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Blackberry Smoke: sem dúvidas o melhor trabalho do grupo

Resenha - Whippoorwill - Blackberry Smoke

Por Bruno Blues
Postado em 21 de maio de 2013

Existe como se pensar numa renovação de um dos gêneros musicais mais saudosistas de todos? Com artistas como The Allman Brothers Band, Lynyrd Skynyrd, Little Feat, e The Black Crowes no panteão dos deuses mitológicos do gênero, como pensar que ao longo do tempo, principalmente nos últimos 10 anos, o Southern Rock e/ou Country Rock, teve que se reinventar para continuar a dar bons frutos oriundos de safras musicais de qualidade questionável?

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O quinteto BLACKBERRY SMOKE, é proveniente do solo mais fértil para o crescimento do Southern Rock – Atlanta, no estado sulista norte-americano da Geórgia. Prestes a completar uma década de existência, o grupo lança em 14 de agosto de 2012, seu terceiro álbum de estúdio - "The Whippoorwill". Com três discos em sua carreira (o primeiro "Bad Luck Ain't No Crime" de 2004, "Little Piece of Dixie" de 2009, e "The Whippoorwill" de 2012), o grupo é um dos maiores expoentes do movimento do Southern Rock na atualidade. "The Whippoorwill" é sem sombra de dúvidas o melhor trabalho do grupo, e mostra que os rapazes "from the land of Georgia's Peaches", estão cada vez mais conquistando seu espaço dentro do cenário musical norte-americano e mundial. O disco "The Whipporwill" em seu lançamento, alcançou o 8º lugar nas paradas norte-americanas de acordo com o US Country Airplay.

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Ao começar a ouvir a primeira canção do disco, "Six Ways to Sunday", percebo instantaneamente que o som do grupo é mais Country do que estou acostumado a ouvir em bandas do gênero Southern Rock. O timbre da guitarra é inconfundível – se trata daquela velha Fender Telecaster com um timbre overdrive que parece ser conseguido ao fazer as válvulas do amplificador "tostar", e a pleno volume. Ao que me parece, existem certas sonoridades que se tornam "marcas registradas", e o som do piano honk tonk sempre nos fará lembrar do maior representante do estilo no século XX, o saudoso pianista do Lynyrd Skynyrd, Billy Powell – ao passo que o piano honk tonk aparece em "Six Ways to Sunday", por mais que Brandon Still se esforce, inevitavelmente o som de seu piano nos fará lembrar daquele velho piano de cauda branco que acompanhava Mr. Powell. O vocal de Charlie Starr, acompanhado pelo apoio vocal firme de Richard Turner me fez lembrar da dupla Jovi/Sambora, mostrando o quanto os vocais da banda estão afinadíssimos. O som do contrabaixo de Richard Turner, talvez inspirado pelo som do contrabaixo de Leon Wikelson (Lynyrd Skynyrd) é extremamente audível, pulsante, e roncador, formando com a bateria de Brit Turner uma cozinha marcada e eficiente.

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"Preety Little Lie" apareceu em 46º lugar nas paradas musicais norte-americana US Country Airplay. Pelo fato de ser a música de divulgação do álbum "The Whippoorwill", "Preety Little Lie" é um tanto comercial. Porém, nem por isso, a música deixa de ter seu brilho especial. O vocal é bem carregado com o sotaque sulista norte-americano, o que faz com que a música (ajudada pela harmonia das guitarras crunchy) seja bem country. Os vocais de apoio nos fazem lembrar o alcance vocal das vozes dobradas de Mr. Steven Tyler nas baladas dos anos 1990 do Aerosmith. Mais uma vez se sente uma clara firmeza por parte de Richard Turner no contrabaixo, e Brit Turner na sessão rítmica do BLACKBERRY SMOKE. O solo é característico do Country, no entanto, com um pouco mais de overdrive, peso, e agressividade – mas não deixa de ser linhas de pentatônica características do estilo.

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"Everybody Knows She's Mine" logo de início tem um clima bluesy. Imediatamente senti uma vontade imensa de tomar uma cerveja bem gelada com minha garota em alguma pocilga de beira de estrada, com o sol refletindo no tanque de gasolina daquela moto chopper estilosa. Quem toca guitarra, perceberá que o riff inicial é executado sem palhetas, e somente com a entrada do vocal é que a variação do riff é executada com o acessório. Por falar em vocal, os mais profundos conhecedores do Rock and Roll, perceberão que o vocal de Charlie Starr tem grande semelhança com o vocal da banda australiana (do hit mundial do final dos anos 1970 "Happy Anniversary") Little River Band, Glenn Shorrock – no esntanto a voz de Starr é mais potente e áspera do que a voz de Shorrock. O trabalho de Brandon Still no piano e órgão, é bastante marcado e melódico, onde ele mostra boa desenvoltura e senso melódico para criar os licks que colorem as passagens cantadas. No solo há um diálogo entre a guitarra e o piano, terminando com um dueto de guitarra para nos preparar para a segunda parte da música, que por sua vez traz uma boa composição de vocais de apoio femininos.

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"One Horse Town" tem a mesma levada de "Preety Little Lie", no entanto tem um trabalho de violões no começo que mostra que a música tem a característica de ser pouco mais soft do que a outra composição do disco. O trabalho vocal de Starr é bem característico e casa muito bem com os licks de lapsteel que são executados em contraponto à voz – fica na cara que se trada de uma banda muito mais Country do que Rock. Nesta canção Still tem um trabalho mais evidente usando um órgão Hammond B3, mas não deixa de executar passagens com o familiar piano presente nas músicas do grupo. O solo de guitarra da música é executado sem palheta.

Até os 30 primeiros segundos de "Ain't Much Left of Me", o ouvinte acredita piamente que a canção se trata de uma balada. Mas ao passo que Brit Turner executa uma virada à lá Black Crowes, a música passa a ter um riff bem Rock and Roll. Aliás, ao passo que a música toma estas proporções, é impossível não imaginar como seria se o Black Crowes estivesse tocando "Ain't Much Left of Me" - é evidente a semelhança entre a sonoridade desta canção do BLACKBERRY SMOKE com a sonoridade da extinta banda dos irmãos Robinson. O destaque da música fica a cargo da interpretação cheia de emoção e sentimento do vocal de Charlie Starr, bem como o solo de guitarra se utilizando do "bottleneck".

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Em minha opinião, a música que leva o nome do título do álbum, é a segunda melhor canção do disco. Definitivamente, logo nos primeiros 30 segundos de "The Whippoorwill" qualquer um reconhece que a música é um hino. Mais uma vez, é notável como a voz de Charlie Starr faz a diferença, pois sua interpretação faz com que o mais barbudo dos rednecks fique com os pelos eriçados – é pura emoção. O som ébrio do lapsteel mais uma vez nos faz lembrar da influência de Hank Williams que o BLACKBERRY SMOKE traz em seu som. O trabalho de Still nos pianos e órgãos é muito melódico e sensível, o que cria uma preparação sublime para o solo, e por falar em solo, que solo! Um dueto de guitarra prepara o ouvinte para um solo cheio de feeling – bluesy e lírico. "The Whipporwill" é uma das maiores canções do Southern Rock feito nos dias atuais.

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Sabe o que resulta de um som molhado com muito trêmolo na guitarra, um piano funky, com uma bateria bem marcada, e um baixo pulsante? "Lucky Seven", uma das músicas mais Rock and Roll estradeiro do álbum. Sabe aquelas músicas na qual você apoia o cotovelo pra fora da janela do carro enquanto dirige, chacoalhando a cabeça no ritmo da música, fazendo aquela pose de "cowboy from hell" A música apresenta licks de guitarra com bottleneck de muito bom gosto – e a energia que as guitarras transmitem é contagiante. Um diálogo no solo é composto por uma guitarra com wha wha sendo tocada com os dedos, enquanto outra é tocada na técnica do slide do bottleneck. Uma levada despretensiosa nos acompanha até o fade out da canção. Uma música pra quem gosta de guitarras.

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"Leave A Scar" é Country Rock logo de cara! Junto com um peso descomunal de guitarras, um banjo incendiário cria licks a todo vapor criando o clima necessário para que o vocal de Charlie Starr mostre suas características hillbilly – Alan Jackson entre outros devem sentir orgulho da voz de Starr. O solo não poderia deixar de ser na mesma característica, e depois de um interlúdio bem AC/DC, uma guitarra chicken pickin' executa a linha melódica que termina com um rápido dueto de guitarra que lembra os solos de Dickey Betts e Dan Toller no The Allman Brothers do começo dos anos 1980.

"Crimson Moon" é puro Southern Rock! Por mais que se pareça com algumas coisas referentes aos últimos álbuns do Lynyrd Skynyrd, o riff principal da música mostra que as músicas do BLACKBERRY SMOKE tem suas características próprias. Mais uma vez um trabalho muito bem afinado entre as guitarras, o piano, e o órgão (que por sinal faz uma introdução de solo magnífica). A voz de Charlie Starr é bem destacada, mesmo entre os trabalhos evidentes nas linhas de bateria e contrabaixo da dupla Turner/Turner. Os vocais femininos na música nos remete as características dos vocais de apoio do Lynyrd Skynyrd, mostrando que a intenção de criar uma canção puramente Southern Rock foi alcançada.

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"Ain't Got the Blues" é um trabalho meio acústico, meio elétrico. É nítida a influência de músicas como "Mississippi Kid" e "Things Goin' On", ambas canções do primeiro disco do Lynyrd Skynyrd "Pronunced Leh-Nerd-Skeh-Nerd" de 1973. Duas características fazem a distinção necessária entre as músicas – a produção da música do BLACKBERRY SMOKE é superior, além do mais a voz de Charlie Starr é muito mais firme e potente do que a voz rouca e despretensiosa de Ronnie Van Zandt. Música perfeita pra quem gosta do casamento entre violões dedilhados, violões com bottleneck, piano honk tonk, e bateria com caixa e bumbo muito bem marcados. O solo de violão dobro com bottleneck prova que "Ain't Got the Blues" é uma canção das mais tradicionais que os sulistas do BLACKBERRY SMOKE podem criar.

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"Sleeping Dogs" é uma música que prova que o BLACKBERRY SMOKE fez a lição de casa quanto a assumir claramente suas influências como fundamental no processo de composição. Ainda bem que o grupo tem um vocal que é completamente diferente do vocal atual do Lynyrd Skynyrd, Johnny Van Zandt, irmão de Ronnie que assume o vocal do grupo no final dos anos 1980, pois é inútil tentar se desvencilhar da sonoridade do LS como influência para a composição de "Sleeping Dog" - a voz de Charlie Starr faz a diferença. A música é mais fraca do que as demais.

"Shakin' Hand With the Holy Ghost" começa com um toque de guitarra que lembra muito os riffs de bandas como AC/DC e ZZ Top – o riff é executado com o timbre da guitarra bem grave, o que dá a impressão de que fora tocado com os controles de tonalidade do instrumento anulados. O vocal de Charlie Starr, imediatamente nos faz pensar numa camisa xadrez de flanela, um jeans surrado, e um par de botas de couro – é como se o Hard Rock fosse sido criado "on the old bayou". "Shakin' Hand With the Holy Ghost" tem uma energia muito boa, e é impossível não dançar, mesmo que de forma contida e discreta ao som dessa canção. O solo de guitarra com wah wah, é de muito bom gosto, e cria aquele clima perfeito pra gritarmos em uníssono aquele refrão fácil de decorar.

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"Up the Road" é, de longe a melhor balada composta desde "Descending" do grupo The Black Crowes que compõe o disco de 1994 "Amorica", ou alguma balada milnovecentista do Aerosmith. É a melhor canção do disco, e fecha o álbum com chave de ouro. Mais uma vez, farei referência à banda australiana Little River Band, liderada por Glenn Shorrock. Aconselho quem ouviu e gostou de "Up the Road", ouvir um disco do Little River Band chamado "Diamantina Cocktail" de 1977 – é certo que passe a admirar o som deste grande grupo desconhecido dos anos de ouro do Rock and Roll. Sem mais comentários, deixarei para que a curiosidade de cada um instigue-os a ouvir essa linda canção, e afirmo que "Up the Road" é um clássico instantâneo para quem acompanha o Southern Rock atual.

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Espero que com o passar do tempo e com o amadurecimento de sua carreira, o BLACKBERRY SMOKE consiga encontrar cada vez mais uma identidade própria, saindo da sombra dos gigantes do Southern Rock. Mesmo assim, para os amantes do gênero, é indispensável a audição de "The Whippoorwill".

Track List

"Six Ways to Sunday"
"Preety Little Lie"
"Everybody Knows She's Mine"
"One Horse Town"
"Ain't Much Left of Me"
"The Whippoorwill"
"Lucky Seven"
"Leave A Scar"
"Crimson Moon"
"Ain't Got the Blues"
"Sleeping Dogs"
"Shakin' Hand With the Holy Ghost"
"Up the Road"

Integrantes

Charlie Starr: guitarra/voz principal
Paul Jackson: guitarra/vocal de apoio
Robert Turner: contrabaixo/vocal de apoio
Brandon Still: piano/órgão
Brit Turner: bateria

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Produzido por Blackberry Smoke.

Lançado por Southern Ground em 14 de agosto de 2012.


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Sobre Bruno Blues

Bruno Blues, nascido em 12 de agosto de 1986. Se envolveu com música desde cedo enquanto o dublava a banda de baile no bar dos pais. Amante de Rock and Roll aos 13 anos, guitarrista aos 15. Adulto, além de músico, tornou-se professor de Filosofia e Sociologia. Além da música, é fã do cinema - Herzog, Linklater, Tarantino. Nas horas vagas é Condutor de Turismo de Aventura - adora uma cachoeira, uma corda, e a adrenalina. De música, curte de Django Reinhardt à Slayer - só separa, dentro de teu julgamento, a música boa da música ruim.
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