Metamorfosi: o inferno na Itália
Resenha - Inferno - Metamorfosi
Por Rafael Lemos
Postado em 13 de maio de 2016
Nota: 9
Inferno na Itália
Resenha: álbum "Inferno", do Metamorfosi.
Há quanto tempo você não descobre uma banda que te deixa de boca aberta ? Certamente, esta aqui lhe causará essa reação. Este é um trabalho cheio de momentos inesperados, forte no órgão, com instrumental rico, bem elaborado e executado e com complexas composições. Sim, estamos falando do segundo trabalho de estúdio do Metamorfosi, um dos melhores discos que você poderá ouvir em se tratando de Progressivo italiano e mundial.
Antes de mais nada, quero comentar sobre a edição em CD. Se trata de uma edição luxuosa em digipack italiana, com obi e capa gatefold (daquelas que abre, juntando a capa e a contracapa, formando um desenho completo) em papel fosco que saiu pela gravadora italiana BTF Records (se encontra em catálogo). A capa abre como se fosse um livro e, no interior, encontra-se as letras e fotos individuais dos integrantes. Temos também um encarte separado com a história da banda escrita em itaiano e em inglês e fotos do vinil original da época, além de um estojo de papel em slipcase para guardar o CD. As informações técnicas se encontram na contracapa. O álbum original foi lançado em 1972 pela Vedette Records (a maioria dos sites dizem que ele saiu em 1973, o que não é verdade, o que pode ser confirmado no encarte do cd e no site da gravadora).
"Inferno" conta a história narrada na primeira parte do livro "A divina comédia", escrito por Dante Alighieri no início do século XIV onde, como sabemos, há uma descrição do personagem principal em sua jornada até o inferno (vamos lembrar que "Metamorfoses" é uma obra de Ovídio, o que demonstra o apreço dos integrantes da banda por Literatura). Assim, alguns questionamentos são sugeridos nas letras: é possível conhecer o céu e o inferno, Deus e o demônio, a luz e a escuridão, a purificação e a perdição da alma? Outras inspirações literárias são os escritores decadentistas, sobretudo Edgar Allan Poe e Baudelaire e, musicalmente, Emerson Lake and Palmer.
A música e letras se fundem e se completam brilhantemente. Os shows da época são descritos como igualmente emocionantes, se assemelhando a uma apresentação teatral com cenários, figurino e cada um dos integrantes sendo um personagem alegórico.
A banda teve o seu primórdio nos anos 60 com o nome de I Frammenti, fazendo um estilo diferente do que seria no futuro. No final dessa década, Jimmy Spitalieri assume os vocais e direciona as composições para o Progressivo, assim como muda a temática das letras para a abordagem e questionamentos de ordem religiosa. Sua voz potente é extremamente diferente das que se costuma ouvir, assemelhando a tenores, com interpretações teatrais, carregando a música da banda com emoções e sentimento. Em 1969, Spitalieri sugere um novo nome, Metamorfosi e, com essa denominação, assinam um contrato por dois álbuns com o selo Vedette.
O primeiro, se chamou "... e fù il sesto giorno" e trazia questionamentos sobre a vida do homem no universo. É um disco muito bom onde todos os elementos musicais do grupo já estavam presentes, porém, ainda de forma primitiva. Os integrantes ainda não demonstravam todas as suas potencialidades nele.
O álbum não agradou a gravadora na qualidade e nas vendas mas lhes rendeu uma apresentação no Pop Festival na cidade de Palermo, onde a crítica e o público os elogiaram.
Demonstrando literalmente uma metamorfose na qualidade das músicas, o segundo trabalho, "Inferno", saiu no mesmo ano. Os integrantes responsáveis pelo álbum eram outros daqueles que gravaram o primeiro disco, sendo:
- Jimmy Spitalieri: voz e flauta
- Enrico Olivieri: órgão e piano
- Roberto Turbitosi: baixo
- Gianluca Herygers: bateria
Como era comum a muitas bandas do estilo, eles não possuíam guitarrista, sendo as poucas e raras passagens com esse instrumento gravada pelo baixista Roberto Turbitosi.
O disco possui umas músicas sem titulo, apenas divididas em duas suítes, a primeira (a mais importante delas) em nove partes e a segunda, em sete. Enquanto muitos grupos italianos, como Le Orme e Premiata optam por um Progressivo mais calmo, o Metamorfosi faz um som caótico.
A breve introdução apresenta um raro momento calmo na voz de Spitalieri, tendo uma linha maravilhosa em sua melodia, assim como a base composta por alguns acordes lentos feitos na corda do piano. Em seguida, a instrumental "Selva escura" arde em fogo com o peso e improvisações inimagináveis, em especial nas partes de teclas.
As curtas "Porta dell'inferno" e "Caronte" nos apresenta a verdadeira voz de Spitalieri, grave, densa, forte, alta, majestosa, imponente, portentosa, extremamente teatral e emocionante, uma voz única no universo do Rock. A primeira suíte termina com a parte contemplativa denomiada "Avari", com um maravilhoso dueto de vozes.
Se o álbum encerrasse por aqui, sem dúvida sua nota seria 10 e estaria facilmente no top 5 de qualquer lista sobre progressivo. Todavia, a segunda suíte deixa um pouco a desejar quando comparamos com a primeira. Não que ela seja ruim, pois possui as mesmas características do que se ouviu antes, mas parece ter um pouco menos de cuidado nas composições e uma sonoridade mais previsível do que a avalanche criativa de antes. Solos virtuosos, bateria de ritmos quebrados, baixo eletrizante e flautas magníficas continuam constantes aqui, mas com menos preparo do que na suíte anterior. Destaque para as emocionantes "Fossa del gigante" e "Lucifero (Policanti)".
Após o álbum sair e realizar alguns shows, a banda se dissolveu e a gravadora Vedette faliu. Spitaleri foi estudar em Los Angeles e, depois, regressou à Itália e ao mundo da música. Lançou alguns compactos solo e, depois, mudou o nome artístico para Thor e, futuramente, para Davide Spitaleri. Enrico Olivieri integrou bandas de apoio. Até que ambos se reencontraram em 2004 e retornaram as atividades do Metamorfosi, que continua na ativa. Lançaram a continuação de "Inferno", chamada "Paraiso" naquele ano de 2004 e um trabalho ao vivo, " La chiese de la stelle", em 2011, realizando shows por seu país.
Criatividade e improvisações orientadas pelo órgão são a marca deste trabalho e acertará o cérebro do ouvinte logo nos primeiros minutos.
Faixas:
Suíte 1:
01- Introduzione
02- Selva escura
03- Porta dell´inferno
04- Caronte
05- Spacciatore di droga
06- Terremoto
07- Limbo
08- Lussoriosi
09- Avari
Suíte 2:
01- Violento
02- Malebolge
03- Sfruttatori
04- Razzisti
05- Fossa dei giganti
06- Lucifero (Politicanti)
07- Conclusione
Áudio:
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