Skinflint: Não-masterizado, atípico e fiel ao metal tradicional
Resenha - Nyemba - Skinflint
Por Willba Dissidente
Postado em 19 de setembro de 2014
Nota: 9
Desde que o JUDAS PRIEST lançou seu petardo "Sad Wings Of Destiny", em 1976, que temos todos os alicerces do Heavy Metal tradicional e com eles as limitações do estilo. Quase quatro décadas passadas, e muitos milhares de discos e músicas lançadas, poderia uma banda inovar respeitando as restrições do gênero? Em pouco menos de 33 minutos de seu mais novo disco, o quarto full-length, "Nyemba", o grupo botsuanês SKINFLINT esmerou seu "African Metal" ao máximo, com vias a definir-se mais enquanto grupo, sem perder de vista o peso, a magia e a intensidade do Heavy Metal. Em sua: características distintas do SKINFLINT foram potencializadas, mesmo aquelas bem diferenciadas, tornando "Nyemba" único e desafiador, mas nem nunca sair da esfera mais crua do Heavy Metal.
"Nyemba" é sinônimo de magia negra no ocidente, e o disco do SKINFLINT é conceitual (algo que o grupo já havia feito antes em "Ikwla"), centrado no surgimento da magia negra, na África oriental do século XIX. Para acompanhar a temática de clima pesado, o Cd vem com produção crua, não masterizada, o que deixa as canções mais barulhentas, naturais e próximas de uma audição ao vivo. Isso não significa um disco mal gravado ou mal mixado. Muito pelo contrário: todos os instrumentos apresentam timbres fortes, marcantes e explosivos - mas que não se sobrepõem; sendo a primeira vez que o SKINFLINT gravou álbum com duas abas de guitarras abertas (em boas palavras: com uma guitarra base e outra solo tocando ao mesmo tempo).
Tendência já apresentada nos trabalhos anteriores, porém levada ao extremo aqui, todas as músicas de "Nyemba" tem construção atípica; fugindo daquele clássico esquema "canto, pré-refrão, refrão, canto, pré-refrão, refrão duas vezes, solo, refrão e fim". Na maioria das oitos músicas, o refrão aparece só final, sem repetição, e há mais de um espaço para solos de guitarra. Notável também é a ausência de músicas instrumentais ou vinhetas no trabalho. Outra recorrência anterior que se torna padrão é que todas as começam com uma introdução que vai se construindo; ora de maneira mais lenta, ora mais cadenciada, gerando passagens instrumentais de grande duração. Falando nisso, é impossível deixar de se notar que em todas as músicas há uma mudança grande na base da melodia das canções, as fazendo sentir como se fossem mais de uma composição no mesmo número.
Em geral, os vocais de Giuseppe Sbrana estão se definindo para ríspido que beira o gutural, assim como seu estilo de solar está mais variado, demonstrando mais grooves, feelings e influências outras que não exclusivamente da escola do IRON MAIDEN (que se faz presente). A bateria de Sandra Sbrana aposta em viradas mais demoradas, com batidas mais rápidas que de outrora. O baixo de Kebonye Nkoloso continua um dos mais marcados e altos do Metal atual e é destaque por introduzir todas as músicas do disco e ainda ter paradinhas só suas.
Direção em centrar as canções no Heavy Metal dos primórdios para dar peso às músicas é mote de "Nyemba", sendo tão perceptível quanto vela acesa em quarto escuro, despontando logo em "Veya", faixa-abertura. Significando "Fogo", a música sobre "negação de paternidade e maldição" abre o disco com sangue nos olhos e apresenta literalmente a proposta musical do SKINFLINT. Muita bateção de cabeça em partes alternadas, virtuosas e pegajosas. "The Pits of WHydah", sobre o famoso navio para trafico de escravos que naufragou com um tesouro, tem o solo de guitarra mais legal do disco. "Okove", ou "pingento mágico na forma do ser amado conjurado por bruxas" é a mesma do single anteriormente lançado, mas sem truques de pós-gravação (para acompanhar o restante do álbum) se tornando mais visceral. Estrategicamente colocada com terceira canção, ela funciona muito bem, pois sua introdução se desenvolve de maneira mais lenta que as anteriores. "Abiku", a faixa mais curta do disco, conta sobre uma sociedade sobrenatural em que espíritos encarnam para viver pouco no plano terreno (morrem crianças). O riff principal da canção é um dos mais simples e legais do álbum, por ser bem na medida entre peso e uma melodia legal de cantarolar.
A segunda metade do cd abre com "The Wizard and His Hound", a faixa preferida da banda e a mais arriscada do disco. Motivo? Ela começa e tem estrutura de um blues demônico; como "Violation" do THE RODS. Assim como nas anteriores, a estória do mago que enfrenta uma aparição malévola tem uma reviravolta para o Heavy Metal na segunda metade da canção. "Sinkinda", trata de um espírito que vêm assolar uma criança de sua família. "Muti" aborda um grupo de pessoas, que em dança ritual, é assassinado para se produzir um medicamento natural para salvar seu rei de enfermidade sobrenatural. Um ritual de magia negra em "The Witches Dances" encerra muito bem o trabalho. As três músicas começam com partes lentas, semi-baladas (a do meio tem sintetizador), que se desenvolvem por mais de um minuto antes da música ficar pesada e desembocar no Heavy Metal oitentista; sendo que essas partes mais calmas voltam, ou no meio ou no fim da música. Esse é, ao nosso ver, o único ponto negativo do disco, pois as estruturas semelhantes de longos instrumentais dedilhados e contidos podem vir a cansar o ouvinte; ou o atiçar mais para as partes mais pesadas das músicas. Isso depende dos gostos e percepções de cada headbanger. De fato, "Sinkinda" é a mais pesada das três e a última possui as partes Heavy mais proeminentes. "Muti" chama a atenção pelas palhetas rápidas do primeiro solo e o solo dobrado do meio; além do refrão "Muti Killing" - ao final - bem agitado.
A capa de "Nyemba" foi outra vez desenhada pela baterista Sandra Sbrana e mantém o mesmo traçado das anteriores; ao não ser pelo efeito computadorizado ao fundo do desenho. A parte artísitica é a mais rebuscada já produzida pelo SKINFLINT, encarte com oito páginas com letras sobre pedaços recortados da capa em efeito de preto e cinza, facilitando a leitura. A foto de contracapa brinca muito bem com as cores na foto do conjuntp; assim como a traseira do disco reaproveita o heptagrama do single de "Okove".
"Nyemba" não decepciona e agradará em cheio quem já é fã do SKINFLINT. Algumas músicas, como "Veya" e "Abiku", funcionam muito bem sozinhas, porém quem está chegando agora, ou não conhece muito fora das bandas mais famosas de metal pode estranhar as longas passagens instrumentais e pouco refrões que as composições apresentam. A característica de aliar o Heavy Metal tradicional à cultura popular e mitológica africana pode ser vista também no visual da banda: no look tão comum de couro apertado, o arrebites e correntes foram substituídos por "Mathowa", cintos e braceletes como colares usados nas danças rituais para produzir sons ao se bater com os pé no chão os usando. Concluímos que "Nyemba" pode não ser a introdução ideal à banda, mas com certeza é a evolução natural, não forçada, e muito bem vinda do "African Metal".
O Cd "Nyemba" pode ser comprado pelo site oficial do SKINFLINT (link ao final) de três formas: disco físico por U$D 12,00 mais taxas de envio, download legal por U$D 07,92, ou ainda cada música pode ser baixada separadamente por U$D 00,99. Na cotação de 16/09 os valore são, respectivamente: R$ 27,94, R$ 18,44 e R$ 02,31.
SKINFLINT:
Sandra Sbrana - Bateria
Guiseppe Sbrana - guitarra, vocais e sintetizadores
Kebonye Nkoloso - baixo
Discografia:
Massive Destruction (Cd, 2009)
Ikwla (Cd, 2010)
Gauna (EP, 2011)
Dipoko (Cd, 2012 / 2013)
Okove (Single digital, 2013)
Nyemba (Cd, 2014)
"Nyemba", Importado, Independete, 32:52.
1. Veya (03:45)
2. The Pits of Wydah (03:29)
3. Okove (04:05)
4. Abiku (03:07)
5. The Wizard and His Hound (03:57)
6. Sinkinda (04:45)
7. Muti (05:09)
8. The Witches Dance (04:35)
Sites relacionados:
http://www.skinflintmetal.com/
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https://itunes.apple.com/us/artist/sk
http://www.amazon.co.uk/Dipoko/dp/B00
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