I.N.R.I.: Velocidade é a palavra que define este trabalho
Resenha - Ultra Sonic Hatestorm - I.N.R.I.
Por Ronaldo Celoto
Postado em 24 de dezembro de 2013
Uma aquarela em preto e branco. E as cores não derivam do ódio, medo, obscuridade, trevas ou necessariamente de altares pejorativos, como muitas vezes, espera-se estigmatizar o "Death Metal", na tentativa de separa-lo do universo vasto que define a palavra mais fantástica criada pelo homem: "música".
Não é preciso associar o "Death Metal" a uma espécie de "seita musical para poucos ouvintes", nem querer obrigá-lo a permanecer no underground, para ele ter a sua magia própria e sua individualidade. Aliás, seria ótimo se todas as bandas de todos os movimentos musicais pudessem sobreviver dignamente com o estilo musical que defendem, e, não precisassem (segundo a visão de algumas pessoas) permanecerem na obscuridade para serem vistas como ¨cool¨. Os músicos que todos os dias, levantam cedo para defender suas raízes, bem sabem, assim como todos nós sabemos, que a sociedade, por si só, é o nome mais próximo para traduzir a palavra "inferno". E, a sociedade é luciférica (no sentido de enganadora e consumista), é traidora, é exploradora da imagem do capitalismo e divulgadora de dogmas e proibições, estilos e tendências, que quase massacram o ser humano, obrigando-o a fazer parte de uma verdadeira redoma de exigências e obrigações. E o "Death Metal" é justamente esta voz antissocial, mas não por que os mais radicais querem que ele seja irado ou malvado, e, sim, porque ele vocifera o seu sentimento putrefágico em relação ao mundo como ele é, porque ele deseja tocar de forma veloz e ensurdecedora, porque ele não aceita imposições religiosas e acredita no livre arbítrio da alma, na arte obscura de fazer música de uma forma diferente do que é tradicional, sem pensar que alguém irá parar por algum segundo e repetir centenas de vezes algum refrão de alguma canção, mas sim, preocupando-se em registrar a sua crítica vorazmente maravilhosa contra o que convencionalmente, as pessoas conhecem como "mundo". Se eu puder defini-lo de alguma forma, eu diria que o "Death Metal" é uma chicotada cuja dor não foi, e, jamais será curada. É o golpe de misericórdia contra a sociedade. E o termo: "chicotada", é o significado, em inglês (dentre outros que podem ser associados para a palavra), de um site já bem conhecido entre todos nós: whiplash.
Então, através da Whiplash.net, permito-me apresentar uma banda holandesa que nasceu a partir das cinzas de outra banda também holandesa, que era conhecida como STIGMATHEIST. E, foi a partir da transformação desta, que os seus membros restantes, os guitarristas PATRICK KONING e WILFRIED SIJKER, e, o baterista WILLIAM VIERMAN (depois substituído por MARTIN KUIPERS, ex-SYMMETRY e MYSTREZ) uniram-se ao vocalista HENRI "INRI" VELTINK (ex-ETHERIAL WINDS) e o baixista GERJAN SLOT (ex-INNER FEAR) para formar o dantesco grupo I.N.R.I., abreviatura para "Insane Non-commercialized Rock Institute" (foto abaixo).
Anteriormente ao trabalho que agora será resenhado, eles lançaram em 2002 o álbum "Hyper Bastard Breed" (foto), que será objeto de uma futura resenha, em momento oportuno.
Neste momento, com a devida humildade e respeito, destacando a potente e veloz sonoridade imprimida pela banda (que, no futuro, talvez encontre mais espaço para dizer a que veio), passo a resenhar o álbum de 2007, chamado "Ultra Sonic Hatestorm". Pois, vamos juntos.
De início, a poderosa e apoteótica "Power Violence", com pouco menos de dois minutos, arrebata a banda para uma sonoridade, como já dito, muito rápida e forte, impulsionada pela voz gutural de HENRI, que, como disse o site "metal-observer", parece ser uma mistura de JOHAN HEGG (AMON AMARTH) com MARC GREWE (MORGOTH), mas, que a meu ver, também lembra levemente NERGAL (BEHEMOTH); a concisão de guitarras e baterias se encontra de forma harmoniosa, para produzir uma pequena e rápida "sinfonia em preto e branco". Belo começo, sem dúvida.
Não há que se esperar neste trabalho (os mais exigentes talvez assim o façam) letras extremamente proféticas ou dotadas de uma crítica política sarcástica e filosófica, escalas líricas pesadas e reverberadas (sim, eu disse líricas, como fez, por exemplo, o SATYRICON, em seu último e maravilhoso trabalho homônimo) ou algo surpreendentemente novo dentro do estilo, pois o álbum é simples e direto, e, diga-se de passagem, cumpre muito bem o seu papel, sem inventar. E assim, a segunda canção, intitulada "Fucked Up Beyond All Recognition" é anunciada, numa tempestade avassaladora de fúria.
Um dos pontos altos do trabalho surge a seguir, com a faixa "One Happy Thought Of Elimination", dotada de riffs poderosíssimos e uma introdução fantástica, grandes compassos ritmicos e uma musicalidade em estado de graça, novamente, pela velocidade. E, intercalada a esta tempestade, a já mencionada voz de HENRI é o destaque, dentro do estilo da banda.
"The Iron Death Slam" permeia uma vez mais, a velocidade surpreendentemente técnica da banda, para abrir passagem àquela que é a mais cadenciada canção do álbum (e também, uma das melhores), intitulada "Humanitron". Uma música fantástica, poderosa, cavalar, que mergulha um pouco nas vertentes do ¨Thrash¨ de forma primorosa, onde toda a banda se destaca, desde as guitarras em perfeita escala sincronizada, ao baixo rápido e encaixado à excelente bateria, até a voz de HENRI que, nesta canção, assume duas sonoridades intercaladas, perfeitamente significativas para a crítica à qual a canção se propõe.
"Thrash Until Found Worhty" é daquelas faixas que se elevam soberbamente sobre a alma e o coração de todos aqueles que prezam uma musicalidade versátil, rápida e com vocais guturais. Em alguns momentos, esta guturalidade foge ao estilo do próprio "Death" e mergulha novamente no "Thrash", e, a vocalização faz-nos lembrar, também, além dos vocalistas supracitados, o próprio PHIL ANSELMO em dias de PANTERA, com o devido respeito aos que por ventura discordarem (devido ao estilo de cada uma das bandas), mas peço que ouçam a faixa, e, poderão notar alguma semelhança, claro, sem exageros, apenas uma lembrança.
E vamos nós com "Bullet Cumshot", um verdadeiro disparo "não-acidental" em direção aos tímpanos. Belíssimo trabalho de guitarras, bateria utilizando muito bem seus pedais, muita variação de compassos, e, riffs matadores (dentro do estilo, claro), antes que a voz de HENRI rasgue de fervor e voracidade toda e qualquer esperança ao mundo (no bom sentido crítico-social), mostrando que, enquanto o I.N.R.I. estiver a gravar discos, sempre haverá motivos para que o o Planeta não seja colorido, nem belo, nem perfeito. A realidade, a partir das canções desta banda holandesa, é caótica, disforme, e, por isto, merece ser perpetuada e massacrada através de seus discos.
Continuando, chega-nos a ironicamente enraivecida "Fire, Flames and Other Tools To Kill You", que, seja pelo título, seja pela catálise de trovões e velocidade com que é tocada, atinge diretamente aos fãs. Sim, há fúria por detrás dos "Países Baixos", como é conhecido o território da Holanda. E não é uma fúria peculiar, mas uma avalanche sonora que tem boa qualidade. Uma nitroglicerina em forma de acordes. Destaque para o excelente trabalho dos riffs, que agem distintamente em dois momentos peculiares da canção.
E quem disse que o petardo velozmente concebido acabou? Ainda temos a hipnótica "Fucking Nothingness", carregada pelas variações ritmicas mais densas, antes de chocar-se com as montanhas sonoras que traduzem a identidade da banda. A introdução lembra um pouco (eu disse: um pouco) a fantástica "Seasons In The Abyss" (SLAYER), para depois seguir impiedosa e raivosa, como que a diluir um chute contra a escória e a devassidão chamada: humanidade.
"Ego Extremist" dá continuidade ao disco, retomando agora, uma sonoridade totalmente "Death", em todos os transes épicos remetem a bandas consagradas do gênero, e, fazem os ouvintes realmente, rebuscarem dentro de si mesmo a percepção de que o "Death Metal" é, antes de tudo, uma arte em constante transformação. "I am an Ego Extremist!", grita HENRI, para que o mundo pare por um instante, e, deixe a locomotiva chamada I.N.R.I. passar sobre os trilhos.
Novamente, sangue, suor e alma mesclam-se na letargia sonora, e, em meio à velocidade rastejante, proclama-se a canção "1000 Pounds of Pure Satan", um grande momento da banda, que, em alguns instantes, trouxe-me à lembrança (não sei porque) a imagem dos bons trabalhos já feitos pela banda POSSESSED. Uma menção, aliás, nada mais do que honrosa.
"Nihilityblaster" encerra como que uma metralhadora o disco, numa complexa e direta colisão sonora, com destaque para a velocidade (que, vocês perceberão, certamente é a palavra que eu mais repeti em toda a resenha), e, a já elogiada voz de HENRI. Um desfecho similar a uma bomba atirada a um super colisor, num manifesto anti-humano em forma de palavras.
Velocidade. Esta é a palavra para definir este excelente trabalho. Alguns ouvintes poderão dizer que eles não são "totalmente Death Metal", e, sim, uma mistura com o "Thrash". Pessoalmente, eles próprios são classificados pelos diversos sites que os elogiam, como "Death Metal", o que eu não ousei discordar. Alguns ouvintes (e não serei eu, pois gostei da sonoridade da banda, embora ache que no futuro, com mais evolução, eles terão muito mais a dizer) também poderão sentir falta de mais conteúdo progressivo de escalas (sim, há ouvintes muito exigentes dentro de cada estilo, e, com o ¨Death Metal¨ não seria diferente), ou composições que carecem de maior conteúdo textual, enfim, exigências maiores que os remetam ao patamar dos gigantes. Outros ouvintes, por fim, poderão adorar o I.N.R.I. justamente pela simplicidade e velocidade que caracterizam a banda de forma ímpar. O fato é que é um trabalho digno de ser ouvido.
Como curiosidade, os rapazes já tocaram com MORBID ANGEL e KRISIUN, estes últimos, muito elogiados como músicos e como pessoas por HENRI e sua trupe. São fãs de outras bandas conterrâneas do estilo, como GOD DETHRONED, OCCULT, ALTAR (http://www.metal-rules.com/interviews/inri.htm).
Certo pensador disse uma vez que "as coisas não acontecem na velocidade do pensamento, mas devem ser pensadas para que aconteçam". Se a música em todo mundo seguisse os ditames desta frase, então o I.N.R.I. já teria lugar reservado entre os grandes expoentes da velocidade nas novas gerações metálicas. Mas ainda há muito trabalho pela frente. E, caberá aos fãs decidirem onde eles deverão estar. Que venha o futuro, para dizer quem serão eles, e, o que terão a dizer com sua música.
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