Ride: a nova e eficiente viagem dos neopsicodélicos ingleses
Resenha - Weather Diaries - Ride
Por Roberto Rillo Bíscaro
Postado em 24 de outubro de 2017
Nota: 8 ![]()
![]()
![]()
![]()
![]()
![]()
![]()
![]()
A psicodelia sessentista nunca morreu. Vai bem até hoje, enlouquecendo o underground e vindo à superfície disfarçada, de quando em vez, em álbuns pop, como no mais recente do Foster The People. No Brasil, segue circulando também, vide o paulista Bike, que lançou segundo álbum este ano e já fez até turnê pela Europa.
Na segunda metade dos anos 80, a Grã-Bretanha viveu surto psicodélico, então acrescentado do prefixo neo. Claro que bandas fundamentais do universo indie, como o Echo & The Bunnymen, utilizaram muito da cartilha psicodélica em seus álbuns iniciais, no começo da década. A reabilitação da guitarra em um mundo sinthpopizado, feita por Smiths e Jesus And Mary Chain, além de Echo, Cure e outros levou a um estouro de guitar rock na segunda metade da década. Misturando anos 60 com as jangling guitars de Johnny Marr, as distorções reverberadas do seminal Psychocandy (1985) e até o white noise domesticado em forma de arte pelo Cocteau Twins, uma porrada de grupos desabrochou a partir da chamada Class Of 86. Na verdade, a profusão de rótulos aumentava proporcionalmente ao número de bandas que o fértil celeiro britânico armazenava. The Telescopes, House Of Love, Soup Dragons, era um nome atrás do outro.
De vez em quando, aparecia messias que salvaria o "puro" e tadinho rock, contaminado, vilipendiado, humilhado devido ao império da música dançável sintetizada durante toda a década de 80, que fecharia com o estouro lisérgico da acid house, que fez com que os Soup Dragons regravassem sucesso dos Rolling Stones em clima bem dance rock, que subiu ao topo das paradas oficiais em 1990.
Um desses salvadores da pátria roqueira britânica foi o Ride, formado em 1988, na universitária Oxford, por Mark Gardener (vocais e guitarra), Andy Bell (vocais e guitarra), Steve Queralt (baixo) e Laurence Colbert (drums). Esse Andy Bell não é o do Erausre, mas seria o do Oasis. Quando os Stone Roses morreram na praia, o clima meio onírico chapado e certa postura de "tô nem aí" no palco, garantiram que a imprensa musical inglesa entronasse o quarteto como reis do shoegaze, título que sempre refutaram.
Em 1990, Ride era a salvação. Essa posição não se manteria por muito tempo; caíram em desgraça mais celeremente do que viraram queridinhos. O sucesso nunca passou muito dos confins indie, as desavenças internas não demoraram, o desgaste das turnês e o atropelamento pelos trens grunge e britpop obsoletaram seu som quase de hora para outra. Em 96, saiu o fiasco Tarantula e depois cada um seguiu seu caminho.
O silêncio de estúdio perdurou até dia 16 de junho, quando saiu Weather Diaries, onze faixas demonstrantes que os já (quase) 50tões ainda dão boa descarga de oníricas harmonias vocais e instrumentais temperadas em viajante psicodelia contida para ser palatável a apreciadores do formato canção indie rock. Tire a prova, conferindo a linda Cali.
Lannoy Point abre criando clima, introduzindo instrumento atrás do outro, para criar atmosfera bem apropriada para entrada em palco, até que bateria bem 1986 entra com guitarra e baixo e as coisas ficam típicas da cena inglesa dos late 80’s/early 90’s. Não demora para um solo de guitarra todo jangling encantar. Charm Assault vem em seguida; ponto alto do LP. Irresistível para bater cabeça e cabelão e prova – para quem esquecera ou não sabia – de que o Ride deve muito a My Bloody Valentine.
A vibe mais para cima – dentro do possível para o brumoso Ride – das duas primeiras canções engana quem esperava disco no estilo. As nove restantes são bem mais lentas, nada dançantes, apresentando vários andamentos e versões de algo como psych-ballads, tipo Home Is A Feeling, Impermanence ou White Sands. All I Want está nessa categoria, mas abre com o maior tropeço do álbum: para que aquele truquezinho pop de boy band de botar vocal em eco no começo? Não combina com o esfumaçado hipnótico do resto. Muito melhor é a faixa-título, que em seus quase sete minutos mantém a característica de psicobalada, mas ao final, uma avalanche de estática literalmente destrói a melodia, deixando apenas fragmentos de cordas. Grande faixa.
Rocket Silver Symphony tem dois minutos de ambiência space rock até se transformar em psicodelia com incrustações de estrutura repetida de krautrock/Kraftwerk, que, como sabemos, influenciaram muito a EDM, que informa a canção. Nesse caso os vocais com eco funcionam, porque dentro de padrão apropriado. Lateral Alice é psicodelia anos 60 trombada com um mundo pós-Jesus And Mary Chain. Guitarras graves e bateria avalanchada dão-lhe notável energia. Integration Tape utiliza fragmentos sônicos e white noise de ninar, para estabelecer seu clima de viagem interssensorial.
O tempo nesses diários é nublado com cerração chuvosa, um dos traços distintivos de muitas bandas etiquetadas shoegaze. Esse fog sônico permeia e anestesia as onze faixas de um álbum que colocou o Ride no décimo-primeiro lugar da parada inglesa.
Tracklist
1 Lannoy Point
2 Charm Assault
3 All I Want
4 Home Is A Feeling
5 Weather Diaries
6 Rocket Silver Symphony
7 Lateral Alice
8 Cali
9 Integration Tape
10 Impermanence
11 White Sands
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps



O guitarrista preferido de Mark Knopfler, do Dire Straits, e que David Gilmour também idolatra
Bangers Open Air divulga line-up da próxima edição, com In Flames, Fear Factory e Jinjer
Os 11 melhores álbuns de progressivo psicodélico da história, segundo a Loudwire
Nova música do Megadeth desbanca - temporariamente - Taylor Swift no iTunes dos EUA
Nick Holmes diz que há muito lixo no nu metal, mas elogia duas bandas do estilo
O subestimado guitarrista base considerado "um dos maiores de todos" por Dave Mustaine
A banda de forró que se fosse gringa seria considerada de rock, segundo produtora
Brent Hinds - O ícone do heavy metal que não gostava do estilo - nem de conceder entrevistas
Nicko McBrain compartilha lembranças do último show com o Iron Maiden, em São Paulo
Regis Tadeu detona AC/DC e afirma que eles viraram "banda cover de luxo"
As melhores de Ronnie James Dio escolhidas por cinco nomes do rock e metal
Danilo Gentili detona Chaves Metaleiro e o acusa de não devolver o dinheiro
As 3 teorias sobre post enigmático do Angra, segundo especialista em Angraverso
O principal cantor do heavy metal, segundo o guitarrista Kiko Loureiro
A canção proto-punk dos Beatles em que Paul McCartney quis soar como Jimi Hendrix
Max Cavalera elege as cinco músicas que definem a sua carreira
Motley Crue: A primeira impressão de Tommy Lee sobre o Rio de Janeiro
De AC/DC a ZZ Top: Origens dos nomes de bandas e artistas de rock
Trio punk feminino Agravo estreia muito bem em seu EP "Persona Non Grata"
Svnth - Uma viagem diametral por extremos musicais e seus intermédios
Em "Chosen", Glenn Hughes anota outro bom disco no currículo e dá aula de hard rock
Ànv (Eluveitie) - Entre a tradição celta e o metal moderno
Scorpions - A humanidade em contagem regressiva
Soulfly: a chama ainda queima
O disco que "furou a bolha" do heavy metal e vendeu dezenas de milhões de cópias



