God Is An Astronaut: Álbum é uma experiência de imersão
Resenha - All Is Violent, All Is Bright - God Is An Astronaut
Por Alexandre Ott
Postado em 07 de fevereiro de 2014
Nota: 9 ![]()
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O Rock’n’Roll acabou? Ter-se-á criado todo o possível em se tratando do gênero mais popular dos últimos cinquenta anos? Estará ele fadado à decadência? Há algo mais a dizer? Pois é através dessas perguntas que podemos começar a entender o que significa o rótulo pós-rock, e GOD IS AN ASTRONAUT foi, para este que vos tecla, o ponto de contato com esse movimento – graças à indicação de meu velho amigo Oscar Jr.
Se, conforme o dito, todos os clichês se esgotaram e todas as fórmulas se esvaziaram, com All Is Violent, All Is Bright, os irlandeses do GIAA cravam uma nova tendência, quiçá a própria assunção da decadência do estilo, ao seguir os rastros indeléveis do gênero sobre qualquer fazer música nos dias de hoje.
Enveredo-me por estes devaneios inspirado pela própria sonoridade da banda, como a única chave para compreender a enigmática alcunha de "pós-rock". As canções são cantadas, sussurradas, mas não têm letras. Se a voz de Torsten Kinsella soa como um instrumento, ou se o seu canto traduz em simples melodia o estado limítrofe da canção, é até difícil dizer. Ambas as coisas fazem sentido.
O fato primeiro é que os trabalhos vocais são parte de um elaborado ambiente sonoro, às vezes denso, às vezes etéreo. O fato segundo é que os caras do GIAA conseguem expressar muito com pouco: através do minimalismo, são incorporados livremente sons eletrônicos e gêneros alternativos ao rock mais tradicional.
Diante destes elementos de "ambient" ou "space-rock", o ouvinte é impelido a imprimir suas impressões sobre o som, muito embora as músicas sejam acompanhadas nos shows por videoclipes elaborados por Niels Kinsella. Prevalece, de todo modo, um clima de melancolia e profunda introspecção ao longo das dez faixas, que podem ser conferidas no link abaixo.
http://grooveshark.com/#!/album/All+Is+Violent+All+Is+Bright/248246
Fragile é a primeira faixa do disco. O ambiente é denso, inspira uma sensação de resignação. Com a entrada de bateria (com efeitos eletrônicos) e vocais, amplia-se essa experiência até os limites da melancolia. A segunda faixa, All Is Violent, All Is Bright, principia com um ambiente pesado, inspirando uma sensação de introspecção e temor. Torsten Kinsella manda muito bem com sua guitarra em punhos. Sua pegada é muito interessante. Não só ele se sai bem, mas a banda toda explora aqui uma sonoridade à RED HOT CHILI PEPPERS. Talvez a melhor do álbum. Em seguida, Forever Lost traz um dos melhores temas do disco, ao piano, inspirando novamente uma profunda introspecção, para em seguida conduzir o ouvinte a algo como uma vertigem sonora…
Fire Flies and Empty Skies vem logo após, com belo trabalho de guitarras e resgatando uma levada oitentista, alcançando assim uma sonoridade próxima de bandas indie mais comuns. É o momento mais vibrante do disco, com destaque para o baixo de Niels. A Deafening Distance mantém-se sobre um mesmo tema, do início ao fim, com paulatino aumento do peso e um bom trabalho de Lloyd Hanney. Infinite Horizons vem na sequência com um ambiente poderoso e anestesiante, e prepara o terreno para Suicide by Star, a qual apresenta uma boa mistura rítmica, iniciando com uma levada um pouco new wave, um pouco "funkeada", para ao final explodir em intensidade no momento mais pesado do disco. Recomendada para headbangers atrás de novas experiências.
Remembrance Day é, ao lado da faixa-título, a canção mais emblemática do álbum. Mesmo se não tivesse sido batizada, seria fácil compreender o que os irmãos Kinsella quiseram transmitir com a peça: o seu tema principal, tão minimalista quanto ambiental, transporta-nos diretamente a algum lugar do passado, desbravando os caminhos de nossa consciência sonora. Um grande som.
O disco é finalizado com Dust and Echoes, marcada por um groove envolvente e um clima de mistério, e, logo depois, com When Everything Dies e Disturbance, as quais levam o ouvinte a um cenário pós-apocalíptico.
Em suma, All Is Violent, All Is Bright é uma experiência de imersão. Requer atenção e disposição para que nos deixemos levar por sua sonoridade ambiental, sob pena de passar despercebida a densidade de sua música, embora simples em vários momentos.
GOD IS AN ASTRONAUT apresenta-se como a trilha sonora para a contemplação de um mundo em crise, no qual tudo tem sido cada vez mais violento, brilhante e visível aos olhos de todos. Um mundo onde a velha canção já não pode mais ser requentada, nem pasteurizada, tampouco imposta. Um mundo que padece justamente da pasteurização cultural, em todos os sentidos.
Assim, a pergunta sobre o fim da canção rock é ela mesma um clichê, pois a música do GIAA se desenvolve no contexto de seu legado. A sua sonoridade atmosférica representa esse cenário de esgotamento, de falência estética. Por outro lado, a influência do gênero prevalece numa simbiose com a "música universal", numa tácita onipresença, o que explica tanto o ecletismo das composições, quanto os seus traços minimalistas.
Para os rapazes da Irlanda, o rock não acabou: ele apenas se consumou. A decadência da indústria fonográfica é a prova cabal desse fato. Para eles, vivemos um mundo de pós-rock.
Faixas:
1. Fragile
2. All Is Violent, All Is Bright
3. Forever Lost
4. Fire Flies and Empty Skies
5. A Deafening Distance
6. Infinite Horizons
7. Suicide by Star
8. Remembrance Day (Uma releitura da canção do primeiro disco The End of the Beginning)
9. Dust and Echoes
10. When Everything Dies
11. Disturbance
Formação (no álbum):
Torsten Kinsella – vocal, guitarra e teclado.
Niels Kinsella – baixo, guitarra e efeitos visuais.
Lloyd Hanney – bateria.
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