Ministry: quebrando paradigmas e influenciando
Resenha - Rantology - Ministry
Por Maurício Dehò
Postado em 25 de dezembro de 2007
Nota: 8
Para que serve uma coletânea? Encher o bolso das gravadoras, aumentar o número de itens para colecionadores ou traçar um panorama que apresente a obra de um artista para atrair possíveis novos fãs? Todas as alternativas estão corretas, mas, neste caso, encaixei-me na última delas para fazer esta resenha e ver se "Rantology", do Ministry, cumpre um dos seus papéis mais fundamentais. Após ouvir (e curtir!) nomes como o Rammstein, por exemplo, que trilha pelo Metal Industrial, acabei finalmente me deparando com o grupo que é pai do estilo, liderado por Al Jourgensen. Tarefa difícil, até pelo fato de ser uma celebração dos 25 anos do Ministry.
Aperto o play e sou mais do que bem recepcionado por "No W", do disco "House of the Molé", de 2004. De cara se percebe porque a fórmula do Metal Industrial deu tão certo. Os samplers são bem encaixados, sempre incluindo trechos de discursos políticos (e que fixação pela Família Bush! No disco, todas as faixas, exceto essa, começam com ‘W’), mas, mais do que tudo, mantendo o peso e a sujeira que fazem do Heavy Metal o que ele é. E tudo funciona para criar um clima nas faixas. Nesta se destacam partes influenciadas pela música clássica, que deixaram a faixa com uma cara mais épica, junto com a batida veloz da bateria e excelentes riffs. O vocal também é todo rasgado, sempre cheio de efeitos, e "vomitado" por Al, com peso suficiente para deixar uma banda de Thrash de boca aberta.
Logo depois vem a então inédita "The Great Satan", depois lançada em "Rio Grande Blood". Curtinha, ela mantém essa pegada ‘Thrash-sujo-com-efeitos’, violenta e bem veloz, com mais citações a Bush filho. Impossível não sair cantando junto: "Get Out/Get Out".
Com "Wrong", já se saca totalmente qual é a do cara. Este cubano, descendente de espanhóis e holandeses e que foi acabar nos Estados Unidos, não veio para agradar ninguém. A produção segue suja, ainda mais nos vocais, e o que predomina são os agudos (no som em si, não na voz). A mensagem clara do malucão e ex-viciado é: "se você não agüenta, não escute" e, claro, para os criticados pelo Ministry, "agüentem a pressão"! Pois é, escute então "N.W.O.", do disco mais famoso, "Psalm 69", e tire as próprias conclusões. Ou o caso de "Bad Blood". Só pode ser para incomodar, com sua batida e seus samplers repetidos à exaustão. Para alguns, pode parecer um pouco Industrial demais, mas o cara simplesmente foi genial ao quebrar paradigmas do Metal e influenciar um sem número de bandas.
Bom, mas para não se ater muito a cada faixa, o disco como um todo apresenta o mesmo tipo de sonoridade, com certeza pelo fato de uma grande parte das faixas ter passado por uma nova mixagem, mas nada que pareça ter alterado muito. Alguns dos sons chamam a atenção, como "Warm City", baseada quase que só em uma batida de caixa, lembrando uma marcha militar, mas que depois de seus três minutos cansa um pouco. Uma boa e até engraçada é "Jesus Built My Hotrod", com vocais bem diferentes, com ainda mais efeito que em outros momentos. Já "Animosity" tem riffs à la Rammstein (claro que foi o Ministry quem influenciou os alemães, não vice-versa!), com aquela batida bem direta e riffs simples; "Unsung" vem recheada com gaitas de fole (tem som que incomoda mais do que gaitas de fole?) e vocais mais gritados; e "Bloodlines" conta com percussões e é um das mais calmas, se bem que muito experimental, encerrando as faixas de estúdio.
Por sinal, para quem não conhece o grupo, nada melhor do que poder ver como que as peripécias eletrônicas aliadas ao peso das guitarras funcionam em um show ao vivo, o que se confere nas três últimas músicas.
O som fica muito mais na cara ao vivo, com guitarras mais pesadas, mesmo que os samplers estejam presentes tal qual no disco. Fica, portanto, mais "ouvível" do que o restante do material, como se vê em "Psalm 69", gravada em Paris, ou na pesadona "Thieves", com trechos com um toque de hardcore. Já a estranha "The Fall" é impossível de tirar da cabeça, já que os últimos três minutos são de uma repetição, com a letra "Welcome to the Fall".
Mudando de assunto e falando na arte gráfica, a capa também representa exatamente o que se vê em Al Jourgensen: um cara que literalmente bota a boca no mundo. O disco, lançado no Brasil pela Dynamo, ainda tem um pouco da história da banda em seu encarte, bem simples.
Chegando ao fim dos 76 minutos da coletânea, conclui que sim, "Rantology" foi muito feliz em apresentar o que é o Ministry para quem ainda o desconhece. É claro que 76 minutos das bizarrices de Al e companhia podem ser uma experiência até intensa demais para quem não está acostumado. Mas fica, com certeza, a vontade de procurar mais da banda, desde seus primeiros discos, ainda na década de 80, até os mais novos, como "The Last Sucker", deste ano, até porque Al anunciou o fim das atividades do grupo... Mas alguém acredita muito que ele não achará alguém para atormentar após a saída de George W. Bush da Casa Branca? Veremos...
Track List:
1. No W (Redux) 4:14
2. The Great Satan 3:13
3. Wrong (Update Mix) 5:21
4. N.W.O. (Update Mix) 5:06
5. Stigmata (Update Mix) 5:09
6. Waiting (Christ In The USA Mix) 5:02
7. Warp City (Alt Mix) 4:01
8. Jesus Built My Hotrod (Update Mix) 5:52
9. Bad Blood (Alternate Mix) 5:25
10. Animosity (Alternate Mix) 4:36
11. Unsung (Alternate Mix) 3:43
12. Bloodlines 6:34
13. Psalm 69 (Live In Paris) 5:03
14. Thieves (Live In Seattle) 5:06
15. The Fall (Live In London) 8:04
Lançamento nacional – Dynamo Records
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