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Björk: Música Como Aplicativo

Resenha - Biophilia - Björk

Por Roberto Rillo Bíscaro
Postado em 25 de maio de 2018

Nota: 10 starstarstarstarstarstarstarstarstarstar

Em 2010, Björk anunciou que usaria um iPad para compor seu próximo álbum. O ambicioso projeto envolvia cientistas e a criação/adaptação de instrumentos musicais. As canções funcionariam como aplicativos pra iPhones e IPad.

Em outubro de 2011, saiu o resultado. A despeito do perigo de frieza ou esterilidade, a islandesa não caiu na armadilha de desumanizar sua obra. Até no título – Biophilia – o álbum celebra o amor, a vida e respira energia boa, poesia e humanidade.

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Congregando ciência, tecnologia, o individual e o universal, Björk dá aula-magna de cosmogonia, que, não por acaso, é título de uma das faixas mais belas, com clima eclesiástico, mas que se encerra com a melodia evaporando-se no éter, depois de haver nascido de um coral sem melodia. Caos silencioso – harmonia – caos silencioso, nos lembrando do surgimento e da transitoriedade das coisas. Biophilia requer repetidas audições atentas e cientes de que o emocional não implica ausência de racionalidade e planejamento.

Moon abre o álbum, e seu minimalismo de harpa criada especialmente para o projeto remete a Vespertine (2001). Coral e clima esparso replicam a sensação de falta de gravidade, na qual flutua o ondulado vocal de Björk, por si só capaz de sustentar faixas inteiras, como Hollow, onde não há propriamente melodia, mas climas e sonoridades. Em Virus, é sua voz élfica que constrói a linha melódica, digamos, assobiável, dum fundo delicado, tão falsamente simples como uma capa de proteína, essência de um vírus.

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Crystalline nos pede para ouvir cristais crescendo, enquanto a melodia progressivamente coloca "pedras" protuberando no caminho, sob forma de pequenas erupções de electronica. De repente, elas se tornam muito barulhentas, como se cristais de rocha pipocassem do chão com violência, numa esporro drum’n’bass, que relê a sonoridade de Homogenic (1997). Ciclos, como a ordem das canções, que, na versão sem bônus do álbum, começa com a lua e termina em solstício.

Com letras citando figuras geométricas, histórias da criação do universo, comparando o amor a vírus ou a placas tectônicas, Biophilia une ciência, tecnologia, espiritualidade, sexualidade e emoção sem nunca perder a simplicidade ou soarem pretensiosas.

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Apenas artistas perturbadores e inovadores como Björk são capazes de prover beats, chips e octágonos com coração e generosidade.

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Sobre Roberto Rillo Bíscaro

Roberto Rillo Bíscaro é professor universitário e edita o Blog do Albino Incoerente desde 2009.
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