog Sinfonia de Ideias. Apaixonado por livros, ciências, cultura pop, games, viagens, ufologia, e, é claro, música: rock, metal, pop, dance, folk, erudito e todos os derivados e misturas. Toca piano e teclado nas horas livres.
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