Lucas Fagundes: liberdade sonora dá tom e cor ao CD
Resenha - Lucas Fagundes - Lucas Fagundes
Por Giorgio Moraes
Postado em 25 de fevereiro de 2009
Um bom trabalho instrumental é aquele que permite ao ouvinte criar e recriar as mais diversas imagens ao som da melodia. Nessa linha de raciocínio, nenhum tema pode vir como um pacote de idéias embalado à vácuo - sem deixar espaço para pensamentos subjetivos e objetivos de qualquer natureza. E é justamente essa liberdade sonora que dá tom e cor ao CD homônimo do guitarrista brasiliense Lucas Fagundes.
Dono de um currículo que inclui coletâneas, vitórias em concursos nacionais patrocinados por revistas especializadas e a participação em uma edição da Expomusic, o jovem músico de 23 anos de idade chega ao seu 2º trabalho (levando em conta um CD-Demo lançado em 2005) apoiado em pilares de profissionalismo: o CD foi gravado e produzido em 3 estúdios diferentes de Brasília; a parte gráfica ficou por conta do onipotente Gustavo Sazes; e a prensagem se deu na CD+, em terras cearenses. O CD ainda conta com as participações de Marcelo Barbosa e Eduardo Ardanuy (guitarras); Michel Marciano (baixo); e Bruninho Gafanhoto (percussão).
E quando apertei o play em "Lucas Fagundes", o que senti foi um músico juntando técnica e virtuosismo a serviço do bom senso. "Soltando os cachorros", faixa de abertura do trabalho, traz Lucas trabalhando um solo cristalino em cima de uma base carregada. "Viagem", com sua introdução que me jogou em cenários rústicos e sofisticados, remete a um clima sonoro mais leve - porém não menos consistente. Em "20 dias", um tema de apenas 53 segundos que prepara terreno para a nervosa "Naquela Noite", o timbre da guitarra de Lucas me fez lembrar Vernon Reid (guitarrista do Living Colour). Outro destaque digno de nota é "Gone", que com seu arranjo cadenciado encarna as desilusões e as incertezas que permeiam o momento do adeus. Ao ouvir a pulsante "Shade Of Rust", tema que encerra o CD, fiquei com a impressão de que ela cairia muito melhor como faixa de abertura (mas isso é apenas uma opinião estritamente pessoal, que em nada afeta o competente trabalho de Lucas).
Seria injusto terminar este review sem dar o devido destaque às excelentes linhas melódicas idealizadas pelo baixista Giovanni Sena. Sem jamais buscar holofotes para si, Sena consegue criar muito mais do que simplesmente uma cama sonora para a guitarra de Lucas Fagundes. Ouça "Down On The Farm" e você vai me dar razão. Fechando este power-trio temos o competente André Cabelo no comando da bateria, mostrando maturidade suficiente para nunca ceder à tentação de injetar firulas (encontradas com facilidade em trabalhos instrumentais) em qualquer uma das 9 faixas do trabalho. O recado nem poderia ser mais claro: o trabalho coletivo precisa se sobrepor a qualquer tentativa de virtuosismo individual, pois só assim a música será - de fato - o destaque.
Encerro com uma recomendação simples: ouça no volume máximo!
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