SuperOverDrive: power trio com uma pegada bem Hard Rock
Resenha - S - SuperOverDrive
Por Marcelo Pereira Nunes
Postado em 03 de novembro de 2010
Imagine três músicos experientes, talentosos, fãs de Rock’n’Roll da melhor qualidade que resolvem formar um power trio e gravar um álbum independente exatamente do jeito que eles acreditam que um bom álbum de Rock deve ser. O resultado é {S}, o trabalho de estréia da banda paulista SUPEROVERDRIVE. Um álbum muito bem produzido, com uma pegada forte, músicos com uma técnica surpreendente e letras inteligentes, daquelas que botarão o ouvinte para pensar.
Há alguns meses atrás circulou na Internet um single que chamou a atenção de muita gente. "The Gentle & the Madman" é uma canção sombria tocada por um power trio com uma pegada bem Hard Rock, adornado por trechos de áudio de filmes cult com e um texto narrado por vozes obscuras, que parte do tema do livro "O Médico e o Monstro" para falar sobre a dualidade da alma e das misérias humanas.
Tudo isto interrompido duas ou três vezes por um refrão contundente cantado a duas vozes, que conclama a uma mudança de atitude em contraste à realidade sóbria que a música desenha. Um verdadeiro contraste entre o "madman" (louco) e o "gentle" (gentil). Com certeza, uma música para deixar ouvidos em alerta para o que estava por vir.
A banda era a SUPEROVERDRIVE, um trio de Hard Rock paulista recém formado por músicos veteranos – Ricky Furlani (guitarra), Andrés Zuñiga (baixo), André Gonzales (bateria) – que anunciavam em seu site o desenvolvimento um trabalho autoral inspirado em uma lista eclética de pensadores "cabeça" do naipe de Michael Tsarion, Carl Sagan, Alan Moore, Carl Jung, Aldous Huxley, Neil Peart e Joseph Campbell, e em bandas clássicas como Pink Floyd, Cream, King’s X, Rush, Led Zeppelin e Jimi Hendrix entre outros.
O álbum de estréia da banda, produzido de forma independente (entenda-se aqui, ao gosto dos próprios músicos) causou expectativa e demorou um bocado para ser lançado. Mas a espera foi compensada com um excelente resultado. O álbum {S} (assim mesmo: abre chaves, "S" maiúsculo, fecha chaves) é um trabalho maduro muito bem produzido que comprova que dedicação e bom gosto ainda é o melhor caminho para se fazer Rock’n’Roll da melhor qualidade.
O álbum {S} abre com "Live in Harmony", um hard rock swingado, composto por Ricky Furlani, que, também como sugere o título, cobra uma atitude positiva e serena diante da vida. A música se destaca por um refrão forte e um solo de guitarra muito preciso.
Na sequência, "My Truth", composição de André Gonzales, traz um riff poderoso, uma letra introspectiva, e uma performance solo muito versátil de Furlani. É interessante observar que ao longo do álbum existe um contraste e uma complementação entre as letras de Furlani que tratam sempre de temas engajados com uma mudança de atitude, com as canções de Gonzales, mais introspectivas, onde ele mergulha fundo na obscuridade da alma e na origem das misérias humanas.
Depois de "The Gentle...", já comentada e que vem na sequência, segue "Dark Light", única composição de Andrés Zuñiga no album, com letra de Furlani, é a canção onde os três mais demonstram sua virtuose e entrosamento, incluindo um rápido "duelo" de baixo e guitarra solando intercaladamente.
A próxima, "Between the Line" de Furlani, que também havia sido disponibilizada na rede pouco antes do lançamento do álbum, é provavelmente a canção com maior apelo comercial. Um Rock’n’Roll direto e cadenciado, com um refrão bem vocalizado em um solo de guitarra na medida. "Inner Light", uma canção que Gonzales resgatou de sua antiga banda autoral: Red. Um Rock cadenciado com um contrabaixo bem colorido e um solo de guitarra bem abstrato, bem jazzista. A canção termina com uma curiosa reflexão sobre a forma dissimulada como os nazistas proliferavam sua doutrina absolutista de destruição durante a Segunda Guerra Mundial.
Em seguida, o album ainda traz "Eternal Cycles" uma bela homenagem que Gonzales faz ao astrônomo Carl Sagan e sua compreensão pragmática do universo. "Let Your Own Light Shine" faz o tipo canção-denúncia das teorias de conspiração para implantação da Nova Ordem Mundial. Sempre um tema muito fértil para bandas de som pesado. "The Nursery Song", "Know Thyself" e "Stand Up" aprofundam a dualidade das visões de Furlani e Gonzales cada uma em um estilo bem particular.
O álbum termina com uma faixa de nove minutos, "The Salvation Suite", uma peça dividida em duas partes. A primeira parte, "Angel", uma balada clássica de Rock com uma letra emotiva e um solo de guitarra bem envolvente. A segunda, "Heaven", um tema instrumental onde a banda experimenta diversos elementos adicionais como violinos e outros elementos de orquestra, instrumentos de sopro, bandolim e outros instrumentos acústicos. Tudo para dar um fechamento épico ao álbum.
A SUPEROVERDRIVE é um projeto formado por três músicos renomados no cenário paulistano. Três concorridos instrutores, daqueles que são figurinhas carimbadas em eventos, workshops e artigos de revistas especializadas em seus respectivos instrumentos.
Depois de dois excelentes álbuns solo de Rock instrumental – "Inscriptions" e "Talking" –, o guitarrista Ricky Furlani mais uma vez desfila a sua inesgotável biblioteca de riffs contundentes, solos criativos e técnica apurada. Vale prestar atenção em sua versatilidade em momentos melódicos, como em "Live in Harmony", com momentos virtuosos, como em "Dark Light" e momentos abstratos, como em "Inner Light". Ricky também faz excelentes escolhas de timbres refinados que valorizam muito o trabalho da banda.
Músico de origem chilena e formação erudita, Andrés Zúñiga é do tipo de baixista impecável. Seja dobrando a guitarra em escalas alucinantes, seja em grooves esticados no fretless, cada nota que sai de seu contrabaixo é tocada com mesma precisão e aplicação. Mas isto não obstante de uma boa pegada roqueira sabendo também aproveitar sua experiência com música latina para dar mais colorido às canções.
A sempre potente bateria de André Gonzales também não deixa por menos. Ele que recentemente esteve engajado em projetos cover de Rush, Deep Purple e Dave Matthews Band, não por acaso, deixa evidente no trabalho com a SUPEROVERDRIVE as baquetas firmes e muito roqueiras ao melhor estilo Ian Paice, o sincopismo e a diversidade rítmica de Carter Beauford e o estilo prolífero, claro e altamente técnico de Neil Peart. Com esta combinação, Gonzales integra sua bateria à banda com um estilo de percussão que, mais do que marcar ritmo e dar espetáculo (que ele também faz muito bem), tem um compromisso com a harmonia tão grande quanto o de qualquer outro instrumento.
Também digno de comentários o desempenho vocal da banda. Embora o vocal seja dividido entre Zuñiga e Gonzales, os três integrantes contribuem no ótimo trabalho de preciso de vocais, baseados em melodias cuidadosamente compostas em sem nenhum exagero. Além de muito bem gravados e mixados.
São três artistas de primeira linha e de fato, o álbum é um prato cheio para os aficionados em músicos virtuosos com alto domínio e diversidade técnica em seus instrumentos, mas eles vão além.
O álbum {S} é, antes de mais nada, um tremendo disco de Rock. Um álbum com uma pegada forte, canções com atitude e com uma mensagem consistente, com espaço para a bastante técnica, mas com melodias cuidadosamente compostas. Um trabalho bem dilapidado onde os músicos mostram terem encontrado o ponto de equilíbrio de um som original e inovador mas sem exageros, que impressiona pela virtuose sem cair na chatice de demonstrações intermináveis de técnica, onde eles dão espaço para a espontaneidade sem perder o compromisso de fazer bem feito. Enfim, um álbum que deve ter sido tão bom de compor e gravar quanto é bom de escutar.
{S}, o álbum de estréia da SUPEROVERDRIVE está nas lojas e também disponível para download gratuito direto no site oficial da banda. Portanto, baixe e escute agora mesmo, mas não esqueça: trata-se de um disco de Rock, portanto, escute com o volume no talo!
Banda:
Ricky Furlani – guitarras, violões, backing vocals
Andrés Zúñiga – vocais, baixo, violões, mandolin, violino, teclados
André Gonzales – vocais, bateria, percussão, teclados
CD:
01. Live In Harmony
02. My Truth
03. The Gentle & The Madman
04. Dark Light
05. Between The Line
06. Inner Light
07. Eternal Cycles
08. Let Your Own Light Shine
09. The Nursery Song
10. Know Thyself
11. Stand Up
12. The Salvation Suite (I- Angel & II-Heaven)
Download direto e gratuíto em http://www.superoverdrive.com.br/
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