Tierramystica: banda gaúcha não teme arriscar em estreia
Resenha - A New Horizon - Tierramystica
Por Júlio André Gutheil
Postado em 28 de dezembro de 2010
Existem bandas que se espelham em seus ídolos, e fazem um som que acaba sendo uma cópia fiel da música já feita por outros nomes, e que tem medo de arriscar, de inovar, de buscar uma cara própria e achar algo que ninguém tenha pensado antes. Já outras, geralmente as que conseguem notoriedade e se tornam grandes dentro da cena do metal, buscam algo novo, mares ainda não explorados e, o principal, uma identidade própria: não ser só mais uma banda-clone de algum gigante.
E é nesse segundo tipo que se enquadram os gaúchos do Tierramystica. Apostando na fusão de heavy metal com elementos da música sul-americana, principalmente das culturas andinas, eles lançam seu primeiro trabalho, "A New Horizon".
Alguns poderão dizer que o Shaman já tinha feito isso no seu clásico disco "Ritual" (2002). Eu discordo de tal suposição, já que o Shaman englobava elementos místicos e tribais de várias partes do mundo, de uma forma diferente, enquanto que o Tierramystica se apega às nossas raízes do sul, aos andes, às culturas pré-colombianas e afins. Esse que é o grande diferencial da banda, a sua proposta, a sua identidade. E é isso o grande acerto deles: não ter medo de inovar.
A sua proposta já fica bem clara logo na faixa de introdução, 'Nueva Castilla'. É uma música instrumental que mistura os ritmos típicos dos indígenas andinos (principalmente percussões e flautas), com a influência espanhola na América do Sul ao longo de séculos de colonização. Belíssima melodia que dá o tom e cria o clima para as demais faixas que virão mais adiante. Na sequência vem 'Golden Courtyard (Qori Kancha)', que já começa com muitas flautas e percussões, ao lado de bons e densos riff's de guitarra, bateria bem pegada e toda uma vasta gama de sonoridades distintas. Todos esses elementos criam uma atmosfera incrível, única, repleta de peso e vigor, misturada com uma veia étnica super latente. Vale ressaltar a impecável atuação de Gui Antonioli, que vai se mostrando como um dos melhores vocalistas brasileiros da atualidade.
'Celebration to the Sun (Inti Raymi)' é um excelente powermetal, que soa completamente rejuvenescido pela inclusão da musicalidade sulista; a bateria é perfeita, acelerada, pesada e com ótimas viradas, acompanhada de percussões e flautas por todos os cantos, guitarras e baixo muito entrosados. Excepcional faixa, muito criativa e inspirada. Com a ideia oferecida pela banda, a mítica cidade de El Dorado não poderia ficar de fora dos temas das músicas; e ela dá as caras na fabulosa 'New Eldorado (Qapac Nãn)', mais uma que é powermetal puro, enriquecida com belas melodias e sons exóticos, sendo muito empolgante e com um vigor impressionante.
A longa 'Spiritual Song' é um poço de misticismo andino, que começa soturna, com flautas misteriosas, sutis linhas de teclado que, aos poucos, vão construindo um clima maior e ganham corpo com as guitarras, o baixo e a bateria, ficando mais denso com os vocais. Ela soa como uma jornada espiritual, onde alguém busca o seu eu, transcendendo o limite do mundo dos meros homens. Faixa sensacional, que consegue ser a perfeita síntese do ideal proposto. Logo depois, temos a belíssima balada 'Winds of Hope (Suyanawayra)', que não deixa a desejar no quesito feeling, pois tem a ótima técnica dos músicos e a bela apresentação de Gui, mais uma vez.
O começo cadenciado, com bonitas linhas de teclado de 'Wide Open Wings', abre caminho para uma faixa muito elegante, mais cadenciada que as demais, com uma boa dose de peso, flautas e percussões bem colocadas, que conduzem o ouvinte para as belas paisagens sul-americanas. Temos então 'Away from the Dream', que exala sons andinos por todos os cantos, com uma versátil interpretação do vocalista e com mais e mais mostras do belíssimo clima que as inserções de intrumentos, pouco comuns, são capazes de propiciar. Na sua reta final, a música fica muito épica e com feeling. A banda se mostra realmente muito inspirada, sendo versátil e composta por músicos muito talentosos.
O final fica por conta de 'The Final Rest', que traz o peso e a virtuose com tudo novamente. Conta com um ótimo refrão, bastante empolgante, instrumental afiado e cheio de personalidade. Tem muita técnica, mas sem perder a emoção, e reune de tudo um pouco que se ouviu no play até ali. Um encerramento em altíssimo nível.
São bandas como o Tierramystica que dão sustenção ao metal brasileiro, que não o deixam perecer de vez em meio a uma cena que vai, aos poucos, desmoronando. Trata-se de um conjunto com potencial gigantesco, que tem tudo para estourar no exterior e entrar de vez para o hall dos gigantes do metal brasileiro. Também espero que eles sirvam como exemplo a todos os jovens que sonham em ter uma banda, para que eles não tenham medo de pensar em algo novo, que sejam ousados, com espiríto aventureiro, e que evitem ao máximo a mesmice, para mão entrarem no mar de saturação que acaba se tornando qualquer vertente muscial.
O Tierramystica é:
Gui Antonioli – Vocais e percussões
Alexandre Tellini – Guitarras solo, guitarra base, guitarra acústica e zamponãs (tipo de flauta )
Fabiano Müller – Guitarra solo, guitarra base, guitarra acústica e quenãs (outro tipo de flauta)
Duca Gomes – Bateria
Ricardo "Chileno" Durán – Vocais, charango, guitarra acústica, craviola, bombo legüero e ocarinas.
Rafael Martinelli – Baixo
Luciano Thumé – Teclados
Track List
1. Nueva Castilla (2:32)
2. Golden Courtyard [Qori Kancha] (6:55)
3. Celebration to the Sun [Inti Raymi] (5:59)
4. New Eldorado [Qapac Ñan] (5:51)
5. Spiritual Song (7:27)
6. Winds of Hope [Suyanawayra] (4:45)
7. Wide Open Wings (6:45)
8. Away From the Dream (5:04)
9. The Final Rest (4:49)
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