Exodus: 25 anos da sua tentativa de um "Black Album"
Resenha - Force Of Habit - Exodus
Por Tiago Dantas da Rocha
Postado em 07 de setembro de 2017
Nota: 5
No dia 17 de agosto o álbum "Force of Habit" do EXODUS completou 25 anos de seu lançamento. Até hoje o álbum ainda figura como um dos registros mais fracos feito pela banda e suas músicas não fazem mais parte do repertório no setlist, inclusive num show recente feito pela banda para comemorar o seu legado eles não tocaram nada do Force of Habit, o que por si só já dá um indicativo da opinião dos membros da banda sobre o mesmo. Para entender a referência ao "Black Album" do METALLICA é necessário entender o contexto e a época no qual as bandas de thrash metal estavam inseridas.
O Metallica sempre foi a referência maior no quesito popularidade do thrash metal e muitas bandas seguiram nos rumos por ele ditados. Durante os anos 80 a banda seguiu em plena evolução, bem como as outras 3 bandas que formam o "Big Four Of Thrash" (METALLICA, MEGADETH, SLAYER E ANTHRAX). Mesmo, injustamente, nunca sido colocada ao lado dessas bandas o EXODUS estava lá desde o início, sempre lançando fantásticos álbuns desde Bonded By Blood até Impact Is Imminent, nunca se adequando as exigências do mercado e com um poder de fogo cada vez maior até a chegada dos anos 90.
O ano era 1992, as mudanças para as bandas de metal, especialmente de thrash, aconteceram. Pouco antes da explosão do grunge o METALLICA havia lançado o "Black Album", aquele que é até hoje seu álbum mais bem sucedido comercialmente. O resultado foi que várias bandas de thrash tentaram pegar carona e lançar um álbum que conseguisse o mesmo sucesso ou até mais. O MEGADETH tirou o pé do acelerador depois do Rust In Peace e tentou suavizar o som com Countdown To Extinction, o ANTHRAX trouxe um novo vocalista e também mudou seu som em Sound of the White Noise. Apenas o SLAYER seguiu firme e forte com seu Seasons in the Abyss. Mesmo as bandas do segundo escalão como DEATH ANGEL e seu Act III, TESTAMENT e The Ritual mudaram de forma substancial seu som tentando encontrar algo que fosse mais acessível para o grande público e não se tornassem obsoletas perante as novas bandas do momento como NIRVANA, PEARL JAM, SOUNDGARDEN E ALICE IN CHAINS, ícones maiores do grunge.
Foi necessário adicionar esse contexto histórico para explicar como surgiu Force of Habit e porque o som difere tanto dos álbuns lançados anteriormente. Para início de conversa foi o segundo álbum da banda lançado por uma grande gravadora, a Capitol Records. Os empresários não ficaram satisfeitos com o desempenho do álbum anterior, Impact Is Imminent (1990), uma verdadeira pedrada na orelha, um álbum rápido e totalmente guiado por rápidas guitarras, um dos seus melhores registros. Por causa disso eles exigiram da banda algo que fosse mais acessível e que pudesse vender muito. A banda teve que registrar exaustivamente as demos das músicas e passaram bem mais tempo em estúdio do que nos registros anteriores. O gasto estimado de produção e estúdio foi de aproximadamente 250 mil dólares, algo muito alto para 25 anos atrás e para uma banda que não estava no mesmo patamar de popularidade das mais famosas.
Mas o que esperar do álbum em si? A estranheza começa logo pela arte da capa que não traz o típico logotipo da banda, apenas o nome numa fonte comum e a repetição do título "Force of Habit" várias e várias vezes. Também não mostra os integrantes da banda na capa como já tinha se tornado uma prática comum nos 3 álbuns anteriores. Talvez uma tentativa de se desvincular dos trabalhos anteriores em busca do novo público ou exigência da gravadora?
Além da mudança na arte gráfica houve apenas uma pequena mudança na formação da banda, nada muito dramático já que o núcleo criativo permaneceu. Saiu o baixista Rob McKillop, que participou dos álbuns clássicos e entrou Mike Butler. Continuava o baterista John Tempesta que já participava desde o álbum anterior. Ao iniciar a audição duas coisas chamam atenção, a quantidade de músicas (13 na versão normal, 15 com as 2 bônus para o Japão) e o tempo total de duração, quase 1 hora e 10 minutos. Excesso de criatividade da banda ou uma tentativa de atirar para todos os lados? É difícil arriscar em tanto tempo sem correr o risco de tornar o som maçante. O álbum inicia com "Thorn in my side", primeiro single da banda e que já dá um bom indicativo do que esperar ao longo de todo o álbum. Pode esquecer aquele thrash vigoroso que iniciava os álbuns da banda. Algo do nível de Bonded by Blood ou The Last Act of Defiance? Esqueça! "Thorn in my side" é um heavy metal de tempo moderado com leves doses de thrash que só se salva por causa da ótima produção do álbum e dos excelentes solos já característicos do "Time H" de Gary Holt e Rick Hunolt:
Um pouco mais rápida é a próxima música "Me, Myself & I". O álbum é bem mais melódico do que em outros momentos chegando até a flertar com o hard rock tanto nessa faixa como na decepcionante faixa-título Force of Habit que não tem realmente muito a se comentar, além de um início que não empolga e parece não levar a música a lugar algum. Mas se tem algo positivo a se comentar sobre Force of Habit é a produção. Foi o disco de estúdio já lançado com a melhor produção até aquele momento. O som é limpo, tem peso e até o baixo é possível de ser ouvido nitidamente. A grande decepção vem com as covers. A primeira escolhida foi "Bitch" dos ROLLING STONES. Se foi uma escolha consciente da banda ou uma sugestão/imposição de engravatados fica a dúvida, mas não tem como se defender uma escolha dessas. A banda até conseguiu adicionar algum peso, mas é só isso mesmo. Faixa terrível que não adiciona em nada. E esse é o maior problema encontrado em Force of Habit, são 13 faixas, mas quase nenhuma empolga:
Essa falta de empolgação também se repete nas outras faixas como Fuel for the Fire e One Foot in the Grave, por exemplo. A coisa melhora substancialmente em Count Your Blessings que começa no melhor estilo EXODUS clássico, apesar de escorregar no refrão. Ainda bem que ela recupera e mantém o ritmo e no final chega ao mais puro thrash metal, um verdadeiro alívio para o ouvinte, além de uma maravilhosa, mas curta, sequência acústica no final. Climb Before the Fall promete com seu início pesadão e cheio de groove, apesar de ser apenas uma canção regular.
A mudança mesmo vem na nona faixa Architect of Pain. Ela merece um parágrafo específico por ser a melhor coisa de Force of Habit, uma verdadeira pérola esquecida. É a música mais lenta já lançada pela banda, a mais progressiva e a maior já gravada por eles até hoje. Seus 11 minutos podem até assustar, mas é tão bem escrita, tão diversificada que você não acredita que passou tão rápido, alternando entre o pesado, partes acústicas, depois acelera e surgem magníficos solos de guitarra auxiliados pela ótima produção do álbum. Todos os integrantes da banda merecem destaque, mas principalmente Gary Holt, a mente criativa do EXODUS, e Steve Souza numa das suas melhores interpretações vocais da carreira. Essa música é um dos raros momentos que justifica a presença de Force of Habit na discografia do EXODUS, além de mostrar que é possível evoluir e criar algo diferente com muita qualidade. Vale muito a audição.
When it Rains it Pours é bacaninha pelo seu ritmo acelerado e passa até rápido. Tem alguma inspiração bem de leve no som clássico do EXODUS. Good Day to Die é meio que a tentativa de uma possível "balada" do álbum. A única coisa de interessante nela é mostrar outras influências da banda, mas é só isso mesmo. Seu início acústico, com uso de slide guitar e fortes influências de Southern Rock e Country não empolga, bem como o resto da música. Também ganhou vídeo, mesmo sendo uma das mais fracas.
Pump it up é a segunda cover do álbum, dessa vez Elvis Costello. Pode não ser tão terrível quanto Bitch, mas ainda é uma péssima escolha. E olha que o EXODUS não se importa em fazer covers inusitadas, a prova foi em Fabulous Disaster quando fizeram cover de uma banda de funk dos EUA chamada WAR aonde deram um bom tratamento na música adicionando peso e criando identidade própria. O problema das covers de Force of Habit é que elas são mais sem expressão do que a maioria das músicas do álbum. Esse é o nível das covers do EXODUS nesse álbum.
Para quem não desistiu do disco fica reservada a segunda maior surpresa desse álbum e ela se chama Feeding Time at the Zoo, que apesar do título bobo é uma das melhores. Talvez seja algum resto de gravações de álbuns anteriores ou tenha sido escrita propositadamente dessa forma. A questão é que ela mostra que apesar dos pesares o DNA do EXODUS ainda estava vivo, mesmo que quase adormecido. É um thrash metal vigoroso, rápido e com as melhores qualidades da banda. Infelizmente a banda não poderia seguir esse caminho nessa empreitada, mas serviu para mostrar aos fãs a sua força.
[an error occurred while processing this directive]Ainda existem mais duas faixas bônus que inicialmente foram exclusivas para os japoneses, sendo elas Crawl Before You Walk e Telepathetic. Normalmente o Japão acaba sendo privilegiado com faixas bônus, mas pode ter certeza que nesse caso eles se deram mal. As duas faixas, provavelmente sobras das sessões de gravação, são chatas, arrastadas e só servem para deixar o álbum com quase 1 hora e 20 minutos de duração!
Hoje Force of Habit é considerado como um experimento fracassado pela banda. Gary Holt até tenta justificar que existem boas canções e riffs ali, o que não deixa de ser verdade. Já Steve Souza não se importa em dizer que além de não gostar do álbum ainda odeia canções como When it Rains it Pours e Climb Before the Fall. Ele vai mais além em falar que essas músicas não são o verdadeiro EXODUS e sente mais apreço até pelos 3 álbuns gravados por Rob Dukes durante sua ausência.
Eu acredito que Force of Habit tenha tido boas intenções. Enquanto que ele perde tranquilamente para os outros álbuns da banda existem boas ideias ali, talvez com menos influências e pressões externas e uma banda focada em fazer algo mais enxuto poderia ter saído algo melhor. Os resultados não foram os esperados, o EXODUS não chegou nem de perto ao nível de popularidade e vendas do METALLICA e algum tempo depois a banda se separou. Alguns anos depois quando voltaram foi apenas para celebrar o Bonded By Blood com Paul Baloff e quando em 2004, já com Steve Souza de volta, resolveram lançar um álbum de estúdio (Tempo of the Damned) a banda seguiu um caminho ainda mais pesado que antes e nunca mais tentou algo como Force of Habit novamente.
[an error occurred while processing this directive]Track-list:
1. Thorn in My Side (04:06)
2. Me, Myself & I (05:04)
3. Force of Habit (04:18)
4. Bitch (The Rolling Stones Cover) (02:48)
5. Fuel for the Fire (06:04)
6. One Foot in the Grave (05:15)
7. Count Your Blessings (07:31)
8. Climb Before the Fall (05:38)
9. Architect of Pain (11:01)
10. When It Rains It Pours (04:20)
11. Good Day to Die (04:47)
12. Pump It Up (Elvis Costello Cover) (03:09)
13. Feeding Time at the Zoo (04:38)
14. Crawl Before You Walk* (03:58)
15. Telepathic* (04:49)
*Faixas bônus para o Japão e na versão remasterizada.
FONTES:
http://rockrevoltmagazine.com/interview-exodus/
http://www.metal-rules.com/interviews/Exodus-Sept2004.htm
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